São Paulo, sexta-feira, 06 de agosto de 2004

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MÚSICA/CRÍTICA

Puxado por um vocalista carismático, grupo sueco lança seu primeiro disco por uma grande gravadora

Hives aponta guitarras para um veneno punk

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Numa passagem recente pelos EUA, para divulgar este "Tyranossaurus Hives", a banda sueca The Hives tocou uma das músicas do CD no programa do entrevistador popstar David Letterman. Ao final do show, com o grupo já fora do estúdio, um surpreso Letterman disparou a elogiar a miniapresentação dos escandinavos, dizendo que o que eles tinham feito havia pouco no programa era uma performance realmente "rock'n'roll", naquilo que se espera de um rock mais "verdadeiro".
O que as palavras simplórias de Letterman sugeriam é exatamente o que move o som do Hives. A banda encheu seu aguardado terceiro disco com rock de alta velocidade e, ao mesmo tempo, de um pegajoso pop desses que só os Ramones eram capazes de fazer.
A química do Hives é completada pela incrível performance ao vivo comandada por seu vocalista e "homem-show" Howlin" Pelle Almqvist, uma mistura insólita de Mick Jagger com Silvio Santos, com a inquietude do primeiro e a comunicabilidade com a "platéia" do segundo, muitas vezes fazendo uso do microfone-gravata. É a essa composição bagunçada e feroz que Letterman se referia.
"Tyranossaurus Hives" é elétrico da faixa de abertura, "Abra Cadaver", até a última, "Antidote" ("Você quer o antídoto, mas eu tenho o veneno", diz o refrão dessa última).
A temática das letras e o uniforme terno-e-gravata bicolor do Hives tendem à comédia. O grupo, além de Pelle Almqvist, tem Dr. Matt Destruction, Vigilante Carlstroem, Chris Dangerous e Nicholaus Arson. Se você olhar bem, parece uma banda de história em quadrinhos. Se você ouvir bem, parece trilha de videogame. Mas o som da banda é muito sério.
As duas canções que puxam "Tyranossaurus Hives", o single "Walk Idiot Walk" e "Two-Timing Touch and Broken Bones", respectivamente a terceira e a segunda faixas, são a síntese da explosão do garage-punk da classe de 2001/2002 do rock. Uma musicalidade minimalista e energética que cansa os menos preparados para a urgência da música jovem atual e globalizada, seja no hard-rock do Datsuns (Oceania), no punk de rua do Libertines (Inglaterra), no pop sujo do Mooney Suzuki (EUA).
Uma das dezenas de bandas novas (ou pelo menos novas aos olhos gerais) que passaram pela porta aberta por Strokes e White Stripes, o Hives chega com "Tyranossaurus Hives" ao seu primeiro lançamento por uma gravadora grande. E, mesmo depois de quatro anos sem gravar, chega em grande forma.
Este CD novo é tão coeso em sua variedade que não dá saudade dos discos anteriores, nem do megahit "Hate to Say I Told You So", lançado em single em 2001.
Quando o Hives e "Hate to Say..." apareceram na cena britânica, no tal ano especial de 2001, a pequena e esperta gravadora Poptones catou a banda para si e armou uma coletânea de apresentação do quinteto sueco para inglês ver. Deu à compilação o singelo nome de "Your New Favourite Band". Dependendo do vigor juvenil do ouvinte, esse seria um nome cabível a este álbum novo.
Todo o rock está presente em "Tyranossaurus". De Stones a Stooges. De AC/DC a Pixies. E é nesse último que o grupo sueco aponta sua guitarra com mais vigor. Em boa parte do CD, em especial nas ótimas "See Through Head", "Love in Plaster" e "No Pun Intended", o Hives ataca de surf punk.
Dono das melhores tiradas do pop atual, Howlin" Pelle Almqvist costuma dizer que "uma banda de rock deveria ser alguma coisa barulhenta e perigosa, tipo um tanque de exército com cérebro". É assim que é o Hives. Pelle falou e disse.


Tyranossaurus Hives
    
Artista: The Hives
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 35, em média



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