São Paulo, sábado, 6 de junho de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice MÚSICA "Acústico' tem dueto perfeito de Rita e Milton
PEDRO ALEXANDRE SANCHES enviado especial ao Rio de Janeiro Eram favas contadas. Rita Lee foi e fez seu "Acústico MTV" -que vai ao ar e será lançado em disco em setembro- do alto de 30 anos de know-how acumulado, seja em praias elétricas ou acústicas. Sem enormes surpresas, longe de qualquer decepção. A praia foi o Rio, quinta-feira. A explicação do diretor geral de operações da rede de TV, André Vaisman, era boa: "A imagem de Rita Lee justifica a presença da MTV no Brasil". Pois bem. Embalada por arranjos básicos e competentes do marido Roberto de Carvalho e pelo entrosamento geral da banda, Rita nadou em programa tranquilo coalhado de laivos inusitados. Em ao menos um instante o inusitado mergulhou feliz na pura ousadia -justamente quando tal felicidade era menos previsível. Foi quando Milton Nascimento cantou mais uma versão acústica de "Mania de Você" (79). Àquela altura, já haviam desfilado Cássia Eller e Paula Toller; logo passariam Titãs. Todos co-protagonizaram autênticos momentos de choque cultural. Normal. Não é que os resultados não tenham sido interessantes. O vigor de trovão da voz de Cássia em "Luz del Fuego" (75) contrastava com o grau de meiguice que Rita imprimiu a seus vocais. De qualquer modo, foi revelador notar a roqueira raivosa Eller prostrando-se tímida diante da história. Só nisso o "Acústico" da mãe do rock já pagava suas contas. Paula Toller fez bem a femme fatale em "Desculpe o Auê" (83). Cantou afinada, mas foi em direção distinta da que Rita pretendia seguir. Ficou esquisito. Mais esquisitos foram os Titãs. Sem muito o que inventar no palquinho, tantos homens fizeram bem em quase se reduzir a corinho de fundo em "Papai, Me Empresta o Carro" (79). E veio Milton trazer a surpresa. Do dueto desmistificador entre a roqueira de "vozinha" e o emepebista virtuose, fez-se o momento perfeito. Sem choque cultural. O lance talvez fosse geracional. Rita e Milton, tão incompatíveis, sabiam tudo o que estavam falando um ao outro. Livre da pressão de mocinhas talentosas e petulantes que aspiram ao posto da "vovó", Rita cantou feito passarinha e se mostrou digna da tão decantada pompa vocal de Milton. Mais pontos altos? "Gita" (74), de Raul Seixas, guardou em si a essência do projeto. Magnificamente cantada, evocou Raulzito, o Ney Matogrosso latino-americano, Eduardo Dusek cantando no banheiro. O público, sem querer, citou a Rita mais bubble gum com palmas no ritmo da obscura "Strip Tease" (83). Em "Eu e Meu Gato" (71), como em "Coisas da Vida" (75), refloriu o espírito das Cilibrinas do Éden, dupla efêmera da Rita pós-Mutantes com Lúcia Turnbull (cadê?). Palhaça, inventou um "Eu e Meu Gato Félix" -o gato era Roberto. Dos Mutantes, só veio "Balada do Louco" (72), mordazmente lírica e engrandecida pelo bandolim de Armandinho. Mais? "Agora Só Falta Você" (75), básica. "Ovelha Negra" (75), apoteótica. "Alô, Alô, Marciano" (79), fofa no exercício auto-escárnio circense. E, por fim, a velha novidade. "O Gosto do Azedo", a inédita do filho Beto Lee, curva-se diante do maestro tropicalista Rogério Duprat, criador genial de arranjo moldado em urbanidade e tensão -o tema é Aids, o maestro sabe das coisas. E dona Rita também. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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