São Paulo, quinta-feira, 06 de agosto de 2009

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Tapa aborda universo masculino com "Cloaca"

Grupo que completou 30 anos em 2009 leva aos palcos texto contemporâneo

Com humor ácido, peça fala do reencontro de quatro amigos de juventude, que, quarentões e frustrados, dividem suas desilusões

Lenise Pinheiro/ Folha Imagem
Brian Ross, Dalton Vigh e André Garolli
em cena de ‘Cloaca’


JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O grupo Tapa comemora seus 30 anos em um loft cool, com verniz sofisticado. Comparecem à festa quatro amigos quarentões e uma prostituta russa. Mas, apesar das aparências, este não é o cenário de uma crise da meia idade e sim o da peça "Cloaca", que estreia hoje em São Paulo.
Fundado em 1979, no Rio de Janeiro, o Tapa -sigla para Teatro Amador Produções Artísticas- de amador já não tem mais nada: são mais de 40 peças montadas, que fazem do grupo um dos mais longevos e respeitados do país. Instalado em São Paulo desde 1986, criou raízes na cidade. "São Paulo vicia", afirma o carioca Eduardo Tolentino Araújo, diretor e fundador da companhia.
Nessa trajetória, ficaram marcadas interpretações de textos clássicos da dramaturgia nacional e internacional.
"Cloaca", porém, aponta outra direção.
O texto, inédito no Brasil, é da holandesa Maria Goos e foi escrito em 2002. A descoberta veio a partir dos ciclos de leitura dramática promovidos pelo Tapa. "Há um mito de que não há boa dramaturgia no mundo hoje. Isso é mentira, existe boa dramaturgia, sim, em vários lugares", analisa Tolentino.

Coisas de homem
A peça mostra o encontro circunstancial de quatro amigos de juventude no apartamento de um deles. Todos estão na faixa dos quarenta, todos trabalham para o Estado e todos falam "cloaca!" quando se encontram, rememorando um antigo código interno ao grupo dos tempos de faculdade.
André Garolli, 42, Brian Ross, 49, Dalton Vigh, 45, e Tony Giusti, 49, são os atores mas são também amigos de longa data, assim como Maarten, Jan, Tom e Pieter, seus personagens. "A gente se conhece desde a época que tinha cabelo", alfineta Ross, provocando o riso de seus colegas. Sentados à volta da mesa com a reportagem para a entrevista, os atores parecem às vezes encarnar seus papéis. "A peça tem um pouco dessas sacanagens típicas de um grupo de homens", conta Vigh. Ao que Ross emenda: "Mas a brincadeira às vezes passa do limite".
Se a princípio o reencontro no palco é pontuado pelo humor franco, aos poucos ele vai se acidificando e trazendo à tona velhas rixas, ciúmes e invejas. "É um mergulho no universo masculino e na ação do tempo sobre a amizade", conta Tolentino, "e o mais interessante é que é visto por uma mulher".

Coisas de mulher
A aparição feminina na peça é breve -uma prostituta russa contratada para divertir homens à beira de um ataque de nervos-, mas o olhar da mulher sobre o mundo masculino é constante no texto de Goos.
"O camarada dá uma broxada e as mulheres acham lindo. Para nós, isso não é lá muito engraçado", afirma Ross, entre risos. "Goos é a nossa Shakespeare!", conclui um sorridente Tolentino.


CLOACA
Quando: qui. e sex., às 21h, sáb., às 21h30, dom., às 19h
Onde: Teatro Nair Bello (Shopping Frei Caneca - 3º andar, r. Frei Caneca, 569, tel. 0/xx/11/3472-2414); 14 anos
Quanto: de R$30 a R$40




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