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MÚSICA
Cantor e compositor teve um ataque cardíaco enquanto dormia em sua casa, na madrugada de ontem
João Nogueira morre no Rio aos 58 anos
DA SUCURSAL DO RIO
O cantor e compositor João Nogueira, 58, morreu ontem de madrugada, por volta de 1h30, vítima
de um infarto fulminante.
Nogueira dormia em sua casa,
no Recreio dos Bandeirantes (zona oeste do Rio), quando começou a sentir-se mal. Sua mulher,
Ângela, chamou uma ambulância, mas não houve tempo para
salvá-lo. O compositor morreu
antes de o socorro chegar.
"Ele vinha bem de saúde, seus
médicos estavam confiantes",
disse Ângela. Há cerca de dois
anos, João Nogueira havia sofrido
uma isquemia (suspensão ou
queda da irrigação do sangue devido a um problema circulatório).
Passou algum tempo internado,
em estado grave, mas recuperou-se. Havia acabado de lançar o CD
"João de Todos os Sambas".
No início do ano, sofreu outra
isquemia -desta vez, de acordo
com Ângela, bem mais leve do
que a anterior. Por conta dos problemas, Nogueira recebia acompanhamento médico constante.
João Nogueira vinha ensaiando
para dois shows que faria na próxima semana (nos dias 13 e 14 de
junho) na casa de shows Tom
Brasil, na Vila Olímpia, em São
Paulo. Nos shows, seria gravado
um CD -o 19º de uma carreira
iniciada no final dos anos 60.
"Ele iria apresentar trabalhos
inéditos e alguns sucessos de sua
carreira", disse Ângela.
Carioca nascido no Méier, bairro da zona norte, Nogueira tinha
duas grandes paixões: futebol e
samba. No futebol, torcia pelo
Flamengo. No samba, dividia-se.
A primeira paixão foi a escola de
samba Portela. Nogueira passou a
integrar a ala de compositores da
escola em 1972. Desde criança,
frequentava a escola levado pelo
pai, o violonista Mestre, que tocava com a Velha Guarda da Portela
e com músicos ilustres, como Pixinguinha. Mas, nos anos 80, trocou a escola pela Tradição, fundada por dissidentes da Portela descontentes com o que consideravam um abandono das tradições
do samba carioca.
João Nogueira tinha três filhos.
Seu corpo foi velado durante o dia
em uma das capelas do cemitério
São João Batista (em Botafogo),
onde seria enterrado às 17h.
Produtor do disco em que Nogueira e o pianista Marinho Boffa
interpretam canções de Chico
Buarque, Almir Chediak lamentou a morte do amigo.
Chediak lembrou a ocasião em
que, acompanhado de Nogueira e
de Luiz Melodia, bebeu cerveja até
o amanhecer em uma tendinha
no alto do morro de São Carlos,
no centro do Rio.
"Ao chegarmos no morro, os
traficantes dispararam rajadas de
metralhadora contra a gente, mas,
depois que reconheceram o Melodia, pediram desculpas."
Chediak afirmou que partilha
da opinião do compositor Baden
Powell sobre João Nogueira.
"Baden me disse que considera
João Nogueira o melhor cantor do
país, por sua divisão muito especial, pelo timbre aveludado grave.
Era um grande compositor."
Para o escritor e compositor
Hermínio Bello de Carvalho, João
Nogueira fundou uma escola própria de interpretação de samba.
"Ele tinha uma forma de frasear
muito própria. Não vejo seguidores dele. Creio que essa escola, cuja origem talvez tenha sido Ciro
Monteiro, se acaba com a morte
de João."
(CRISTINA GRILLO e SERGIO TORRES)
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