São Paulo, sexta-feira, 06 de julho de 2007

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5ª Flip

"Ganhar um Booker Prize seria um fracasso", diz Self

EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A PARATY

Um dos poucos autores britânicos de sucesso que não fazem parte da onda literária multiculturalista, Will Self, 45, lançou no ano passado "The Book of Dave" [o livro de Dave].
Na obra, um texto escrito nos dias de hoje por um motorista de táxi inglês é tomado, centenas de anos no futuro, como uma bíblia pelos remanescentes de uma Londres pós-apocalíptica. Self falou à Folha em Paraty sobre o título, que chega ao Brasil em 2008 pela Objetiva/ Alfaguara. Leia a seguir trechos da entrevista.

 

FOLHA - Na França, o tradutor de todos os seus livros desistiu de trabalhar com este último por conta da linguagem difícil. No Brasil, a tradução também vai dar trabalho?
WILL SELF
- O livro se passa centenas de anos no futuro e as pessoas falam uma espécie de inglês deteriorado. Eu fiz uma transcrição dos sons do inglês "cockney" da classe operária de Londres. Parece estranho quando escrito, mas, quando um leitor inglês entende, meu truque se torna simples. É preciso achar uma alternativa.

FOLHA - Se você tivesse de enterrar um livro hoje, para se tornar nossa bíblia no futuro, qual seria?
SELF
- Certamente não seria o manual do sistema operacional da Microsoft. Mas quem sabe os ensaios de Montaigne, Platão e Aristóteles. Não seria algo contemporâneo. E sim os livros que sobreviveram, particularmente do período clássico. Eles já passaram por um completo colapso da civilização e se tornaram a base de uma nova. A Renascença foi ativada pela redescoberta dos clássicos. Eles funcionaram uma vez, então, por que não usá-los de novo?

FOLHA - Você foi finalista do Whitbread com "Como Vivem os Mortos". Quanto vale um prêmio?
SELF
- Este é um assunto difícil porque o mundo é tão comercial... "The Book of Dave" vendeu bem no Reino Unido. Mas trabalho muito para conseguir isso, escrevo constantemente, faço leituras públicas. No entanto, a única coisa que pode assegurar suas vendas e um bom nível de percepção pública são os prêmios. Eles são muito importantes desse ponto de vista. Mas prêmios são fruto de um consenso de poucas pessoas, e um livro que é provocador jamais ganha. Se você olha para os vencedores do Booker Prize nos últimos 25 ou 30 anos, eles nunca foram perigosos. São bons, mas os mais importantes não venceram. De certa forma, ganhar o Booker seria um fracasso.


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