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'Polacas' mexe no caso real das prostitutas judias de SP
Divulgação
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As polacas do diretor Iacov Hillel, da peça que estréia amanhã no teatro Maria Della Costa, na Consolação
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Peça revive tabu das mulheres 'comercializadas' no Brasil do começo do século; 'Não somos perfeitos', diz o diretor, Iacov Hillel
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IVAN FINOTTI
da Reportagem Local
Estréia amanhã, no teatro Maria
Della Costa, a peça "As Polacas",
do diretor Iacov Hillel. A montagem conta a história real das prostitutas judias no início do século
no Brasil.
A peça é um drama musical baseado no romance "Jovens Polacas", de Esther Largman (editora
Rosa dos Tempos).
A personagem central é Sarah,
jovem polonesa de origem judaica
que se casa com um estranho que
aparece em sua aldeia. O casal vem
ao Brasil, onde o marido, um cafetão já com várias mulheres, obriga
Sarah a se prostituir.
Para o diretor Iacov Hillel, 49,
"esse é um lado escuro e esquecido da história dos judeus no Brasil. É um tabu, por várias razões.
Uma delas é que as mulheres judias eram exploradas e enganadas
pelos próprios judeus. Outra razão
é que o judeu, que sempre foi tão
perseguido, tenta manter uma
imagem de povo perfeito. Não somos perfeitos. Não podemos varrer essa história para debaixo do
tapete".
Tráfico de escravas
A história a que Hillel se refere
começa no fim do século passado,
com a organização criminosa polonesa Zwi Migdal. Baseada nos
Estados Unidos, Argentina e Brasil, a máfia era especializada no
tráfico de escravas brancas, mais
especificamente, judias.
Para isso, os cafetões se embrenhavam nas aldeias pobres da Europa Oriental, em países como Polônia, Romênia, Hungria e Rússia.
O método de recrutamento era
torpe: os cafetões procuravam as
famílias mais necessitadas e ofereciam a possibilidade de casamento
e vida nova na América.
Apresentavam-se como comerciantes ricos e escolhiam, em geral, a filha mais velha. A razão dessa preferência é que, mais tarde,
teriam oportunidade de recrutar
também as irmãs menores.
Ao chegarem aqui, as recém-casadas eram jogadas em bordéis.
Sob risco de espancamento, acatavam as ordens. E viravam polacas.
Uma de suas características
-que se repetiu em São Paulo,
Santos, Rio de Janeiro, Nova York
e Buenos Aires- foi a criação de
sociedades de ajuda mútua. Discriminadas pela comunidade judaica, era por meio dessas entidades que as polacas garantiam seus
direitos (leia textos nesta página).
A Zwi Migdal foi desmontada na
América Latina nos anos 30, após
sofrer forte perseguição do governo argentino. A ascensão do nazismo na Europa também desencorajou novos recrutamentos.
Segundo a historiadora Beatriz
Kushnir, que escreveu a tese "Baile de Máscaras" (editora Imago)
sobre o assunto, o primeiro registro de chegada de judias nessa situação ao Brasil é de 1867.
Mas não há como saber quantas
vieram. "Elas não entravam no
país se apresentando como prostitutas. Por isso, só sabemos das que
se filiaram em associações. Em SP,
foram entre 200 e 300", afirma.
É a mesma dificuldade da historiadora Margareth Rago. "Era
grande o número de mulheres traficadas para a América do Sul?",
escreve Rago em seu "Os Prazeres
da Noite" (editora Paz e Terra).
"Possivelmente, sim", responde.
Peça: As Polacas
Quando: a partir de amanhã, às 21h
Onde: teatro Maria Della Costa (r. Paim, 72,
Consolação, tel. 011/256-9115)
Quanto: R$ 20 e R$ 25
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