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TEATRO
Peça reconstrói imagem do
líder negro Huey P. Newton
JOHN VEIT
especial para a Folha,de Nova York
Ministro da Defesa do Partido de
Autodefesa Panteras Negras,
Huey P. Newton se tornou célebre
por criticar o governo norte-americano por sua estrutura de poder
racista, exigir que os negros nos
EUA se erguessem, se defendessem contra a brutalidade da polícia e ajudassem suas próprias comunidades -tudo isso por meio
de programas matinais para crianças e adolescentes e revitalização
urbana de seus bairros.
O ator Roger Guenvere Smith
apresentou, três vezes no último
fim-de-semana, a peça "A Huey P.
Newton Story" no Schomburg
Center, no Harlem (NY).
No ano passado a peça ficou
quatro meses em cartaz no Public
Theater, tendo recebido vários
prêmios, incluindo dois Obie e
três prêmios Image Award da National Association for the Advancement of Colored People (Associação Nacional para o Progresso
das Pessoas de Cor).
Para escrever a peça, Smith teve
acesso exclusivo a gravações de
discursos e entrevistas de Newton,
artigos, fotos e escritos que estavam acumulando pó no porão da
casa da viúva de Newton. Smith e o
diretor musical, Marc Anthony
Thompson, usam várias partes das
fitas para ilustrar momentos na
peça, quando a vida e a trágica
morte de Newton são relatadas
desde reuniões dos Panteras Negras, estúdios de televisão, celas de
cadeia e as ruas de Oakland, onde
Newton morreu, em 1989, baleado
numa disputa em torno de crack.
"Conheci Huey como a maioria
das pessoas o conheceram -como uma imagem de pôster, uma
coisa unidimensional. O sujeito
sentado numa cadeira de vime,
com uma lança numa mão e um
fuzil na outra", explicou Smith à
Folha em seu apartamento no
bairro do Brooklyn.
"Eu quis penetrar por trás dessa
imagem unidimensional. Meu desejo é que quando essas imagens,
como a de Malcolm X com seu fuzil ou de Martin Luther King Jr. no
Lincoln Memorial, se tornarem
onipresentes, elas estimulem uma
geração a querer saber mais sobre
aquela pessoa ou movimento."
Não é de hoje que Smith trabalha
em filmes e peças com temática
negra. Ele representou um agente
do FBI em "Panther" e fez papéis
coadjuvantes em "Faça a Coisa
Certa", "Malcolm X" e "School
Daze", de Spike Lee.
Também já fez outros espetáculos solo, incluindo um em que colocava Cristóvão Colombo nas
ruas de Los Angeles durante os tumultos de 1992 e outro retratando
a vida do escritor e abolicionista
americano Frederick Douglass.
Esses espetáculos e outros compromissos futuros durante uma
turnê que fará pelos EUA e Europa
no outono serão filmados por Spike Lee, que concordou em fazer
um filme sobre Huey P. Newton
usando imagens de arquivo e outras produzidas em estúdio.
A peça utiliza música intercalada
com as vozes gravadas de jornalistas, comentaristas na mídia, a mãe
de Newton e o pastor que oficiou
em seu enterro. Uma música que
se repete várias vezes é o tema do
filme "Black Orpheus", um dos
favoritos de Newton, porque mostra como transmitir uma herança
às gerações mais jovens.
"Newton deixou um legado de
trabalho", diz Smith. "Uma autobiografia -'Revolutionary Suicide' (Suicídio Revolucionário)-,
uma coletânea de escritos e discursos -'To Die for the People'
(Morrer pelo Povo)- e as dissertações sobre a guerra travada pelo
FBI aos Panteras Negras, que escreveu para o doutorado na Universidade da Califórnia. Todos esses elementos foram extensamente usados na redação desta peça."
Tradução
Clara Allain
Peça: A Huey P. Newton Story (solo)
Com: Roger Guenvere Smith
Onde: Schomburg Center for Research in
Black Culture (515 Malcolm X Bvd., Nova
York, NY), tel. (001-212) 491-2206/2200
Quanto: US$ 15
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