São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2005

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CINEMA

Diretor volta a 1972 e começa a filmar polêmico roteiro sobre massacre de israelenses na Olimpíada de Munique

Spielberg mergulha na questão palestina

DAVID M. HALBFINGER
DO "NEW YORK TIMES", EM LOS ANGELES

O apocalíptico "Guerra dos Mundos", de Steven Spielberg, invadiu os cinemas do mundo na quarta-feira passada. Mas o diretor já está com novos projetos. Naquela mesma noite, em Malta, sem alarde, Spielberg iniciou as filmagens de mais um trabalho politicamente carregado de sua carreira: a história de um esquadrão secreto de assassinos do Mossad que recebe ordens de eliminar terroristas palestinos após o massacre de atletas israelenses na Olimpíada de 1972 em Munique.
Não é a primeira vez que Spielberg assume riscos. Em 1993, quando ainda era conhecido sobretudo por fantasias de grande sucesso comercial, como "E.T. - O Extraterrestre" e "Os Caçadores da Arca Perdida", o diretor afirmou temer que se pensasse que ele iria trivializar o Holocausto com seu filme "A Lista de Schindler".
Com o filme sobre Munique, porém, ainda sem título mas já programado pela Universal Pictures para ser lançado em 23 de dezembro, Spielberg encara um material tão delicado que ele e seus assessores estão preocupados com os possíveis efeitos adversos sobre questões tão importantes quanto o processo de paz na região do territórios palestinos.
De fato, o território que o filme percorre é tão repleto de potenciais minas terrestres que, segundo seus colegas de trabalho, Spielberg vem pedindo conselhos e opiniões de pessoas que vão desde seu rabino até o ex-diplomata americano Dennis Ross, que, por sua vez, já informou representantes do governo israelense dos argumentos e da linha seguidos pelo filme. Spielberg também já mostrou o roteiro ao antigo chefe de Dennis Ross e ao ex-presidente Bill Clinton.
O filme, que está sendo escrito pelo dramaturgo Tony Kushner -é seu primeiro roteiro escrito para o cinema- começa com o assassinato de 11 atletas israelenses em Munique. Mas focaliza sobretudo a retaliação israelense: os assassinatos ordenados pela primeira-ministra Golda Meir de palestinos identificados pela inteligência israelense como terroristas, entre eles alguns não diretamente implicados no massacre olímpico.
Spielberg costuma divulgar muito pouco seus projetos futuros e, desta vez, vem tomando cuidado especial nesse sentido. Ele revelou que o filme será estrelado por Eric Bana, no papel do principal agente israelense, e também por Daniel Craig, Geoffrey Rush, Mathieu Kassovitz, Hanns Zischler e Ciaran Hinds. Nesta semana o diretor entregou um comunicado curto simultaneamente ao jornal americano "The New York Times", ao jornal israelense "Maariv" e à televisão árabe "Al Arabiya", mas recusou todos os pedidos de entrevista e, por meio de um porta-voz, se recusou a responder a perguntas escritas que lhe foram feitas.
No comunicado, Spielberg descreveu o ataque de Munique -cometido pelo Setembro Negro, um braço da organização Fatah, pertencente à OLP- e a reação de Israel como "momento de definição na história moderna do Oriente Médio".
O interesse do cineasta pela questão da reação de um país civilizado ao terrorismo aumentou, disseram seus assessores, após os ataques de 11 de Setembro de 2001, quando, pela primeira vez, os Estados Unidos se viram enfrentando questões semelhantes -por exemplo a cada novo ataque letal contra um suspeito líder terrorista cometido por um avião americano Predator, da CIA, que voa sem tripulantes.
O comunicado de Spielberg indicou também que seu filme - a ser rodado em Malta, Budapeste e Nova York- tratará diretamente da divisão entre israelenses e palestinos.
"O fato de a reação israelense a Munique ser vista através dos olhos dos homens enviados para vingar a tragédia acrescenta uma dimensão humana a um episódio hediondos que nós, normalmente, vemos apenas em termos políticos ou militares", disse ele. "Ao vermos como a determinação implacável desses homens em levar sua missão a cabo foi pouco a pouco dando lugar a dúvidas perturbadoras sobre o que eles faziam, acho que podemos aprender algo de importante sobre o impasse trágico no qual nos vemos mergulhados hoje."
Ademais, Spielberg está tomando o cuidado de fornecer contexto histórico suficiente para explicar os motivos que levaram Israel a fazer de seus filhos assassinos, como Golda Meir teria lamentado na época.
Spielberg primeiro anunciou que começaria no verão do ano passado a produzir o filme com base no roteiro de Eric Roth, autor dos roteiros de "Forrest Gump" e "The Insider", mas, segundo fontes familiarizadas com os dois roteiros, contratou Tony Kushner para "humanizar" o trabalho de Roth, que, para ele, exagerava na ênfase dada aos procedimentos.
No roteiro de Roth, por exemplo, os assassinatos em Munique dominam os primeiros 15 minutos do filme. De acordo com os leitores, Spielberg ainda estaria analisando como retratar o massacre sem minimizar seu peso, mas sem tampouco chocar o público excessivamente.


Tradução de Clara Allain

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