São Paulo, quarta, 6 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RETROSPECTIVA
O mais importante arquiteto de casas dos EUA vem pela primeira vez ao Brasil e dá aula magna na Faap
Jacobsen expõe 40 anos de trabalho

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

Hugh Newell Jacobsen, o mais importante arquiteto de casas dos EUA, faz sua primeira viagem ao Brasil, para inaugurar em São Paulo, na Faap, no dia 12, a primeira retrospectiva de seus 40 anos de trabalho.
No dia 13, às 16h, dá aula magna para professores, alunos de arquitetura e convidados da Faap.
No seu elegante escritório em Georgetown, na capital dos EUA, Jacobsen passou as últimas semanas devorando livros a respeito do Brasil. "É constrangedor como nós, gringos, conhecemos pouco sobre o seu país", disse ele em entrevista exclusiva à Folha.
Após desfiar alguns dos conhecimentos adquiridos, como o fato de o território brasileiro ser maior do que o dos EUA continentais (sem incluir o Alasca), Jacobsen se diz "muito honrado" com a distinção que a Fundação Armando Álvares Penteado lhe fez (Faap).
Preocupado com a proximidade do vernissage e com o pouco tempo que terá para pôr tudo em ordem, Jacobsen não perde o otimismo: "Nós produzimos uma mostra muito bonita, variada, para ser uma exposição arquitetônica, não apenas fotográfica. Espero que funcione e o público goste".
A retrospectiva de São Paulo (que depois será mostrada em Washington) é a primeira exibição do trabalho de Jacobsen fora dos EUA. Antes, ele fez três mostras bem-sucedidas, todas nos EUA.
Jacobsen, 69, faz parte do que os críticos chamam de "constelação de archestars" (constelação de arquitetos-estrelas) do país, ao lado de outros como Peter Eisenman, Frank O. Gehry e Jordan Mozer.
Todos eles têm em comum, além do talento, uma preocupação social, que os fez ajudar um colega, Stanley Tigerman, a fundar uma escola sem fins lucrativos em Chicago, onde estudantes de arquitetura tentam conhecer e resolver problemas ligados a habitações populares e casas equipadas para a moradia de pessoas idosas e doentes.
Embora nunca tenha estado no Brasil e diga conhecer tão pouco sobre o país, Jacobsen é há muito um admirador da arquitetura brasileira, com a qual tomou contato no início da década de 50, quando fazia pós-graduação.
"Quando vi aquelas fotos, senti que uma flor, repentina e fascinante, estava desabrochando na América Latina. Meu Deus, como aquilo era lindo!", diz ele, em referência ao trabalho de Oscar Niemeyer e Roberto Burle Marx.
Jacobsen disse que a arquitetura brasileira daquela época teve "uma profunda influência sobre o mundo inteiro, que jamais irá morrer", similar à da arquitetura sueca da década de 30.
Para Jacobsen, não há uma explicação econômica ou social para o surgimento dessas escolas arquitetônicas tão marcantes em dois ambientes tão distintos quanto Brasil e Suécia.
"Eu não posso explicar por que essas coisas acontecem ou por que elas deixam de acontecer", disse, sobre o declínio criativo da arquitetura brasileira verificado nos últimos anos.
Mas ele arrisca um palpite: "As coisas começam a andar mal quando uma sociedade resolve se grudar a alguma coisa assim chamada de estilo. Estilo não tem nada a ver com arquitetura. Uma boa arquitetura nunca se preocupa em estilo, mas sim em como resolver problemas. Estilo é coisa criada por críticos para impressionar".
Embora boa parte das 200 casas que construiu tenha sido muito cara, Jacobsen acha que "quando você tem menos dinheiro, você tem melhor arquitetura porque é necessário mais talento para conseguir superar as dificuldades".
Há exceções, quando dinheiro resulta em bom gosto. Uma delas, na sua opinião, é a Inglaterra vitoriana, onde "um bando de novos ricos precisou construir uma imagem positiva e investiu muito, com resultados estéticos".
As casas de Jacobsen são sempre simples e originais. Ele se dá ao luxo de escolher clientes. "Quando você tem um cliente ruim, você não vai se divertir, a coisa não vai dar certo. Você não pode conceber uma casa boa para um rato".
Para Jacobsen, a escolha de um arquiteto deve ser tão cuidadosa quanto a de um médico. "Construir uma casa é muito mais difícil do que construir uma torre."

Exposição: Hugh Newell Jacobsen Quando: dia 12, 20h (para convidados); de 13 a 31 de maio, das 10h às 20h Onde: Salão Cultura da Faap (r. Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo, tel. 011/3662-1662); grátis


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.