São Paulo, quarta-feira, 06 de junho de 2007

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JOÃO PEREIRA COUTINHO

Seis dias, 40 anos

Como explicar o impasse atual? Olhando para fora de Israel: para uma alteração no equilíbrio de poderes

REGRESSO a Israel no momento certo. Ou no momento errado, dependendo da perspetiva. No momento certo porque passam 40 anos sobre a Guerra dos Seis Dias, o prodígio militar que levou à ocupação de Gaza e da Margem Ocidental, bem como da península do Sinai, dos montes Golã e da cidade antiga de Jerusalém.
No momento errado porque os problemas de segurança e demografia criados em 1967 nunca foram tão graves. Problemas que nasceram, não com Israel, mas pela vontade do Egito, da Síria e da Jordânia em repetir os objetivos de 1948, ou seja, a aniquilação física do Estado judaico.
O Estado judaico não foi aniquilado, a ocupação dos territórios foi imediata e só depois, em troca de paz, Israel devolveria ao Egito e à Jordânia as terras capturadas numa guerra defensiva. O problema de Gaza e da Cisjordânia, que Israel sempre pretendeu devolver aos palestinos em troca de reconhecimento e paz, continuou. Até hoje.
Verdade que Ariel Sharon procurou solucionar o problema de forma unilateral. Haveria outra maneira de atuar em 2003? Duvidoso. Três anos antes, em Camp David, Israel estava disposto a tudo: retirar de Gaza, da Cisjordânia, partilhar Jerusalém e reconhecer um Estado palestino. Arafat recusou a oferta porque sabia que aceitar seria a sua sentença de morte (como foi para Sadat, o presidente egípcio assassinado por radicais depois da paz firmada com Israel).
Em 2003, pelo contrário, com Arafat enterrado, Sharon entendeu que a pressão demográfica de Gaza (e da Cisjordânia) era insustentável. Quatro anos depois da retirada, com a ascendência do Hamas em Gaza e o lançamento regular de rockets para o interior de Israel, o erro foi evidente e qualquer retirada da Cisjordânia está agora adiada "sine die".
Como explicar o impasse atual? Olhando para fora de Israel: para uma alteração no equilíbrio de poderes do Oriente Médio, impensável cinco anos atrás.
Ironicamente, a ameaça já não vem do Egito nem da Jordânia, com quem Israel tem relações cordiais. Não vem da Síria, que conhece o estertor no Líbano. Não vem do Iraque, destruído com a remoção de Saddam, ou seja, com a remoção da estrutura sunita que vigorava no país e era um contraponto aos xiitas persas. Quem sobra?
O Irã, claro, a caminho da bomba nuclear e financiador do Hamas e do Hezbollah. Em conversas com jornalistas ou acadêmicos em Tel Aviv, uma cidade plena de vitalidade que faz lembrar um Rio menos inseguro, o Irã intromete-se em cada palavra. Sim, é preciso resolver o problema dos "territórios ocupados". Sim, é preciso resolver o problema dos refugiados palestinos, que fugiram ou foram expulsos por Israel em 1948 e 1967, desde que o direito de retorno se faça para um Estado palestino.
Mas a sociedade israelita sabe que a paz já não depende dela, nem do mundo árabe, nem dos palestinos "moderados".
A origem e o fim de uma guerra que dura 40 anos está hoje em Teerã. No duplo sentido da pala- vra, está hoje mais longe do que nunca.


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