São Paulo, sábado, 6 de junho de 1998

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LITERATURA
Bom-humor marca participação dos poetas nos Encontros com a Literatura Latino-Americana Contemporânea
Rojas e Gullar divertem platéia no Rio

IRINEU FRANCO PERPETUO
enviado especial ao Rio

Gracejos, elogios mútuos e leitura de poemas marcaram a participação dos poetas Gonzalo Rojas e Ferreira Gullar nos Encontros com a Literatura Latino-Americana Contemporânea, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio.
Não poderia haver contraste mais abrupto entre o clima ameno do encontro de quinta-feira e a tensão da véspera, em que a escritora cubana Zoé Valdés melindrou-se quando sua posição política anticastrista foi questionada por membros da platéia.
Aos 80 anos, Rojas é uma espécie de decano desse evento. Todas as noites, seu nome é mencionado com reverência pelos palestrantes.
Laureado com alguns dos principais prêmios da literatura em língua espanhola, como o Cervantes, o poeta chileno deu aulas na ex-Alemanha Oriental e Venezuela, lecionando atualmente na Universidade de Utah (EUA).
A não ser em antologias, sua obra ainda não foi traduzida no Brasil. Por isso, foram distribuídas, na entrada da conferência, algumas traduções feitas por Suzana Vargas, curadora do evento, que tem mediado todos os debates.
Ferreira Gullar abriu a noite afirmando que, "felizmente", a poesia não tem mercado. "O mercado é o desastre", disse, associando a mercantilização da arte à queda de qualidade.
Como Gullar, Rojas leu vários textos, intermeando sua apresentação com comentários e narrando, de maneira bem-humorada, os acontecimentos de sua vida que teriam motivado seus versos.
Causou risos quando contou que, aos 22 anos de idade, "não havia Aids, a coisa era mais inocente", e ele frequentava bordéis para jogar xadrez com as prostitutas. Enumerou Quevedo e Vallejo como influências principais, também opinando sobre seus compatriotas mais célebres, como Huidobro e Neruda.
Por outro lado, criticou o desenvolvimento ulterior da poesia de Neruda, quando o poeta abraçou a esperança, passando a crer "no progresso humano".



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