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JOÃO PEREIRA COUTINHO
Seis dias, 40 anos
Como explicar o impasse atual? Olhando para fora de Israel: para uma alteração no equilíbrio de poderes
REGRESSO a Israel no momento certo. Ou no momento errado, dependendo da perspetiva. No momento certo porque passam 40 anos sobre a Guerra dos Seis
Dias, o prodígio militar que levou à
ocupação de Gaza e da Margem Ocidental, bem como da península do
Sinai, dos montes Golã e da cidade
antiga de Jerusalém.
No momento errado porque os
problemas de segurança e demografia criados em 1967 nunca foram tão
graves. Problemas que nasceram,
não com Israel, mas pela vontade do
Egito, da Síria e da Jordânia em repetir os objetivos de 1948, ou seja, a
aniquilação física do Estado judaico.
O Estado judaico não foi aniquilado, a ocupação dos territórios foi
imediata e só depois, em troca de
paz, Israel devolveria ao Egito e à
Jordânia as terras capturadas numa
guerra defensiva. O problema de Gaza e da Cisjordânia, que Israel sempre pretendeu devolver aos palestinos em troca de reconhecimento e
paz, continuou. Até hoje.
Verdade que Ariel Sharon procurou solucionar o problema de forma
unilateral. Haveria outra maneira
de atuar em 2003? Duvidoso. Três
anos antes, em Camp David, Israel
estava disposto a tudo: retirar de Gaza, da Cisjordânia, partilhar Jerusalém e reconhecer um Estado palestino. Arafat recusou a oferta porque
sabia que aceitar seria a sua sentença de morte (como foi para Sadat, o
presidente egípcio assassinado por
radicais depois da paz firmada com
Israel).
Em 2003, pelo contrário, com
Arafat enterrado, Sharon entendeu
que a pressão demográfica de Gaza
(e da Cisjordânia) era insustentável.
Quatro anos depois da retirada, com
a ascendência do Hamas em Gaza e
o lançamento regular de rockets para o interior de Israel, o erro foi evidente e qualquer retirada da Cisjordânia está agora adiada "sine die".
Como explicar o impasse atual?
Olhando para fora de Israel: para
uma alteração no equilíbrio de poderes do Oriente Médio, impensável
cinco anos atrás.
Ironicamente, a ameaça já não
vem do Egito nem da Jordânia, com
quem Israel tem relações cordiais.
Não vem da Síria, que conhece o estertor no Líbano. Não vem do Iraque, destruído com a remoção de
Saddam, ou seja, com a remoção da
estrutura sunita que vigorava no
país e era um contraponto aos xiitas
persas. Quem sobra?
O Irã, claro, a caminho da bomba
nuclear e financiador do Hamas e do
Hezbollah. Em conversas com jornalistas ou acadêmicos em Tel Aviv,
uma cidade plena de vitalidade que
faz lembrar um Rio menos inseguro,
o Irã intromete-se em cada palavra.
Sim, é preciso resolver o problema
dos "territórios ocupados". Sim, é
preciso resolver o problema dos refugiados palestinos, que fugiram ou
foram expulsos por Israel em 1948 e
1967, desde que o direito de retorno
se faça para um Estado palestino.
Mas a sociedade israelita sabe que
a paz já não depende dela, nem do
mundo árabe, nem dos palestinos
"moderados".
A origem e o fim de uma guerra
que dura 40 anos está hoje em
Teerã. No duplo sentido da pala-
vra, está hoje mais longe do que
nunca.
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