São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2005

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JT LeRoy encara desconfiança do público em São Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL

8h05 da manhã. Cerca de uma hora depois de pousado o avião que o trazia de San Francisco, via Cidade do México, o escritor americano JT LeRoy sai da sala de desembarque. A intérprete não o reconhece. Pudera: onde estão as tais marcas registradas, chapéu, óculos escuros e peruca loura?
Andrógino, o ar ainda mais delicado do que se vê nas fotos de divulgação, LeRoy deixou o uniforme de JT na mala: ele entraria em ação somente mais tarde, na sessão do filme "The Heart Is Deceitful Above All Things", de Asia Argento, promovida pela Folha e Geração Editorial no Espaço Unibanco, em São Paulo.
Apresentações feitas, LeRoy pergunta à intérprete sobre as câmeras descartáveis que pediu por e-mail, com que vai fazer os registros fotográficos para acompanhar os diários da viagem ao Brasil encomendados pelo jornal "Sunday Times".
Um pouco depois, à mesa do café da manhã, num hotel perto do aeroporto de Guarulhos, o escritor conta o que está lendo: "Music of the Swamp", de Lewis Nordan, e "The Invisible Man", de Ralph Ellison. Quer conhecer literatura brasileira. Ainda nos Estados Unidos alguém sugeriu Paulo Coelho.
Antes da sessão de cinema, LeRoy tem aula de capoeira de Angola marcada no Instituto Nzinga, na Vila Sônia. Depois de tudo o que passou, diz ele, a luta, que pratica há cinco anos, duas a três vezes por semana, tornou-se uma espécie de porto seguro, uma importante experiência espiritual. O escritor vai acompanhado de Nathan Jackson, colega de capoeira em San Francisco, e seu fiel escudeiro na vinda ao Brasil.
Armada a roda, LeRoy não encontra dificuldade de seguir as instruções da professora, a baiana Sula. Luta em dupla, toca um instrumento, o agogô, e arrisca o refrão de um dos cânticos: "vou dizer ao meu senhor que a manteiga derramou".
Sula elogia sua desenvoltura. A aula termina. A turma, cerca de 12 pessoas, de crianças a senhoras septuagenárias, agradece sua presença. Ele autografa um exemplar de "Sarah" para o instituto. Na saída, ainda envolvido com a sonoridade, diz que foi totalmente diferente das aulas que tem em casa. "É mais sábio", avalia.
Hora de ir para o cinema. Hora de colocar o uniforme de JT: a peruca loura, o enorme chapéu que foi do avô, visual completo com uma roupa da grife Costume National, sua "roupa de festa", diz ele. Tem dois pares de óculos escuros. Escolhe um e, a sessão já iniciada, corre para a cadeira que foi reservada para ele.
Ao fim da projeção, vai com a intérprete para a frente da platéia, no cinema lotado. De novo, a dúvida: será mesmo o LeRoy? Nervoso, o escritor agradece a presença das pessoas, que demoram a acreditar que é LeRoy quem está realmente ali. Vêm as primeiras perguntas, sobre sua participação na produção do filme: ele fala que ajudou na escolha do elenco, como a participação de Winona Ryder, sua amiga.
LeRoy diz que ver o filme de Argento, baseado em seu segundo livro, é como uma catarse. Da platéia vêm mais perguntas: mais à vontade, LeRoy fala da trilha sonora com Sonic Youth, de como importunou editores até ter seu primeiro livro publicado, e conta que sua mãe, vivida no filme pela própria Argento, já morreu. Mas ele continua em contato com ela. Um espectador diz ter dúvidas sobre a verdadeira identidade do escritor, o achou muito feminino em relação ao personagem retratado no longa. Um ensaio de vaia e JT guarda para o final a resposta: para isso existem hormônios. A cortina desce, aplausos.
Ainda como JT, LeRoy tem um último compromisso: a festa de encerramento da São Paulo Fashion Week, numa mansão no Pacaembu. À entrada, ainda que na dúvida, alguns fotógrafos registram sua chegada. Acham que Nathan é o tal escritor famoso que virá à festa. LeRoy é apresentado à drag Bianca Exótica, ao estilista Mário Queiroz... Descobre uma sala VIP onde pode beber seu champanhe mais sossegado e matar a vontade de fazer uma massagem. Sai decepcionado. "Não acredito que a massagem pôde ter sido tão ruim", diz.
Quase 3h da manhã, LeRoy já arrisca tirar o chapéu, a peruca e os óculos. Quer um descanso. A "turnê" brasileira mal começou e, ele ainda tem Flip e uma viagem ao Rio pela frente. No dia seguinte terá que retomar o uniforme no lançamento de "Sarah" na Livraria da Vila, onde volta a falar em público. "Prefiro os autógrafos. São mais individuais." (ES)

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