São Paulo, segunda, 6 de abril de 1998

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TEATRO
Peça reconstrói imagem do líder negro Huey P. Newton

JOHN VEIT
especial para a Folha,de Nova York

Ministro da Defesa do Partido de Autodefesa Panteras Negras, Huey P. Newton se tornou célebre por criticar o governo norte-americano por sua estrutura de poder racista, exigir que os negros nos EUA se erguessem, se defendessem contra a brutalidade da polícia e ajudassem suas próprias comunidades -tudo isso por meio de programas matinais para crianças e adolescentes e revitalização urbana de seus bairros.
O ator Roger Guenvere Smith apresentou, três vezes no último fim-de-semana, a peça "A Huey P. Newton Story" no Schomburg Center, no Harlem (NY).
No ano passado a peça ficou quatro meses em cartaz no Public Theater, tendo recebido vários prêmios, incluindo dois Obie e três prêmios Image Award da National Association for the Advancement of Colored People (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor).
Para escrever a peça, Smith teve acesso exclusivo a gravações de discursos e entrevistas de Newton, artigos, fotos e escritos que estavam acumulando pó no porão da casa da viúva de Newton. Smith e o diretor musical, Marc Anthony Thompson, usam várias partes das fitas para ilustrar momentos na peça, quando a vida e a trágica morte de Newton são relatadas desde reuniões dos Panteras Negras, estúdios de televisão, celas de cadeia e as ruas de Oakland, onde Newton morreu, em 1989, baleado numa disputa em torno de crack.
"Conheci Huey como a maioria das pessoas o conheceram -como uma imagem de pôster, uma coisa unidimensional. O sujeito sentado numa cadeira de vime, com uma lança numa mão e um fuzil na outra", explicou Smith à Folha em seu apartamento no bairro do Brooklyn.
"Eu quis penetrar por trás dessa imagem unidimensional. Meu desejo é que quando essas imagens, como a de Malcolm X com seu fuzil ou de Martin Luther King Jr. no Lincoln Memorial, se tornarem onipresentes, elas estimulem uma geração a querer saber mais sobre aquela pessoa ou movimento."
Não é de hoje que Smith trabalha em filmes e peças com temática negra. Ele representou um agente do FBI em "Panther" e fez papéis coadjuvantes em "Faça a Coisa Certa", "Malcolm X" e "School Daze", de Spike Lee.
Também já fez outros espetáculos solo, incluindo um em que colocava Cristóvão Colombo nas ruas de Los Angeles durante os tumultos de 1992 e outro retratando a vida do escritor e abolicionista americano Frederick Douglass.
Esses espetáculos e outros compromissos futuros durante uma turnê que fará pelos EUA e Europa no outono serão filmados por Spike Lee, que concordou em fazer um filme sobre Huey P. Newton usando imagens de arquivo e outras produzidas em estúdio.
A peça utiliza música intercalada com as vozes gravadas de jornalistas, comentaristas na mídia, a mãe de Newton e o pastor que oficiou em seu enterro. Uma música que se repete várias vezes é o tema do filme "Black Orpheus", um dos favoritos de Newton, porque mostra como transmitir uma herança às gerações mais jovens.
"Newton deixou um legado de trabalho", diz Smith. "Uma autobiografia -'Revolutionary Suicide' (Suicídio Revolucionário)-, uma coletânea de escritos e discursos -'To Die for the People' (Morrer pelo Povo)- e as dissertações sobre a guerra travada pelo FBI aos Panteras Negras, que escreveu para o doutorado na Universidade da Califórnia. Todos esses elementos foram extensamente usados na redação desta peça."


Tradução Clara Allain

Peça: A Huey P. Newton Story (solo)
Com: Roger Guenvere Smith Onde: Schomburg Center for Research in Black Culture (515 Malcolm X Bvd., Nova York, NY), tel. (001-212) 491-2206/2200 Quanto: US$ 15


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