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TEATRO
"Urfaust", escrito por Johann Wolfgang von Goethe na juventude, é lido hoje no auditório da Folha
Leitura apresenta o embrião de "Fausto"
da Reportagem Local
Hoje à noite, um
jovem Goethe pisa
pela primeira vez
em solo brasileiro.
Nunca antes traduzido para o português, "Urfaust", espécie de antecedente e esboço da obra-prima
do escritor alemão, é lido, a partir
das 19h30, no auditório da Folha,
em São Paulo.
Produzido por Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) por
volta de seus 20 anos, iniciando
assim a confecção de seu "Fausto", o texto ganhou tradução de
Christine Röhrig a pedido de
Marcio Meirelles, diretor artístico
do teatro Vila Velha, de Salvador.
Com a participação de seu grupo, a Companhia Teatro dos Novos, e da atriz Bete Coelho, Meirelles dirige esta noite a leitura dramática de "Urfaust", num evento
que comemora os 250 anos da
morte do grande autor alemão.
Meirelles, também criador do
Bando de Teatro Olodum, que dirige até hoje, pretende encenar a
obra em agosto, acrescentando à
narrativa elementos da cultura
popular do Nordeste -ou, como
ele mesmo diz, "fazer um clássico
com molho de dendê".
"Urfaust" -que, em português,
recebeu o título de "Fausto Zero"- possui a mesma estrutura
narrativa de "Fausto", poema
dramático que Goethe só viria a
concretizar mais de 60 anos depois, baseado na lenda do homem
que vendeu a alma ao demônio.
Acredita-se que a lenda, surgida
no século 16, tenha sido inspirada
em um certo Georg Faust, homem de fama duvidosa que viveu
entre 1480 e 1540 naquela região.
Sobre esse pré-"Fausto" (conhecido também como "Fausto
Primitivo"), Jerusa Pires Ferreira,
professora da Universidade de
São Paulo (USP) e da Pontifícia
Universidade Católica (PUC/SP)
e autora de "Fausto no Horizonte" (Hucitec), explica:
""Urfaust" é mais baseado em
textos populares. Tem tudo a ver
ser encenado por um grupo de
Salvador. Aqui, Mefisto é mais
zombeteiro, pisa mais leve. Só depois é que Goethe daria a sua
obra um caráter mais filosófico".
Segundo Meirelles, foi exatamente essa a razão que o levou a
querer montar "Urfaust": "Sua
origem é completamente popular. Goethe tomou conhecimento
da lenda nas feiras livres e fez então esse esboço".
O diretor aponta como um dos
desafios em levar "Urfaust" ao
palco o fato de que, nessa primeira versão de Goethe, não há a cena do pacto com Mefisto. "O pacto está subentendido. Como colocar isso em cena? É bastante
complicado", afirma.
Goethe em português
Para a nada fácil tarefa de transpor a obra para o português,
Marcio Meirelles chamou Christine Röhrig, tradutora de diversos livros de Bertolt Brecht e Heiner Müller, entre outros.
"Minha intenção não foi respeitar a métrica de Goethe. Isso levaria uma vida inteira e já foi feito
com competência por Jenny Klabin Segall (tradutora de "Fausto", editora Itatiaia). Tentei mostrar o que o autor quis dizer e tornar a obra menos "monstro sagrado'", explica.
Para Röhrig, apesar de "Urfaust" ter sido produzido por um
autor com pouco mais de 20
anos, já se encontram nos versos
do jovem Goethe "sua genialidade e seu grande domínio das sensações do ser humano".
Sob direção de Meirelles, o Bando de Teatro Olodum e a Companhia Teatro dos Novos apresentam no domingo, no Sesc Pompéia, "Sonho de uma Noite de
Verão". A peça integra a 2ª Mostra Brasileira de Teatro de Grupo,
que começa hoje.
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