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Coplans questiona evolução do ser com nus esculturais
ANA MARIA GUARIGLIA
free-lance para a Folha
O inglês John Coplans dedicou
sua vida toda à pintura. Chegou
aos EUA em 1960, atraído pela atividade dos expressionistas abstratos, participando ativamente dos
debates com os artistas Harold
Rosenberg e De Kooning.
Em 1963, depois de fundar a
"Artforum", uma das mais polêmicas revistas de arte norte-americanas, resolveu apoiar a obra de
Andy Warhol, fato que horrorizou
os professores da Universidade de
Berkeley e acabou custando seu
emprego.
Foi curador de várias exposições
e diretor da Art Gallery, The Pasadena Art Museum e do Akron Art
Museum.
Depois de tantas andanças pelo
mundo das artes, ao completar 60
anos Coplans deu uma guinada
em suas atividades artísticas.
Entrou de corpo e alma na fotografia para produzir o ensaio fotográfico "Um Auto-Retrato", que
ele inaugura hoje no Paço das Artes, em São Paulo.
Coplans contou que teve um sonho e, como "Alice no País das
Maravilhas", mergulhou no espelho do tempo para visitar seus ancestrais.
Resolveu então questionar a
condição de ser, usando o corpo
nu como fonte de inspiração.
Com filmes Polaroid, os cliques
revelaram instantaneamente as
imagens mentais, aliadas a uma
espécie de exercício geométrico.
No sábado passado, em São Paulo, Coplans, 77, falou à Folha e,
com o peculiar humor britânico,
disse que suas fotos "não têm exatamente o tipo de imagem que os
colecionadores gostariam de pendurar acima do sofá".
Folha - Por que o sr. usou a fotografia e não a pintura para realizar
seus auto-retratos?
John Coplans - O que tem constantemente acontecido em minha
vida é a mudança. É uma situação
permanente. Se tivesse escolhido a
pintura, eu não teria conseguido
os efeitos desejados, como a expressão sorridente da minha mão
ou a figura da Vênus moldada pelo
meu corpo.
Quero surpreender as pessoas e a
fotografia me dá essa possibilidade.
Folha - Embora afirme não ser fotógrafo, o sr. possui uma técnica.
Coplans - Nenhuma. Uso filmes Polaroid encaixados em uma
velha câmera vitoriana.
Posso ver os resultados em 30 segundos e obtenho bons negativos.
Para quem não gosta de laboratórios e dos produtos químicos é
uma mão na roda. Com os negativos, faço ampliações do tamanho
que quiser.
Folha - E como o sr. se define em
relação aos movimentos artísticos
deste final de século?
Coplans - Minha fotografia é
inspirada pela pintura abstrata e o
que represento é o espírito da evolução do ser humano. Não posso
definir nada porque sou meio antiquado, passo a maior parte do
tempo em meu estúdio e não costumo frequentar exposições. Não
me atraem. Talvez uma ou outra,
como a de Cindy Sherman, que
tem um magnífico trabalho.
Exposição: John Coplans: Um
Auto-Retrato (1984-1997)
Onde: Paço das Artes/USP (av. da
Universidade, 1, tel. 011/813-3627)
Quando: hoje, às 20h; seg a sex, das 13h às
20h; sáb, das 10h às 14h; até 13 de junho
Quanto: entrada franca
Palestra: John Coplans comenta seu
trabalho (auditório do Paço, hoje, às 19h)
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