São Paulo, Terça-feira, 06 de Julho de 1999
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TEATRO
"Urfaust", escrito por Johann Wolfgang von Goethe na juventude, é lido hoje no auditório da Folha
Leitura apresenta o embrião de "Fausto"

da Reportagem Local


Hoje à noite, um jovem Goethe pisa pela primeira vez em solo brasileiro. Nunca antes traduzido para o português, "Urfaust", espécie de antecedente e esboço da obra-prima do escritor alemão, é lido, a partir das 19h30, no auditório da Folha, em São Paulo.
Produzido por Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) por volta de seus 20 anos, iniciando assim a confecção de seu "Fausto", o texto ganhou tradução de Christine Röhrig a pedido de Marcio Meirelles, diretor artístico do teatro Vila Velha, de Salvador.
Com a participação de seu grupo, a Companhia Teatro dos Novos, e da atriz Bete Coelho, Meirelles dirige esta noite a leitura dramática de "Urfaust", num evento que comemora os 250 anos da morte do grande autor alemão.
Meirelles, também criador do Bando de Teatro Olodum, que dirige até hoje, pretende encenar a obra em agosto, acrescentando à narrativa elementos da cultura popular do Nordeste -ou, como ele mesmo diz, "fazer um clássico com molho de dendê".
"Urfaust" -que, em português, recebeu o título de "Fausto Zero"- possui a mesma estrutura narrativa de "Fausto", poema dramático que Goethe só viria a concretizar mais de 60 anos depois, baseado na lenda do homem que vendeu a alma ao demônio. Acredita-se que a lenda, surgida no século 16, tenha sido inspirada em um certo Georg Faust, homem de fama duvidosa que viveu entre 1480 e 1540 naquela região.
Sobre esse pré-"Fausto" (conhecido também como "Fausto Primitivo"), Jerusa Pires Ferreira, professora da Universidade de São Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP) e autora de "Fausto no Horizonte" (Hucitec), explica:
""Urfaust" é mais baseado em textos populares. Tem tudo a ver ser encenado por um grupo de Salvador. Aqui, Mefisto é mais zombeteiro, pisa mais leve. Só depois é que Goethe daria a sua obra um caráter mais filosófico".
Segundo Meirelles, foi exatamente essa a razão que o levou a querer montar "Urfaust": "Sua origem é completamente popular. Goethe tomou conhecimento da lenda nas feiras livres e fez então esse esboço".
O diretor aponta como um dos desafios em levar "Urfaust" ao palco o fato de que, nessa primeira versão de Goethe, não há a cena do pacto com Mefisto. "O pacto está subentendido. Como colocar isso em cena? É bastante complicado", afirma.

Goethe em português
Para a nada fácil tarefa de transpor a obra para o português, Marcio Meirelles chamou Christine Röhrig, tradutora de diversos livros de Bertolt Brecht e Heiner Müller, entre outros.
"Minha intenção não foi respeitar a métrica de Goethe. Isso levaria uma vida inteira e já foi feito com competência por Jenny Klabin Segall (tradutora de "Fausto", editora Itatiaia). Tentei mostrar o que o autor quis dizer e tornar a obra menos "monstro sagrado'", explica.
Para Röhrig, apesar de "Urfaust" ter sido produzido por um autor com pouco mais de 20 anos, já se encontram nos versos do jovem Goethe "sua genialidade e seu grande domínio das sensações do ser humano".
Sob direção de Meirelles, o Bando de Teatro Olodum e a Companhia Teatro dos Novos apresentam no domingo, no Sesc Pompéia, "Sonho de uma Noite de Verão". A peça integra a 2ª Mostra Brasileira de Teatro de Grupo, que começa hoje.



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