São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2000


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MÚSICA
Grupo de percussionistas acompanhou Jorge Ben em shows e discos dos 60 e 70; integrante toca com Bebel Gilberto
Trio Mocotó prepara álbum após 27 anos

DA REPORTAGEM LOCAL

João Parahyba, percussionista que trabalhou com Suba por dez anos e está em quatro faixas do disco de Bebel Gilberto, tem história para contar. Acaba de reunir seu grupo original, o Trio Mocotó, que acompanhou Jorge Ben (hoje Ben Jor) em gravações cruciais como "País Tropical" (69).
Em negociação com gravadoras de pequeno porte, o Trio Mocotó promete para o início do segundo semestre o primeiro álbum desde 1973 a reunir os três integrantes originais, o paulistano Parahyba, 50, e os cariocas Nereu Gargalo de Ouro, 55, e Fritz Escovão, 57. A produção deve ser do americano nascido brasileiro Mario Caldato Jr. (produtor dos Beastie Boys e fã confesso de Ben) e do paulista Bid (do grupo Funk Como le Gusta).
"O samba-funk e o samba-rock voltaram à moda. Todo o "crioléu" de São Paulo conhece muito Fritz e Nereu, e eu passei a me relacionar com DJs, com gente do tecno e do hip hop. Era a hora de voltar", justifica Parahyba.
Seguindo modelo já banalizado, enquanto isso não acontece, os dois álbuns gravados pelo trio de percussionistas, "Muita Zorra!" (71) e "Trio Mocotó" (73), são fartamente pirateados em CD na Inglaterra e, bem menos, no Brasil.
Um outro produto, pirata segundo o trio, também circula aqui: é "Trio Mocotó", gravado e lançado em 1975 só na Itália (Parahyba havia então abandonado o grupo), que a Movieplay reeditou em 99. O Mocotó move processo contra a gravadora por não ter sido consultado.
O Trio Mocotó e Jorge Ben se conheceram em 68, na boate Jogral, no centro de São Paulo, onde os primeiros tocavam e o segundo dava canjas. Na sequência, o trio participou com Jorge do Festival Internacional da Canção de 69, com "Charles, Anjo 45" -vaia fenomenal, segundo eles.
Gravaram com Ben algumas faixas de "Jorge Ben" (69), "Força Bruta" inteiro ("foi tudo gravado em uma noite, ao vivo; a fita master não tem nenhuma música de menos de sete minutos, meu sonho é relançar como era", diz Parahyba) e algumas de "Negro É Lindo" (71), para então iniciar carreira "solo", sempre em tempo de samba-rock.
"Jorge Ben não fazia esse som samba-rock. Antes de vir para São Paulo, ele era samba-bossa. Nós criamos isso para ele", afirma Parahyba. Algum desconforto quanto a isso? "Jorge nunca citou nem nunca cita o Trio Mocotó. Nós não brigamos, nem adeus a gente deu. Quando o encontro, ele finge não me ver." Aparente mágoa à parte, a primeira faixa gravada pelo trio na volta foi "Adelita" (79), de Jorge Ben.
O trio se separou após haver trabalhado ainda com Marília Medalha, Toquinho e Vinicius de Moraes e acompanhado Chico Buarque em "Samba de Orly" (71).
Depois, cada um seguiu um rumo -Parahyba foi à indústria têxtil, depois à música eletrônica; Nereu administrou grupos de pagode; Fritz virou músico do hotel Othon, no centro paulistano. "Se o Trio Mocotó ganhou R$ 500 em direitos autorais por tudo o que gravou, foi muito. A Som Livre relançou o segundo LP e diz que nos deve R$ 80", cita Parahyba. Ê, Brasil. (PEDRO ALEXANDRE SANCHES)



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