São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

CRÍTICA COMÉDIA

'Não se Preocupe, Nada Vai Dar Certo' é caso raro de filme que tem algo a dizer

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Hugo Carvana não entrega os pontos. Num momento em que comédia é praticamente sinônimo de conformismo oportunista, ele persiste em seu ponto de vista.
Seus filmes podem variar do melhor ao pior, mas trazem um modo de olhar as coisas característico desde "Vai Trabalhar, Vagabundo". Como definir esse olhar? Talvez algo como anarco-carioca dê conta dele. Trata-se de preservar esse espírito descompromissado, mas também iconoclasta, que caracterizava o Rio capital. Algo que se pode também chamar de malandragem.
Esse olhar está presente com intensidade em "Não se Preocupe, Nada Vai Dar Certo", em que encontramos dois personagens, pai e filho, ambos atores.
Lalau Velasco (Gregório Duvivier) apresenta um show de comédia "stand-up", onde descreve, basicamente, as aventuras do pai, o veterano Ramon Velasco (Tarcísio Meira), um especialista em se meter em todo tipo de confusão.
A confusão maior do filme, porém, virá mesmo por conta de Lalau, que por uma boa quantia topa se fazer passar por um guru indiano. A trama só existe para melhor homenagear a profissão de ator, isto é, aquele que finge sempre ser outro. Isso é o que Lalau fará, sem dúvida.
Mas é isso que o pai, Ramon, fará mais ainda, usando vários disfarces para tirar o filho dos problemas. Ramon o fará com a ajuda de um ator (Carvana), retirado de um asilo para velhos artistas.
Digamos que tudo gira em torno de farsantes. Por um lado, os atores: farsantes profissionais. Por outro lado, os não farsantes, que pretendem fraudar uma grande concorrência pública.
Contra a farsa dos ladrões profissionais, nada como a farsa dos atores. Contra a desordem de terno, esses atores instituem uma espécie de desordem fantasiada, carnavalesca, malandra.
Ao contrário da comédia conformista, o desenvolvimento "redondo" da história aqui não interessa nada. Ela só serviria para toldar o que o autor do filme tem a dizer.
E ele tem algo a dizer, o que não é tão frequente, já que o cinema, hoje, se preocupa mais com o quanto vai render do que com o que vai dizer.
No mais, Tarcísio e Carvana estão espetaculares em grande parte do filme porque o prazer com que representam está na cara.

NÃO SE PREOCUPE, NADA VAI DAR CERTO
DIREÇÃO Hugo Carvana produção Brasil, 2011
COM Tarcísio Meira, Gregório Duvivier
ONDE nos cines Anália Franco, Frei Caneca e circuito
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO ótimo



Texto Anterior: Carvana faz homenagem apaixonada aos atores
Próximo Texto: Ministério libera classificação de filme sérvio vetado no Rio
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.