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POLÊMICA
Para Carlos Bratke, presidente da fundação, artista clandestino foi "bacana" e "tem futuro na arte conceitual"
Bienal aprova pirataria e vai devolver quadro a autor
DA REPORTAGEM LOCAL
A pirataria do estudante de jornalismo Cleiton Campos, 21, que
colocou um quadro sem autorização na 25ª Bienal de São Paulo, foi
aprovada pela direção do evento.
"Acho que ele é muito inteligente.
A polêmica que causou foi a de
um bom artista performático",
diz o presidente da Fundação Bienal, Carlos Bratke.
"Não vou analisar o quadro em
si, mas ele conseguiu superar, em
comoção, os outros artistas performáticos. E sem ter sido convidado. Acho que ele tem futuro na
arte conceitual", afirma Bratke.
De forma clandestina, Campos
colocou um quadro de sua autoria em meio a obras eslovenas no
andar inferior da Bienal. A pirataria, revelada anteontem pela Folha, foi feita no dia 31 de março,
oito dias após o início da mostra.
Ninguém da organização percebeu, e o quadro ficou exposto por
dois meses, até o último dia do
evento, no domingo passado.
A obra clandestina se chama
"Navio Pirata" e traz um barco,
uma caveira e o mar. Para Campos, que não se considera artista,
a pirataria foi uma piada, um trote, feito para "ridicularizar a organização do evento".
Bratke, entretanto, não se ofendeu. Ao contrário, viu apenas aspectos positivos na pirataria.
"Achei a atitude bacana. Provocou debates. Ele não causou dano,
nem roubou, nem nada. Não estragou nenhuma instalação. Ele
interagiu com a Bienal", diz o presidente.
Mas nem todos na Bienal foram
simpáticos ao ato, conforme afirma Bratke. "Ele causou um pequeno estremecimento. Aqui, temos as mais diversas opiniões sobre o assunto. Tem gente que ficou contra."
Apesar dos elogios do presidente da fundação que produz a
maior exposição de artes da América Latina, Campos não pensa
em mudar de carreira. "Não sou
artista, sou repórter", diz o rapaz,
que está no segundo ano de jornalismo da Universidade Metodista
e escreve sobre cultura pop nas revistas "Play" e "Herói.com.br", da
editora Conrad.
Devolução
Ontem, Campos enviou à Bienal
um pedido de devolução de sua
obra. "Antes de ter a idéia de colocar lá, fiz o quadro para dar de
presente para minha namorada.
Por isso queria de volta. Estou
meio intrigado com essa história
de escrever um pedido oficial,
mas vamos ver se dá certo", diz
Campos, que já deu entrevistas
para telejornais, rádios e ao programa "Descontrole", de Marcos
Mion, na Bandeirantes.
"Vou passar a questão da devolução para o departamento jurídico resolver", brinca Bratke. "Não,
não. É brincadeira. Vou devolver,
sim. Mas antes quero dar uma
canseira nele, né?"
(IVAN FINOTTI)
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