São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2000


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MÚSICA
Cantor e compositor teve um ataque cardíaco enquanto dormia em sua casa, na madrugada de ontem
João Nogueira morre no Rio aos 58 anos

DA SUCURSAL DO RIO

O cantor e compositor João Nogueira, 58, morreu ontem de madrugada, por volta de 1h30, vítima de um infarto fulminante.
Nogueira dormia em sua casa, no Recreio dos Bandeirantes (zona oeste do Rio), quando começou a sentir-se mal. Sua mulher, Ângela, chamou uma ambulância, mas não houve tempo para salvá-lo. O compositor morreu antes de o socorro chegar.
"Ele vinha bem de saúde, seus médicos estavam confiantes", disse Ângela. Há cerca de dois anos, João Nogueira havia sofrido uma isquemia (suspensão ou queda da irrigação do sangue devido a um problema circulatório). Passou algum tempo internado, em estado grave, mas recuperou-se. Havia acabado de lançar o CD "João de Todos os Sambas".
No início do ano, sofreu outra isquemia -desta vez, de acordo com Ângela, bem mais leve do que a anterior. Por conta dos problemas, Nogueira recebia acompanhamento médico constante.
João Nogueira vinha ensaiando para dois shows que faria na próxima semana (nos dias 13 e 14 de junho) na casa de shows Tom Brasil, na Vila Olímpia, em São Paulo. Nos shows, seria gravado um CD -o 19º de uma carreira iniciada no final dos anos 60.
"Ele iria apresentar trabalhos inéditos e alguns sucessos de sua carreira", disse Ângela.
Carioca nascido no Méier, bairro da zona norte, Nogueira tinha duas grandes paixões: futebol e samba. No futebol, torcia pelo Flamengo. No samba, dividia-se.
A primeira paixão foi a escola de samba Portela. Nogueira passou a integrar a ala de compositores da escola em 1972. Desde criança, frequentava a escola levado pelo pai, o violonista Mestre, que tocava com a Velha Guarda da Portela e com músicos ilustres, como Pixinguinha. Mas, nos anos 80, trocou a escola pela Tradição, fundada por dissidentes da Portela descontentes com o que consideravam um abandono das tradições do samba carioca.
João Nogueira tinha três filhos. Seu corpo foi velado durante o dia em uma das capelas do cemitério São João Batista (em Botafogo), onde seria enterrado às 17h.
Produtor do disco em que Nogueira e o pianista Marinho Boffa interpretam canções de Chico Buarque, Almir Chediak lamentou a morte do amigo.
Chediak lembrou a ocasião em que, acompanhado de Nogueira e de Luiz Melodia, bebeu cerveja até o amanhecer em uma tendinha no alto do morro de São Carlos, no centro do Rio.
"Ao chegarmos no morro, os traficantes dispararam rajadas de metralhadora contra a gente, mas, depois que reconheceram o Melodia, pediram desculpas."
Chediak afirmou que partilha da opinião do compositor Baden Powell sobre João Nogueira.
"Baden me disse que considera João Nogueira o melhor cantor do país, por sua divisão muito especial, pelo timbre aveludado grave. Era um grande compositor."
Para o escritor e compositor Hermínio Bello de Carvalho, João Nogueira fundou uma escola própria de interpretação de samba. "Ele tinha uma forma de frasear muito própria. Não vejo seguidores dele. Creio que essa escola, cuja origem talvez tenha sido Ciro Monteiro, se acaba com a morte de João."
(CRISTINA GRILLO e SERGIO TORRES)


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