São Paulo, quarta-feira, 06 de abril de 2011

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OPINIÃO

Banda é uma das poucas com fôlego para emplacar carreira significativa

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Win Butler, do Arcade Fire, descreveu o mais recente álbum da banda, "The Suburbs", como "uma mistura de Depeche Mode e Neil Young". Só não mencionou o ingrediente que parece nortear o Arcade Fire: The Cure.
Como a cultuada banda de Robert Smith, o Arcade Fire faz música atormentada por dentro e açucarada por fora. Rock gótico de arena.
O grupo tem sensibilidade pop que apela às rádios, enquanto as letras angustiadas fazem a cabeça de jovens sensíveis que passam os dias trancados no quarto, tentando fazer sentido daqueles lamentos. Uma combinação imbatível. Smith e Morrissey que o digam.
Outra semelhança com The Cure: o Arcade Fire passou de celebridade indie a banda de arena sem fazer concessões comerciais e sem mudar seu estilo.
Das bandas surgidas nos últimos cinco ou seis anos, é a única que parece ter fôlego e talento para emplacar uma carreira longa e significativa.
Goste ou não do Arcade Fire, não dá para negar: é uma banda com ambição e discos relevantes. E, quando a música tem se tornado uma comodidade descartável, isso é um grande feito.
O grupo transforma qualquer tema lúgubre em celebração. Sua música tem um senso de dinâmica cheio de altos e baixos. Rock com clima e clímax. Coisa rara hoje.
Cada disco da banda tem um tema dominante.
"Funeral" (2004), como o nome diz, foi inspirado pela morte de diversos parentes e amigos. "Se as crianças não crescem / Nossos corpos crescem, mas nossos corações se despedaçam", canta o grupo em "Wake Up".
O segundo disco, "Neon Bible" (2007), foi mais ambicioso: parece uma ópera gótica pós-11 de Setembro sobre um mundo em desequilíbrio. A faixa de abertura, "Black Mirror", já dá uma ideia da desesperança: "Eu caminhei para o oceano / depois de acordar de um pesadelo / não havia lua / nem reflexo pálido / espelho negro".
Já "The Suburbs" é mais acessível, mas tão pessimista quanto "Neon Bible". Trata do tédio da classe média, dos subúrbios cada vez mais padronizados. Um disco cheio de nostalgia pela infância.
"Suburban Wars" (guerras suburbanas), uma das melhores faixas, dá o tom: "E meus velhos amigos / Lembro quando você cortou seu cabelo / nós nunca mais te vimos / Agora, as cidades em que vivemos / Podem ser estrelas distantes / E eu procuro por você / Em cada carro que passa".
Que adolescente não se identifica com isso?


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