São Paulo, quarta-feira, 06 de maio de 2009

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Crítica/"Dolores Duran - Entre Amigos"

Gravações inéditas mostram a versátil cantora Dolores Duran

Intérprete vai do scat de Ella Fitzgerald à intimidade com o samba de Billy Blanco

Agência O Dia
A cantora Dolores Duran durante uma de duas apresentações

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

A morte precoce de Dolores Duran, aos 29 anos, cortou uma carreira de cantora antes que ela atingisse seu ápice. Dolores deixou pouco mais de cem gravações, e a posteridade a consagrou exclusivamente como compositora -o que também se compreende pela força de suas canções.
O CD de gravações inéditas que a Biscoito Fino está lançando cumpre o papel de restaurar parte da força que ela tinha como intérprete. A qualidade dos registros caseiros não é a ideal, mas neles está a potência e versatilidade da voz de Dolores.
Dez faixas foram retiradas de uma fita de rolo usada para gravar um sarau na casa do diretor de TV Geraldo Casé, em 1958 ou 1959. O acompanhamento é luxuoso: Baden Powell (violão), Manoel da Conceição, o Mão de Vaca (violão e guitarra), e Chiquinho do Acordeom.
As três faixas-bônus, em estado bem pior, foram cantadas na casa de Raul e Helenita Marques de Azevedo, avós de Marisa Monte, em 1949. Jacques Klein (piano) e Billy Blanco (violão) a acompanham.
Quem descobriu o material foi a jornalista Angela de Almeida, que prepara uma biografia de Dolores, que sairá, se obtiver patrocínio, em 2010, quando a autora de "A Noite do Meu Bem" faria 80 anos.
Predomina no CD seu lado crooner, o que ela foi em toda a vida profissional. Seu nome artístico, inclusive, foi criado -em substituição a Adiléia da Silva Rocha- para as apresentações em boates cariocas.
A intérprete de standards americanos aparece em seis faixas, mas com nuances entre elas. Na primeira, "How High the Moon", ela faz scats e modulações à moda de Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan. Em "Cry me a River", canta com a suavidade de uma Julie London, com Baden fazendo as vezes de Barney Kessel.
Em "Makin" Whoopee" e "Cheek to Cheek", mostra um balanço que atesta como ela era versátil, não sendo apenas uma cantora romântica, como podem supor os que só conhecem sua porção compositora.

Mais perto do samba
Talvez parte desse balanço venha da sua intimidade com os sambas, em especial os de Billy Blanco, de quem gravou vários, entre eles "A Banca do Distinto" -depois gravado por sua fã Elis Regina.
Ela cantando o sincopado "Mocinho Bonito" é um dos destaques do CD. De Blanco também canta os sambas-canção "Coisa Mais Triste" e "Praça Mauá", mas a versão deste, de 1949, ainda é a de uma intérprete imatura, diferente da que faria sucesso com a mesma música seis anos -quando começou a compor, aliás.
A dramaticidade em "Neste Mesmo Lugar", a levada já bossa nova de "Marca na Parede" e o uso da extensão vocal em "Over the Rainbow" reforçam a capacidade que Dolores tinha de transitar por várias áreas. Este CD prova que, como cantora, ela poderia ter ido além do que o tempo permitiu.


DOLORES DURAN

Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 32, em média
Avaliação: bom



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