|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"OCAS"
Projeto brasileiro segue a inglesa "The Big Issue", que é vendida nas ruas
Revista dá trabalho e voz a sem-teto
LINO BOCCHINI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Acostumados a mendigar, vender chicletes ou guardar carros
por uns trocados, alguns moradores de rua de São Paulo e do Rio
vão se tornar, a partir de hoje, os
principais personagens de uma
experiência inédita no Brasil.
Graças ao trabalho de um grupo
de jovens e ao patrocínio de uma
grife de roupas, será lançada hoje
em São Paulo e segunda-feira, no
Rio (18h, no Largo São Francisco),
a revista "Ocas", uma espécie de
"The Big Issue" brasileira.
Comum em Londres há mais de
dez anos, "The Big Issue" (algo
como "o grande assunto") é a primeira revista no mundo, ao lado
da nova-iorquina "Street News", a
ser vendida apenas pela população de rua.
A "Ocas" será vendida por R$ 2,
e o lucro do vendedor será de R$
1,50, já que comprará as revistas a
R$ 0,50. Os cinco primeiros exemplares serão gratuitos, para que o
vendedor possa se capitalizar.
O primeiro número da revista,
produzida por profissionais, tem
32 páginas, é bem diagramado e
traz como reportagem de capa
uma entrevista com o cineasta
Walter Salles. Há também um
texto sobre Benedito "Sai do Lixo", morador de rua que já compôs e gravou dezenas de canções.
Por enquanto não há nenhum
texto de sem-teto, mas, segundo o
fotógrafo Luciano Rocco, 35, diretor da Organização Civil de Ação
Social (ONG cuja sigla dá nome à
publicação), "este é nosso objetivo, está até em nosso estatuto".
Neste primeiro número há também dez páginas com anúncios
publicitários, sendo que sete delas
com anúncios da M.Officer.
A "Ocas" terá, neste início,
aproximadamente 25 vendedores
no Rio (para tiragem de 5.000
exemplares) e cerca de 40 cadastrados em São Paulo (para tiragem de 10 mil). "A maioria dos
moradores dorme em albergues,
mas alguns dormem nas ruas",
diz Rocco. Segundo ele, os vendedores passaram por treinamento
e devem respeitar um código de
conduta que explicita, por exemplo, que serão desligados do projeto os que oferecerem a revista
bêbados, sob efeito de drogas ou
acompanhados por crianças.
Hoje, são dezenas de publicações deste tipo no mundo, somando cerca de dois milhões de
exemplares ao mês, de acordo
com a INSP (The International
Network of Street Papers), entidade à qual a "Ocas" pleiteia filiação.
Na América Latina já existem
essas publicações. Na Argentina
circula há dois anos a "Hecho en
Buenos Aires", hoje com tiragem
de 30 mil exemplares. Recentemente foi lançada a "Diagonal",
também em Buenos Aires. Os
moradores de rua uruguaios vendem a "Fator S" em Montevidéu,
e em breve será lançada a "Hecho
en Chile", em Santiago.
No começo da década de 90, foi
lançado no Brasil o jornal "O Trecheiro", com o apoio da editora
Paulus e de responsabilidade da
Rede Rua, organização com participação da Igreja Católica. Seus
textos são feitos por moradores
de rua e tratam de temas de seu
interesse. O jornal é mensal, tem
tiragem de 6.000 exemplares e é
distribuído gratuitamente por
sem-tetos para sem-tetos.
Outra iniciativa circula há dois
anos nas ruas de Porto Alegre.
"Boca de Rua" é um jornal de
quatro páginas, feito por moradores de rua e por eles vendido à população em geral, a R$ 1. Com edições trimestrais, o "Boca de Rua"
tem tiragem de 3.000 exemplares,
que são entregues gratuitamente
aos sem-teto cadastrados.
LANÇAMENTO DA REVISTA "OCAS".
Quando: hoje, às 11h. Onde: Pátio do
Colégio (Centro), São Paulo. Informações
sobre a revista: (0/xx/11) 229-8400 e (0/
xx/21) 9676-1241.
Texto Anterior: Vida e obra Próximo Texto: "Nada mais que a verdade": Respeito aos mortos Índice
|