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MÚSICA
Grupo de percussionistas acompanhou Jorge Ben em shows e discos dos 60 e 70; integrante toca com Bebel Gilberto
Trio Mocotó prepara álbum após 27 anos
DA REPORTAGEM LOCAL
João Parahyba, percussionista
que trabalhou com Suba por dez
anos e está em quatro faixas do
disco de Bebel Gilberto, tem história para contar. Acaba de reunir
seu grupo original, o Trio Mocotó, que acompanhou Jorge Ben
(hoje Ben Jor) em gravações cruciais como "País Tropical" (69).
Em negociação com gravadoras
de pequeno porte, o Trio Mocotó
promete para o início do segundo
semestre o primeiro álbum desde
1973 a reunir os três integrantes
originais, o paulistano Parahyba,
50, e os cariocas Nereu Gargalo de
Ouro, 55, e Fritz Escovão, 57. A
produção deve ser do americano
nascido brasileiro Mario Caldato
Jr. (produtor dos Beastie Boys e fã
confesso de Ben) e do paulista Bid
(do grupo Funk Como le Gusta).
"O samba-funk e o samba-rock
voltaram à moda. Todo o "crioléu"
de São Paulo conhece muito Fritz
e Nereu, e eu passei a me relacionar com DJs, com gente do tecno
e do hip hop. Era a hora de voltar", justifica Parahyba.
Seguindo modelo já banalizado,
enquanto isso não acontece, os
dois álbuns gravados pelo trio de
percussionistas, "Muita Zorra!"
(71) e "Trio Mocotó" (73), são fartamente pirateados em CD na Inglaterra e, bem menos, no Brasil.
Um outro produto, pirata segundo o trio, também circula
aqui: é "Trio Mocotó", gravado e
lançado em 1975 só na Itália (Parahyba havia então abandonado o
grupo), que a Movieplay reeditou
em 99. O Mocotó move processo
contra a gravadora por não ter sido consultado.
O Trio Mocotó e Jorge Ben se
conheceram em 68, na boate Jogral, no centro de São Paulo, onde
os primeiros tocavam e o segundo
dava canjas. Na sequência, o trio
participou com Jorge do Festival
Internacional da Canção de 69,
com "Charles, Anjo 45" -vaia fenomenal, segundo eles.
Gravaram com Ben algumas faixas de "Jorge Ben" (69), "Força
Bruta" inteiro ("foi tudo gravado
em uma noite, ao vivo; a fita master não tem nenhuma música de
menos de sete minutos, meu sonho é relançar como era", diz Parahyba) e algumas de "Negro É
Lindo" (71), para então iniciar
carreira "solo", sempre em tempo
de samba-rock.
"Jorge Ben não fazia esse som
samba-rock. Antes de vir para São
Paulo, ele era samba-bossa. Nós
criamos isso para ele", afirma Parahyba. Algum desconforto
quanto a isso? "Jorge nunca citou
nem nunca cita o Trio Mocotó.
Nós não brigamos, nem adeus a
gente deu. Quando o encontro,
ele finge não me ver." Aparente
mágoa à parte, a primeira faixa
gravada pelo trio na volta foi
"Adelita" (79), de Jorge Ben.
O trio se separou após haver trabalhado ainda com Marília Medalha, Toquinho e Vinicius de Moraes e acompanhado Chico Buarque em "Samba de Orly" (71).
Depois, cada um seguiu um rumo -Parahyba foi à indústria
têxtil, depois à música eletrônica;
Nereu administrou grupos de pagode; Fritz virou músico do hotel
Othon, no centro paulistano. "Se
o Trio Mocotó ganhou R$ 500 em
direitos autorais por tudo o que
gravou, foi muito. A Som Livre relançou o segundo LP e diz que nos
deve R$ 80", cita Parahyba. Ê,
Brasil.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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