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"DEMÊNCIA 13"
Talento de Francis Ford Coppola iniciante já aparece em terror B
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
No começo dos anos 60, recém-formado em cinema,
Francis Ford Coppola arrumou
emprego na American International Pictures de Roger Corman,
onde foi um aplicado faz-tudo.
Entre 1962 e 1963, ele participou
de seis filmes nas mais diversas
funções, todos produzidos e dirigidos por Corman, um dos reis do
filme B americano.
O aprendiz impressionou o patrão. Era visível o entusiasmo daquele rapaz de 24 anos, particularmente hábil e ágil para escrever
diálogos. Corman apostava no
nascimento de um roteirista. Mas
Coppola queria dirigir, e apareceu
com o roteiro de um filme de horror de baixíssimo orçamento. Depois de alguma hesitação, veio o
sinal verde para filmar "Demência 13", durante as (poucas) folgas
de "Desafiando a Morte", desde
que elas não atrapalhassem o trabalho de Coppola neste filme, em
que ele fazia o som.
"Demência 13", que acaba de ser
lançado em DVD no Brasil, é oficialmente o primeiro filme de
Coppola, descontados dois outros
"exploitation movies" que permanecem na sombra da obscuridade ("The Playgirls and the Bellboy" e "Tonite for Sure").
A versão que chega ao mercado
brasileiro, infelizmente, é relapsa.
Extras quase não existem e, a certa altura, a imagem apresenta
problemas graves, da era do vídeo. Mas é preciso fazer justiça:
uma rápida pesquisa na internet
revela que os problemas são idênticos aos da versão americana, sinal de que os defeitos estavam
mesmo na matriz.
Ainda assim, ao menos para fãs
de Coppola, "Demência 13" é uma
experiência imprescindível. O talento do diretor já dá fortes sinais
na seqüência de abertura, um passeio de barco noturno altamente
climático, de desfecho trágico.
Filme B
A estrutura do roteiro, bem de
longe, lembra "Psicose", de
Hitchcock: o rumo da trama dá
uma guinada quando entra em
cena um assassino de identidade
desconhecida, movido por um
trauma de origem familiar, e
aquela que parece ser a heroína
desaparece bem antes do fim.
O resultado, se não chega a ser
uma obra-prima, é fundamental
para compreender como se formou a geração que revolucionaria
o cinema americano. Assim como
seus colegas Martin Scorsese e Peter Bogdanovich, que também
passaram pela produtora de Corman, Coppola deu o mesmo peso
à "alta cultura" do cinema e à
"baixa cultura" dos filmes B e produções alternativas. Samuel Fuller, Andre de Toth e Corman tiveram a mesma importância que
Bergman e Antonioni.
A paixão pelo cinema jamais se
reduziu ao conhecimento técnico
e bitolado; à formação escolar somou-se uma paixão pela história
não-oficial e um exercício prático
sem preconceitos. Essa visão
abrangente ajudou a gerar filmes
geniais como "A Conversação",
de Coppola, ou "Taxi Driver", de
Scorsese, frutos dessa abertura
para o cinema em suas formas
mais interessantes, independentemente de seu "status" cultural.
Demência 13
Dementia 13
Direção: Francis Ford Coppola
Produção: EUA, 1963
Lançamento: MultiMedia Group
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