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Crítica/"Policarpo"
Protagonista arrebata público com segurança
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
O
teatro e a literatura se
atraem e se estranham.
"Policarpo Quaresma"
justapõe a linguagem cênica
consagrada por Antunes Filho
ao mais famoso romance de Lima Barreto (1881-1922) sem alcançar uma síntese superior.
A prosa irônica do escritor
corre em paralelo à cena fluente do encenador e não chega a
ocorrer uma fusão plena.
Verdade que há momentos
brilhantes, em que o livro se
transmuta em matéria cênica e
supera essa dicotomia. Mas, no
geral, sem prejuízo do esforço
coletivo do Centro de Pesquisa
Teatral (CPT) em mais uma
realização de mérito, fica
aquém de outras transposições
de grandes romances feitas por
Antunes Filho.
No trato com "Triste Fim de
Policarpo Quaresma", já não há
a surpresa de "Macunaíma"
(1978), que demarcou uma inflexão na sua trajetória pelas
três décadas seguintes, nem a
retomada daquele estilo inaugural, como em "A Pedra do
Reino" (2006). Há, sim, a confirmação de uma fórmula que,
como tal, carrega o ônus da redundância.
Ali estão os movimentos
transversais do coro aglomerado no palco vazio, os guarda-chuvas e ricos adereços pontuais, o farsesco que beira o sublime, os solos surpreendentes
e a trilha sonora eloquente.
Por um lado, é belo perceber
um grande artista confirmando
suas marcas. Por outro, há o reconhecimento de uma teatralidade datada e que, se ainda impacta, se revela em vias de se esgotar.
Adaptação
A dramaturgia, assinada por
Antunes, é outro problema.
Durante dois terços do espetáculo, que coincidem com a primeira e segunda partes do romance, a adaptação é feliz, pois,
sem desperdiçar quase nada,
alcança leveza e fluidez notáveis, transformando em cenas
luminosas os quadros que Lima
Barreto traçou da vida suburbana do Rio de Janeiro do fim
do século 19.
Na parte final, porém, que inclui todo o conturbado período
pós-Proclamação da República
e da chamada "Revolta da Armada", o livro parece pesar sobre a encenação. Incumbida da
narrativa, ela patina e se arrasta. Isso, talvez, pela dificuldade
de focar, na consciência do herói quixotesco, o fim de suas
ilusões, principalmente com o
regime militar, o que a prosa literária fez com minúcia.
A compensar esses problemas, ressalte-se a composição
de Lee Thalor para Quaresma,
personagem de espírito puro,
cujo patriotismo doentio e integridade radical levam-no à
perdição.
Seguro e senhor do jogo teatral, Thalor, que estreou no
CPT em "A Pedra do Reino",
volta a criar uma interpretação
virtuosa que arrebata o público,
como no sapateado ao som do
Hino Nacional. Colabora nesse
êxito um coro de 21 intérpretes,
de onde despontam os outros
personagens da trama.
Outro destaque são os figurinos de Rosângela Ribeiro. Com
uma base em preto e branco,
elementos como a bandeira
brasileira e outros detalhes
cromáticos sobressaem intensamente e conspiram para o
deslumbre visual
A pena é que, a despeito desses sucessos, em "Policarpo
Quaresma" o teatro não se
emancipa plenamente da literatura, como Antunes já conseguira outrora. Aqui o romance
lhe pesa mais do que o liberta.
POLICARPO QUARESMA
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às
19h; até 6/6
Onde: Sesc Consolação - teatro Sesc
Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel.
0/xx/11/3234-3000)
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Classificação: 12 anos
Avaliação: bom
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