São Paulo, sexta-feira, 06 de maio de 2005

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SEMINÁRIO

Diretor fez palestra na abertura de evento sobre "Estética da Periferia", que termina hoje em universidade carioca

No Rio, Solanas critica mídia e Hollywood

RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO

Para o cineasta argentino Fernando Solanas, 69, a TV é simultaneamente responsável pelo espaço que os cinemas nacionais perdem em relação a Hollywood e pela crise econômica por que passou o seu país no início desta década. "Estamos diante da falácia da democracia midiática."
A idéia foi exposta durante sua conferência sobre cinema e política, acompanhada por cerca de 50 pessoas, que inaugurou anteontem o seminário "Estética da Periferia", na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O evento tem por objetivo discutir a produção cultural das regiões pobres das grandes cidades brasileiras.
Vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim do ano passado pelo conjunto da obra, Solanas afirmou que a política econômica "neoliberal" implementada na Argentina na década de 90 só pôde vingar por causa da "lavagem cerebral" feita pelos meios de comunicação de massa em favor do receituário do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Ele disse que "respeitáveis jornalistas, comunicadores, bonitas mulheres, todos com grande capacidade de sedução" foram os atores de uma "campanha publicitária lançada como bombardeio em cadeia por meio do rádio e da TV": "Nos anos 90, nos meios de comunicação, era impossível questionar o modelo".
Ele tratou a TV como "o mais extraordinário instrumento de formação -ou deformação- dos modelos civilizatórios". "Temos sociedades altamente midiáticas. As grandes maiorias não lêem os jornais", declarou.
No caso da crise argentina, disse que os meios de comunicação criaram uma "cultura da resignação e da derrota", que provocou, por mais de uma década, "um sentimento profundo de que a realidade não podia ser mudada".
Sobre o cinema, a relação é a seguinte: para Solanas, a TV é "o maior circuito de filmes" que há e forma, assim, "o gosto do espectador de cinema". O problema, para ele, é que, como no caso econômico, só um modelo é apresentado nesse circuito. O hollywoodiano.
"O espectador [de cinema] é o mesmo que todo dia vê TV -e ele já está acostumado a certo tipo de corte. Os canais estão saturados de filmes americanos."
Para ele, o modelo é redutor. "O cinema de Hollywood responde a uma estrutura de causa e efeito. Não há "cinzas". É sempre a luta do bem contra o mal, do assassino contra o justiceiro."


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