São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2007

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Supernovas

Novas cantoras surgem com trabalhos autorais em meio à crise da indústria fonográfica

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O mercado fonográfico vem enfrentando uma lenta morte, anunciada há quase dez anos. Mas, em vez de isso impedir ou limitar o surgimento de novos nomes, parece estar provocando o efeito contrário.
Nunca se viu tamanha efervescência na música brasileira, com tantos novos artistas lançando discos e novas idéias. E, cada vez mais, se ouvem novidades surgindo nesta época de reinvenção de dogmas e paradigmas. Algumas dessas vozes femininas ilustram esta página.
Na inovação, também se preserva uma tradição. A frase, tão simples quanto fundamental, é de Marina de La Riva, de 33 anos, uma das novas cantoras que você ainda vai ouvir bastante se está atento para o que acontece na música nacional -se é que ainda não ouviu.
Marina, filha de pai cubano e mãe brasileira, faz parte de uma geração de músicos, compositores e cantores brasileiros que têm como papel natural renovar nossas tradições, mas também está inserida numa tradição tão arraigada quanto indelével na nossa produção: a das cantoras e intérpretes.
Ao lado de gente como Bruna Caram, Thaís Gulin, Tiê e tantas outras ainda escondidas por aí, Marina faz parte da Geração Supernova -em maiúsculas mesmo, para marcar esse movimento- da música popular brasileira -em minúsculas, para não confundir com a histórica MPB.
Em comum, elas têm o frescor, a disposição, a distância dos clichês e o fato de terem apenas um disco no currículo, além de toda a história a acontecer em suas carreiras.
Ao lado delas, estão outras cantoras como Mariana Aydar, Céu, Roberta Sá, Vanessa da Mata e Thalma de Freitas -essas já estabelecidas em suas carreiras, funcionando como uma espécie de norte (veja texto nesta página).
"Eu me enxergo como parte da tradição de cantoras brasileiras, como Carmen Miranda e Maysa, mas só posso fazer o que faço hoje porque elas existiram", afirma Marina.

O fim das divas
Mas hoje as coisas funcionam diferente. O impulso artístico que faz alguém querer passar a vida inteira cantando pode não ter mudado tanto, mas suas aplicações práticas, com certeza se transformaram.
"Acho que existe essa coisa de a minha geração ter pego logo no primeiro disco o auge da crise do mercado fonográfico", explica a curitibana de 28 anos, moradora do Rio, Thaís Gulin. "Isso gerou uma coisa nova, uma atitude diferente para levar o trabalho adiante. Todo mundo teve que aprender a fazer o trabalho braçal, e isso interferiu no nosso processo de criação. Os trabalhos acabaram ficando muito mais pessoais. É uma coisa que assusta, mas que fez com que a gente se descobrisse mais."
"Nós não precisamos de gravadoras, nós não precisamos vender milhões", concorda a paulistana Tiê, de 27 anos. "Hoje em dia é tudo mais real, não existem mais divas. Muitas cantoras colocam doçura no que cantam, independente do estilo e nos fazem nos apaixonar por elas. Mas é importante não se distanciar, não criar paixão pelo que não existe."

Cena?
Curiosamente, apesar dos vínculos pessoais serem quase inexistentes entre as novas cantoras, todas enxergam uma movimentação com intenções semelhantes e se identificam entre si e com o que se faz de novo na música brasileira.
"É todo mundo meio da mesma idade, me sinto parte da mesma geração", diz Thaís. "A gente acaba criando uma corrente", faz coro, sem saber, Marina de La Riva.
"Olha quantas cantoras novas estão aparecendo nos últimos tempos", observa Bruna Caram, paulista de 21 anos. "Costumava-se falar que a nova música brasileira não existia, que nunca iam superar os antigos. Mas veja quanta coisa nova e boa temos hoje. Eu enxergo sim uma nova MPB, mas ainda não consigo delimitar, não sei dizer exatamente o que é nem onde ela começa e termina."
Realmente, talvez seja um pouco cedo para lançar previsões ou enxergar revoluções na música nacional. Mas as sementes foram plantadas e os primeiros frutos estão nascendo. Só não vê quem não quer.


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