PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Ícones obscurecidos da primeira metade do século passado, os soldados do samba Roberto Silva, 82, e Zezé Gonzaga, 75, ganham novas e inesperadas oportunidades musicais em 2002.
Conhecido em seus anos de ouro como "o príncipe do samba", o carioca Roberto Silva tornou-se com o tempo uma espécie de elo (perdido) de ligação entre modos diversos de cantar, como os de Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Cyro Monteiro e João Gilberto.
Faz agora sua "Volta por Cima", pela Universal, numa espécie de passeio pelo espaço-tempo do samba. Estão ali regravações de canções que João Gilberto mais tarde apanharia de seu repertório ("A Primeira Vez", "Da Cor do Pecado"), e Roberto se aventura também por variáveis que não eram suas especialidades -o pioneirismo de Sinhô, o samba paulista de Paulo Vanzolini, a modernidade anos 60 de Chico Buarque.
A voz que influenciou Paulinho da Viola está mais grave, curtida no esquecimento das últimas quase quatro décadas. A elegância? Só faz aumentar.
Caso parecido é o da mineira acariocada Zezé Gonzaga, que nunca gozou de forte popularidade, mas contou com o entusiasmo do maestro Radamés Gnattali e, até hoje, do produtor Hermínio Bello de Carvalho. É Hermínio que orienta "Sou Apenas uma Senhora que Ainda Canta" (bancado pelo elegante selo Biscoito Fino), fazendo do disco uma homenagem intensiva a outra liderança da estirpe de Roberto Silva e Zezé Gonzaga -Elizeth Cardoso.
O repertório é variado e em grande parte ligado ao legado de Elizeth, e a ele Zezé concede sempre tonalidades próximas de samba-canção, de pré-bossa nova.
Em seu caso, o curtume do tempo traz mais melancolia que variações vocais -razões não faltam, este é o primeiro disco solo gravado em CD numa carreira de mais de 60 anos. A elegância? Só faz aumentar com o tempo.

Volta por Cima    
Artista: Roberto Silva
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 25, em média

Sou Apenas uma Senhora que Ainda Canta    
Artista: Zezé Gonzaga
Lançamento: Biscoito Fino
Quanto: R$ 25, em média