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5ª Flip
"Ganhar um Booker Prize seria um fracasso", diz Self
EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A PARATY
Um dos poucos autores britânicos de sucesso que não fazem parte da onda literária
multiculturalista, Will Self, 45,
lançou no ano passado "The
Book of Dave" [o livro de Dave].
Na obra, um texto escrito nos
dias de hoje por um motorista
de táxi inglês é tomado, centenas de anos no futuro, como
uma bíblia pelos remanescentes de uma Londres pós-apocalíptica. Self falou à Folha em
Paraty sobre o título, que chega
ao Brasil em 2008 pela Objetiva/ Alfaguara. Leia a seguir trechos da entrevista.
FOLHA - Na França, o tradutor de
todos os seus livros desistiu de trabalhar com este último por conta da
linguagem difícil. No Brasil, a tradução também vai dar trabalho?
WILL SELF - O livro se passa centenas de anos no futuro e as
pessoas falam uma espécie de
inglês deteriorado. Eu fiz uma
transcrição dos sons do inglês
"cockney" da classe operária de
Londres. Parece estranho
quando escrito, mas, quando
um leitor inglês entende, meu
truque se torna simples. É preciso achar uma alternativa.
FOLHA - Se você tivesse de enterrar
um livro hoje, para se tornar nossa
bíblia no futuro, qual seria?
SELF - Certamente não seria o
manual do sistema operacional
da Microsoft. Mas quem sabe
os ensaios de Montaigne, Platão e Aristóteles. Não seria algo
contemporâneo. E sim os livros
que sobreviveram, particularmente do período clássico. Eles
já passaram por um completo
colapso da civilização e se tornaram a base de uma nova. A
Renascença foi ativada pela redescoberta dos clássicos. Eles
funcionaram uma vez, então,
por que não usá-los de novo?
FOLHA - Você foi finalista do Whitbread com "Como Vivem os Mortos". Quanto vale um prêmio?
SELF - Este é um assunto difícil
porque o mundo é tão comercial... "The Book of Dave" vendeu bem no Reino Unido. Mas
trabalho muito para conseguir
isso, escrevo constantemente,
faço leituras públicas. No entanto, a única coisa que pode
assegurar suas vendas e um
bom nível de percepção pública
são os prêmios. Eles são muito
importantes desse ponto de
vista. Mas prêmios são fruto de
um consenso de poucas pessoas, e um livro que é provocador jamais ganha. Se você olha
para os vencedores do Booker
Prize nos últimos 25 ou 30
anos, eles nunca foram perigosos. São bons, mas os mais importantes não venceram. De
certa forma, ganhar o Booker
seria um fracasso.
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