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Peça espreita as obsessões de um psicopata
Em "Acqua Toffana", Dani Barros interpreta burocrata que planeja matar a vizinha; atriz foi indicada ao Shell no Rio
Personagem foi tirado de conto do primeiro livro de Patrícia Melo; texto é um "tratado sobre ódio que vira amor", segundo a atriz
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Num canto de uma videolocadora carioca, a atriz Dani
Barros esbarrou em um senhor
e pediu desculpas. Ouviu o resmungo: "Não adianta pedir
desculpas; brasileiro tem mania de pedir desculpas, e está
tudo certo".
Pronto: ela havia encontrado
a matriz perfeita para compor
Fulano de Tal, o personagem
do monólogo "Acqua Toffana",
que estréia hoje em São Paulo
depois de render à atriz uma indicação ao Prêmio Shell no Rio.
Burocrata esquizofrênico tirado de um dos contos do livro
homônimo de Patrícia Melo,
Fulano se enreda num jogo de
repulsa e sedução com a vizinha, Célia. Tem ojeriza à gordura, às gotículas de saliva e ao
cheiro de sopa da mulher, o que
não o impede de convidá-la para um passeio em Santos. No litoral, pretende dar cabo dela,
em "missão de resgate emocional, ato de purificação".
"O texto é um tratado sobre
um ódio, um ódio que vira amor
e volta a ser ódio, e a gente não
consegue se desvencilhar. Célia
liberta Fulano da condição de
sempre muito correto, certinho. Vem como uma pulsação
de vida", diz Barros, que conta
ter descoberto a história numa
montagem em que Luís Carlos
Arutim (1933-1996) era dirigido por Antônio Abujamra.
"Quando vi, pensei: "É tudo o
que quero dizer na vida". A Patrícia é dona de um humor inteligente, ácido, tarja preta. Gosto desta falta de esperança."
Bateu então à porta do amigo
Pedro Brício (de "A Incrível
Confeitaria do Senhor Pellica"), que assina com ela a adaptação e a dirige. As mais de duas
horas e meia da íntegra do livro
foram reduzidas a cerca de uma
hora, no que a atriz chama de
"navalhada na pele".
As minúcias da sordidez de
Fulano (que hesita entre matar
Célia a facadas ou envenenada
com a substância que dá nome
ao espetáculo), por exemplo,
foram descartadas.
O perfil de psicopatia do personagem não impede Barros de
encontrar pontos de contato
com ele. "Sou eu o Fulano de
Tal", brinca. "Todo mundo tem
a sua Célia. Me identifico nessa
irritação, nas coisas e pessoas
que me tiram do sério, acabam
com minhas regras, me esbarram, invadem, sufocam."
Quem seria a Célia da atriz,
pois? "O mau atendimento da
burocracia", crava ela, que volta
à cena paulistana depois de trabalhar com Moacir Chaves (em
"Utopia", há dois anos). "O Rio
está difícil em termos de teatro.
A crítica de lá é na base do "isto
serve, isto não", feita quase que
só por estrelas."
"Acqua Toffana" participa
em julho do Festival Internacional de São José do Rio Preto,
no interior paulista.
ACQUA TOFFANA
Quando: estréia hoje, às 21h; de sex. a
dom., às 21h; até 13/7
Onde: Sesc Avenida Paulista - 12º andar (av. Paulista, 119, tel. 0/xx/11
3179-3700); classificação 14 anos
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
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