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Tapa aborda universo masculino com "Cloaca"
Grupo que completou 30 anos em 2009 leva aos palcos texto contemporâneo
Com humor ácido, peça fala do reencontro de quatro amigos de juventude, que, quarentões e frustrados, dividem suas desilusões
Lenise Pinheiro/ Folha Imagem
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Brian Ross, Dalton Vigh e André Garolli
em cena de ‘Cloaca’
JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O grupo Tapa comemora
seus 30 anos em um loft cool,
com verniz sofisticado. Comparecem à festa quatro amigos
quarentões e uma prostituta
russa. Mas, apesar das aparências, este não é o cenário de
uma crise da meia idade e sim o
da peça "Cloaca", que estreia
hoje em São Paulo.
Fundado em 1979, no Rio de
Janeiro, o Tapa -sigla para
Teatro Amador Produções Artísticas- de amador já não tem
mais nada: são mais de 40 peças
montadas, que fazem do grupo
um dos mais longevos e respeitados do país. Instalado em São
Paulo desde 1986, criou raízes
na cidade. "São Paulo vicia",
afirma o carioca Eduardo Tolentino Araújo, diretor e fundador da companhia.
Nessa trajetória, ficaram
marcadas interpretações de
textos clássicos da dramaturgia
nacional e internacional.
"Cloaca", porém, aponta outra
direção.
O texto, inédito no Brasil, é
da holandesa Maria Goos e foi
escrito em 2002. A descoberta
veio a partir dos ciclos de leitura dramática promovidos pelo
Tapa. "Há um mito de que não
há boa dramaturgia no mundo
hoje. Isso é mentira, existe boa
dramaturgia, sim, em vários lugares", analisa Tolentino.
Coisas de homem
A peça mostra o encontro circunstancial de quatro amigos
de juventude no apartamento
de um deles. Todos estão na faixa dos quarenta, todos trabalham para o Estado e todos falam "cloaca!" quando se encontram, rememorando um antigo
código interno ao grupo dos
tempos de faculdade.
André Garolli, 42, Brian
Ross, 49, Dalton Vigh, 45, e
Tony Giusti, 49, são os atores
mas são também amigos de
longa data, assim como Maarten, Jan, Tom e Pieter, seus
personagens. "A gente se conhece desde a época que tinha
cabelo", alfineta Ross, provocando o riso de seus colegas.
Sentados à volta da mesa
com a reportagem para a entrevista, os atores parecem às vezes encarnar seus papéis. "A
peça tem um pouco dessas sacanagens típicas de um grupo
de homens", conta Vigh. Ao que
Ross emenda: "Mas a brincadeira às vezes passa do limite".
Se a princípio o reencontro
no palco é pontuado pelo humor franco, aos poucos ele vai
se acidificando e trazendo à tona velhas rixas, ciúmes e invejas. "É um mergulho no universo masculino e na ação do tempo sobre a amizade", conta Tolentino, "e o mais interessante
é que é visto por uma mulher".
Coisas de mulher
A aparição feminina na peça
é breve -uma prostituta russa
contratada para divertir homens à beira de um ataque de
nervos-, mas o olhar da mulher sobre o mundo masculino
é constante no texto de Goos.
"O camarada dá uma broxada
e as mulheres acham lindo. Para nós, isso não é lá muito engraçado", afirma Ross, entre risos. "Goos é a nossa Shakespeare!", conclui um sorridente Tolentino.
CLOACA
Quando: qui. e sex., às 21h, sáb., às
21h30, dom., às 19h
Onde: Teatro Nair Bello (Shopping Frei
Caneca - 3º andar, r. Frei Caneca, 569,
tel. 0/xx/11/3472-2414); 14 anos
Quanto: de R$30 a R$40
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