São Paulo, sábado, 6 de junho de 1998

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"Irma Vep' é declaração de amor a arte decadente

da Redação

"Irma Vep" é o encontro de vários cinemas: o clássico, o de autor e o oriental (no caso, de ação).
O que se tem é um filme dentro de um filme. Um diretor decadente tem de fazer o remake de um clássico do cinema mudo. Para protagonizá-lo, chama uma musa do cinema de Hong Kong, Maggie Cheung (no papel de si mesma).
Revelando os bastidores dessa ficção, "Irma Vep" reflete sobre o fazer cinematográfico de forma satírica: em vez de entrar em discussões estéticas (ainda que não deixe de abordá-las), trata mais das relações pessoais entre os membros da equipe do filme.
Mesmo o encontro entre os cinemas ocidental e oriental é discutido por meio das relações pessoais. Cheung vê com estranheza o ambiente de trabalho na França. E é sua presença estrangeira que possibilita a reflexão sobre o cinema no país.
É a partir da atriz, que representa um elemento novo num ambiente desgastado, que os membros da equipe se dão conta dos absurdos de algumas situações.
Cheung é quase a antítese ao típico cinema de autor francês (reflexivo, literário), já que vem de filmes de ação de Hong Kong.
Assayas diz que esta cinematografia possuía uma "certa ingenuidade que a cinematografia ocidental havia perdido". A atriz, com a "ingenuidade" de quem entra pela primeira vez em contato com uma cultura diferente, traz a lucidez perdida pelos que vivem em um ambiente viciado.
Já o cinema clássico é ponto de partida para uma reflexão estética. Esse questionamento resulta em nostalgia, o cineasta se vê diante da impossibilidade de se igualar ao clássico que vai refilmar.
"Irma Vep" é um misto de declaração de amor a uma cinematografia dada como morta (a francesa) e de um riso angustiado, como aquele de quem ri de si mesmo. Até para os que não têm nada a ver com isso, é diversão certa e cinema dos bons. (CS)



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