São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002

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Diretor quer fazer uma comédia romântica

DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 56 anos, o diretor Mark Jonathan Harris já colecionou três Oscar, todos eles com documentários. O primeiro, "The Redwoods", de 68, é um curta-metragem sobre um parque nacional de sequóias na Califórnia. Em 97, levou sua segunda estatueta pelo filme "O Longo Caminho para Casa", a respeito da vida dos sobreviventes de campos de concentração após a guerra. Em 2000, venceu com o longa que estréia hoje.
Mesmo fazendo sucesso com assuntos tão sérios, Harris não acha que documentários devam tratar apenas de dramas sociais. "Mas só me contratam para fazer filmes sérios", conta abaixo. (IF)

Folha - Qual é a maior dificuldade em contar uma história como a do "kindertransport"?
Mark Jonathan Harris -
Achar os melhores entrevistados. Encontramos um homem na Austrália que queríamos muito incluir no filme, mas infelizmente ele morreu antes. Norbert Wollheim, o organizador do "kindertransport" em Berlim, morreu seis semanas após o entrevistarmos. Duas outras pessoas, Lorraine Allard e Jack Hellman, morreram no ano seguinte. Então me sinto afortunado por ter conseguido gravar essas memórias a tempo.

Folha - Seus filmes que ganharam Oscar em 97 e 2000 são sobre sobreviventes do Holocausto nazista. Por que o mesmo assunto?
Harris -
Eu sou judeu, de terceira geração na América. E a história judaica no século 20, de horror sem precedentes, é bastante significativa para mim. Nos dois filmes, eu estava interessado em como pessoas reconstroem suas vidas após os campos de concentração e o trauma de separação.

Folha - Todos os últimos vencedores de Oscar de documentário têm sido filmes sobre problemas raciais ou tragédias ocasionadas por esses problemas. Por que esses filmes estão sendo premiados?
Harris -
A Academia tem um histórico de premiar filmes que eles considerem "válidos" ou "importantes", o que significa assuntos sérios. O Holocausto certamente faz parte disso, mas não acredito que todos os documentários devam tratar de assuntos sociais.

Folha - O sr. acha que hoje em dia há espaço para diversão nos documentários?
Harris -
Eu acho que os documentários podem ser tão divertidos quanto os filmes de ficção. Eu dou aulas de documentário na University of Southern California. Meus alunos fazem filmes de todo o tipo. Sobre rock'n'roll, sexo, suas famílias, bichos de estimação. E esses filmes são muitas vezes muito divertidos. Eu mesmo gostaria de fazer uma comédia romântica um dia, mas atualmente as pessoas parecem me contratar apenas para fazer filmes sérios.



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