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"Irma Vep' é declaração de amor a arte decadente
da Redação
"Irma Vep" é o encontro de vários cinemas: o clássico, o de autor
e o oriental (no caso, de ação).
O que se tem é um filme dentro
de um filme. Um diretor decadente tem de fazer o remake de um
clássico do cinema mudo. Para
protagonizá-lo, chama uma musa
do cinema de Hong Kong, Maggie
Cheung (no papel de si mesma).
Revelando os bastidores dessa
ficção, "Irma Vep" reflete sobre
o fazer cinematográfico de forma
satírica: em vez de entrar em discussões estéticas (ainda que não
deixe de abordá-las), trata mais
das relações pessoais entre os
membros da equipe do filme.
Mesmo o encontro entre os cinemas ocidental e oriental é discutido por meio das relações pessoais.
Cheung vê com estranheza o ambiente de trabalho na França. E é
sua presença estrangeira que possibilita a reflexão sobre o cinema
no país.
É a partir da atriz, que representa um elemento novo num ambiente desgastado, que os membros da equipe se dão conta dos
absurdos de algumas situações.
Cheung é quase a antítese ao típico cinema de autor francês (reflexivo, literário), já que vem de
filmes de ação de Hong Kong.
Assayas diz que esta cinematografia possuía uma "certa ingenuidade que a cinematografia ocidental havia perdido". A atriz,
com a "ingenuidade" de quem
entra pela primeira vez em contato
com uma cultura diferente, traz a
lucidez perdida pelos que vivem
em um ambiente viciado.
Já o cinema clássico é ponto de
partida para uma reflexão estética.
Esse questionamento resulta em
nostalgia, o cineasta se vê diante
da impossibilidade de se igualar ao
clássico que vai refilmar.
"Irma Vep" é um misto de declaração de amor a uma cinematografia dada como morta (a francesa) e de um riso angustiado, como
aquele de quem ri de si mesmo.
Até para os que não têm nada a ver
com isso, é diversão certa e cinema
dos bons.
(CS)
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