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CINEMA
Diretor volta a 1972 e começa a filmar polêmico roteiro sobre massacre de israelenses na Olimpíada de Munique
Spielberg mergulha na questão palestina
DAVID M. HALBFINGER
DO "NEW YORK TIMES", EM LOS ANGELES
O apocalíptico "Guerra dos
Mundos", de Steven Spielberg, invadiu os cinemas do mundo na
quarta-feira passada. Mas o diretor já está com novos projetos.
Naquela mesma noite, em Malta,
sem alarde, Spielberg iniciou as
filmagens de mais um trabalho
politicamente carregado de sua
carreira: a história de um esquadrão secreto de assassinos do
Mossad que recebe ordens de eliminar terroristas palestinos após
o massacre de atletas israelenses
na Olimpíada de 1972 em Munique.
Não é a primeira vez que Spielberg assume riscos. Em 1993,
quando ainda era conhecido sobretudo por fantasias de grande
sucesso comercial, como "E.T. - O
Extraterrestre" e "Os Caçadores
da Arca Perdida", o diretor afirmou temer que se pensasse que
ele iria trivializar o Holocausto
com seu filme "A Lista de Schindler".
Com o filme sobre Munique,
porém, ainda sem título mas já
programado pela Universal Pictures para ser lançado em 23 de dezembro, Spielberg encara um material tão delicado que ele e seus
assessores estão preocupados
com os possíveis efeitos adversos
sobre questões tão importantes
quanto o processo de paz na região do territórios palestinos.
De fato, o território que o filme
percorre é tão repleto de potenciais minas terrestres que, segundo seus colegas de trabalho, Spielberg vem pedindo conselhos e
opiniões de pessoas que vão desde seu rabino até o ex-diplomata
americano Dennis Ross, que, por
sua vez, já informou representantes do governo israelense dos argumentos e da linha seguidos pelo filme. Spielberg também já
mostrou o roteiro ao antigo chefe
de Dennis Ross e ao ex-presidente
Bill Clinton.
O filme, que está sendo escrito
pelo dramaturgo Tony Kushner
-é seu primeiro roteiro escrito
para o cinema- começa com o
assassinato de 11 atletas israelenses em Munique. Mas focaliza sobretudo a retaliação israelense: os
assassinatos ordenados pela primeira-ministra Golda Meir de palestinos identificados pela inteligência israelense como terroristas, entre eles alguns não diretamente implicados no massacre
olímpico.
Spielberg costuma divulgar
muito pouco seus projetos futuros e, desta vez, vem tomando
cuidado especial nesse sentido.
Ele revelou que o filme será estrelado por Eric Bana, no papel do
principal agente israelense, e também por Daniel Craig, Geoffrey
Rush, Mathieu Kassovitz, Hanns
Zischler e Ciaran Hinds. Nesta semana o diretor entregou um comunicado curto simultaneamente ao jornal americano "The New
York Times", ao jornal israelense
"Maariv" e à televisão árabe "Al
Arabiya", mas recusou todos os
pedidos de entrevista e, por meio
de um porta-voz, se recusou a responder a perguntas escritas que
lhe foram feitas.
No comunicado, Spielberg descreveu o ataque de Munique
-cometido pelo Setembro Negro, um braço da organização Fatah, pertencente à OLP- e a reação de Israel como "momento de
definição na história moderna do
Oriente Médio".
O interesse do cineasta pela
questão da reação de um país civilizado ao terrorismo aumentou,
disseram seus assessores, após os
ataques de 11 de Setembro de
2001, quando, pela primeira vez,
os Estados Unidos se viram enfrentando questões semelhantes
-por exemplo a cada novo ataque letal contra um suspeito líder
terrorista cometido por um avião
americano Predator, da CIA, que
voa sem tripulantes.
O comunicado de Spielberg indicou também que seu filme - a
ser rodado em Malta, Budapeste e
Nova York- tratará diretamente
da divisão entre israelenses e palestinos.
"O fato de a reação israelense a
Munique ser vista através dos
olhos dos homens enviados para
vingar a tragédia acrescenta uma
dimensão humana a um episódio
hediondos que nós, normalmente, vemos apenas em termos políticos ou militares", disse ele. "Ao
vermos como a determinação implacável desses homens em levar
sua missão a cabo foi pouco a
pouco dando lugar a dúvidas perturbadoras sobre o que eles faziam, acho que podemos aprender algo de importante sobre o
impasse trágico no qual nos vemos mergulhados hoje."
Ademais, Spielberg está tomando o cuidado de fornecer contexto
histórico suficiente para explicar
os motivos que levaram Israel a
fazer de seus filhos assassinos, como Golda Meir teria lamentado
na época.
Spielberg primeiro anunciou
que começaria no verão do ano
passado a produzir o filme com
base no roteiro de Eric Roth, autor dos roteiros de "Forrest
Gump" e "The Insider", mas, segundo fontes familiarizadas com
os dois roteiros, contratou Tony
Kushner para "humanizar" o trabalho de Roth, que, para ele, exagerava na ênfase dada aos procedimentos.
No roteiro de Roth, por exemplo, os assassinatos em Munique
dominam os primeiros 15 minutos do filme. De acordo com os
leitores, Spielberg ainda estaria
analisando como retratar o massacre sem minimizar seu peso,
mas sem tampouco chocar o público excessivamente.
Tradução de Clara Allain
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