São Paulo, quarta-feira, 06 de abril de 2011

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ANÁLISE

Discussões acerca da orquestra foram conduzidas de forma inábil e desumana


HÁ O CASO DA OSESP, EMBORA JOHN NESCHLING TENHA NEGADO QUALQUER PARALELO DELE COM MINCZUK


JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma crise de proporções perigosas atingiu em 2002 a Orquestra Nacional da Espanha. De seus 122 postos, 83 eram ocupados por funcionários públicos de carreira, que se recusavam a fazer audições para serem recontratados segundo um regime mais flexível de trabalho.
A queda de braço entre a orquestra e o governo foi um dos motivos para que, em 1989, o maestro Jesús López Cobos deixasse a direção artística, cargo que ficou vago até 2003, quando Josep Pons assumiu segundo novas regras e iniciou a lenta reconstrução de um padrão artístico que havia se evaporado.
Simon Rattle assumiu a Sinfônica de Birmingham em 1980. De um conjunto provinciano, ela entrou no ranking das melhores europeias.
Mas teve um custo. Rattle, hoje titular da Filarmônica de Berlim, substituiu uma boa parte dos músicos.
Há também o caso brasileiro da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), embora John Neschling tenha negado, em seu blog, qualquer paralelo entre ele e o diretor artístico da OSB (Sinfônica Brasileira), Roberto Minczuk.
Mas em 1997 Neschling ceifou, por insuficiências, parte dos instrumentistas herdados do maestro Eleazar de Carvalho, morto em 1996.
Rattle e Neschling acabavam de assumir a direção de suas orquestras e tinham peso político para a tarefa cruel de demitir instrumentistas.
Quanto à OSB, a crise cresceu e se radicalizou com base num ponto de partida defensável -só os melhores deverão ficar-, mas que foi, no entanto, conduzida de forma inábil e desumana.
Além disso, apostando no enfraquecimento de Minczuk, candidatos à sua sucessão engrossaram o protesto.
Uma orquestra sinfônica precisa dar plano de carreira e aposentadoria suplementar. Sem isso, demissões significam a rua da amargura. Mas uma orquestra não é tampouco uma instituição filantrópica feita para dar emprego aos seus músicos.
Nada contra a postura sindical. Dois exemplos: em 1999, a Sinfônica de Toronto fez greve por 74 dias contra o corte de salários. E em Detroit a sinfônica local faz o mesmo desde novembro em razão do corte de 25% dos salários dos mais velhos.


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