São Paulo, quarta, 6 de maio de 1998

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Coplans questiona evolução do ser com nus esculturais

ANA MARIA GUARIGLIA
free-lance para a Folha

O inglês John Coplans dedicou sua vida toda à pintura. Chegou aos EUA em 1960, atraído pela atividade dos expressionistas abstratos, participando ativamente dos debates com os artistas Harold Rosenberg e De Kooning.
Em 1963, depois de fundar a "Artforum", uma das mais polêmicas revistas de arte norte-americanas, resolveu apoiar a obra de Andy Warhol, fato que horrorizou os professores da Universidade de Berkeley e acabou custando seu emprego.
Foi curador de várias exposições e diretor da Art Gallery, The Pasadena Art Museum e do Akron Art Museum.
Depois de tantas andanças pelo mundo das artes, ao completar 60 anos Coplans deu uma guinada em suas atividades artísticas.
Entrou de corpo e alma na fotografia para produzir o ensaio fotográfico "Um Auto-Retrato", que ele inaugura hoje no Paço das Artes, em São Paulo.
Coplans contou que teve um sonho e, como "Alice no País das Maravilhas", mergulhou no espelho do tempo para visitar seus ancestrais.
Resolveu então questionar a condição de ser, usando o corpo nu como fonte de inspiração.
Com filmes Polaroid, os cliques revelaram instantaneamente as imagens mentais, aliadas a uma espécie de exercício geométrico.
No sábado passado, em São Paulo, Coplans, 77, falou à Folha e, com o peculiar humor britânico, disse que suas fotos "não têm exatamente o tipo de imagem que os colecionadores gostariam de pendurar acima do sofá".

Folha - Por que o sr. usou a fotografia e não a pintura para realizar seus auto-retratos?
John Coplans -
O que tem constantemente acontecido em minha vida é a mudança. É uma situação permanente. Se tivesse escolhido a pintura, eu não teria conseguido os efeitos desejados, como a expressão sorridente da minha mão ou a figura da Vênus moldada pelo meu corpo.
Quero surpreender as pessoas e a fotografia me dá essa possibilidade.
Folha - Embora afirme não ser fotógrafo, o sr. possui uma técnica.
Coplans -
Nenhuma. Uso filmes Polaroid encaixados em uma velha câmera vitoriana.
Posso ver os resultados em 30 segundos e obtenho bons negativos. Para quem não gosta de laboratórios e dos produtos químicos é uma mão na roda. Com os negativos, faço ampliações do tamanho que quiser.
Folha - E como o sr. se define em relação aos movimentos artísticos deste final de século?
Coplans -
Minha fotografia é inspirada pela pintura abstrata e o que represento é o espírito da evolução do ser humano. Não posso definir nada porque sou meio antiquado, passo a maior parte do tempo em meu estúdio e não costumo frequentar exposições. Não me atraem. Talvez uma ou outra, como a de Cindy Sherman, que tem um magnífico trabalho.


Exposição: John Coplans: Um Auto-Retrato (1984-1997) Onde: Paço das Artes/USP (av. da Universidade, 1, tel. 011/813-3627) Quando: hoje, às 20h; seg a sex, das 13h às 20h; sáb, das 10h às 14h; até 13 de junho Quanto: entrada franca Palestra: John Coplans comenta seu trabalho (auditório do Paço, hoje, às 19h)


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