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MÚSICA/CRÍTICA
Puxado por um vocalista carismático, grupo sueco lança seu primeiro disco por uma grande gravadora
Hives aponta guitarras para um veneno punk
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Numa passagem recente pelos EUA, para divulgar este
"Tyranossaurus Hives", a banda
sueca The Hives tocou uma das
músicas do CD no programa do
entrevistador popstar David Letterman. Ao final do show, com o
grupo já fora do estúdio, um surpreso Letterman disparou a elogiar a miniapresentação dos escandinavos, dizendo que o que
eles tinham feito havia pouco no
programa era uma performance
realmente "rock'n'roll", naquilo
que se espera de um rock mais
"verdadeiro".
O que as palavras simplórias de
Letterman sugeriam é exatamente o que move o som do Hives. A
banda encheu seu aguardado terceiro disco com rock de alta velocidade e, ao mesmo tempo, de um
pegajoso pop desses que só os Ramones eram capazes de fazer.
A química do Hives é completada pela incrível performance ao
vivo comandada por seu vocalista
e "homem-show" Howlin" Pelle
Almqvist, uma mistura insólita de
Mick Jagger com Silvio Santos,
com a inquietude do primeiro e a
comunicabilidade com a "platéia"
do segundo, muitas vezes fazendo
uso do microfone-gravata. É a essa composição bagunçada e feroz
que Letterman se referia.
"Tyranossaurus Hives" é elétrico da faixa de abertura, "Abra Cadaver", até a última, "Antidote"
("Você quer o antídoto, mas eu
tenho o veneno", diz o refrão dessa última).
A temática das letras e o uniforme terno-e-gravata bicolor do Hives tendem à comédia. O grupo,
além de Pelle Almqvist, tem Dr.
Matt Destruction, Vigilante Carlstroem, Chris Dangerous e Nicholaus Arson. Se você olhar bem, parece uma banda de história em
quadrinhos. Se você ouvir bem,
parece trilha de videogame. Mas o
som da banda é muito sério.
As duas canções que puxam
"Tyranossaurus Hives", o single
"Walk Idiot Walk" e "Two-Timing Touch and Broken Bones",
respectivamente a terceira e a segunda faixas, são a síntese da explosão do garage-punk da classe
de 2001/2002 do rock. Uma musicalidade minimalista e energética
que cansa os menos preparados
para a urgência da música jovem
atual e globalizada, seja no hard-rock do Datsuns (Oceania), no
punk de rua do Libertines (Inglaterra), no pop sujo do Mooney
Suzuki (EUA).
Uma das dezenas de bandas novas (ou pelo menos novas aos
olhos gerais) que passaram pela
porta aberta por Strokes e White
Stripes, o Hives chega com "Tyranossaurus Hives" ao seu primeiro
lançamento por uma gravadora
grande. E, mesmo depois de quatro anos sem gravar, chega em
grande forma.
Este CD novo é tão coeso em sua
variedade que não dá saudade dos
discos anteriores, nem do megahit "Hate to Say I Told You So",
lançado em single em 2001.
Quando o Hives e "Hate to
Say..." apareceram na cena britânica, no tal ano especial de 2001, a
pequena e esperta gravadora Poptones catou a banda para si e armou uma coletânea de apresentação do quinteto sueco para inglês
ver. Deu à compilação o singelo
nome de "Your New Favourite
Band". Dependendo do vigor juvenil do ouvinte, esse seria um
nome cabível a este álbum novo.
Todo o rock está presente em
"Tyranossaurus". De Stones a
Stooges. De AC/DC a Pixies. E é
nesse último que o grupo sueco
aponta sua guitarra com mais vigor. Em boa parte do CD, em especial nas ótimas "See Through
Head", "Love in Plaster" e "No
Pun Intended", o Hives ataca de
surf punk.
Dono das melhores tiradas do
pop atual, Howlin" Pelle Almqvist
costuma dizer que "uma banda
de rock deveria ser alguma coisa
barulhenta e perigosa, tipo um
tanque de exército com cérebro".
É assim que é o Hives. Pelle falou e
disse.
Tyranossaurus Hives
Artista: The Hives
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 35, em média
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