|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA/ESTRÉIA
"Copacabana", de Carla Camurati, chega hoje às telas e aborda a velhice no bairro do Rio
Com vista para o mar
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi de Mário Quintana, o poeta
dos versos "Eles passarão, eu passarinho", que o ator Marco Nanini, 53, buscou aproximar-se para
dar forma a Alberto, 90, o protagonista de "Copacabana", que estréia hoje nos cinemas.
Para fazer -em parceria com
Melanie Dimantas e Yoya
Würsch- o roteiro desse terceiro
filme que dirige, a cineasta Carla
Camurati, 40, recorreu à relação
com os avós e a alguma leitura.
Memorialístico em tom de comédia e espécie de homenagem
ao bairro que o nomeia, "Copacabana" avança e retrocede no tempo. O filme marca também o intervalo que se situa entre "Carlota
Joaquina" (a estréia de Camurati
na direção, em 1995, confundida
com a reestréia da produção nacional) e o momento em que a Lei
do Audiovisual, principal instrumento de incentivo ao cinema
desde então, parece esgotar-se.
Camurati fez "Copacabana"
com R$ 2,7 milhões e o benefício
da Lei Rouanet, que considera
"mais equilibrada" que a do Audiovisual, por não oferecer vantagens "excessivas" ao patrocinador. Com a produção de um longa de Marcos Vinicius César engatilhada e a compra do argumento para seu quarto filme na
etapa final, a cineasta diz que não
pode desfiar "um rosário de reclamações" e que o Brasil não sabe
usar seu próprio mercado.
Folha - Qual é a reflexão sobre a
velhice que importa fazer?
Carla Camurati - No Brasil, a gente se volta excessivamente para a
juventude, o que considero burrice, já que todos envelheceremos,
menos os que morrerem antes.
Envelhecimento é assunto delicado, porque as pessoas têm medo
de se deparar com um processo
difícil e que se torna cada vez mais
difícil à medida que social e politicamente não cuidamos para que
ele seja melhor. Acho que o filme
reflete bem sobre isso quando
mostra que o melhor tempo da vida não é o que passou nem o que
virá, mas o que você vive hoje, independente da idade.
Folha - Para a preparação do roteiro você buscou que referências?
Camurati - Procurei ter algumas
referências, desde as filosóficas,
alguma coisa de Cícero e de Platão, até os pensamentos de Buñuel no livro "O Último Suspiro"
ou na relação com meu avô.
Folha - "Carlota Joaquina" é considerado o primeiro filme da retomada da produção nacional e desde então você se firmou como uma
produtora com facilidade para captar verbas. Você está confortável
no mercado do cinema brasileiro?
Camurati - Não é que eu tenha
facilidade, mas conquistei alguns
parceiros, que estão comigo desde o primeiro filme. A cada dois
ou três anos faço um filme. Não
posso reclamar da minha média.
Nem aguentaria dirigir um filme
por ano. Se eu fizesse um rosário
de reclamações, estaria sendo injusta. Acho que a relação das leis
de incentivo com o cinema não
está 100% resolvida. Há muitas
coisas a serem revistas no contexto de uma política audiovisual
maior, considerando os filmes
que entram e saem do país, o material que se importa e o dinheiro
envolvido. O Brasil é um mercado
maravilhoso, que não estamos sabendo usar a nosso favor.
Folha - Você acredita que o Brasil
comporta a indústria que o Gedic
(Grupo Executivo para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica) propõe ?
Camurati - Acho que temos modificações muito delicadas a serem feitas nas leis e que o Gedic
tem propostas interessantes e
boas para isso. A proposta de criação de um fundo de investimentos em produção, dependendo de
como fique, pode ser uma solução
para o problema da captação. O
Brasil comporta uma indústria. O
problema é o tamanho que se deseja para ela. É ambicioso e equivocado querer algo semelhante ao
cinema americano. O que estamos gerando e produzindo hoje é
capaz, não num futuro próximo,
mas a longo prazo, de solidificar
algo que chamemos de indústria.
Folha - Dicotomia sucesso de público/fracasso de crítica incomoda?
Camurati - Fico feliz é com o público. Não que eu ache a crítica
desimportante, mas ela é efêmera.
Está num jornal que no dia seguinte vai embora da minha vida.
É na relação com o público e na
carreira do filme que meu trabalho tem um eco para mim. É claro
que sofri com as críticas, mas isso
faz parte.
Texto Anterior: Outros lançamentos: De quando Ela sentou no trono Próximo Texto: Frase Índice
|