São Paulo, quinta, 6 de agosto de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Mostra reúne artistas residentes na Alemanha em torno de questões como deslocamento e identidade
"Migrantes" brasileiros expõem no MAC

Adriana Zehbrauskas/Folha Imagem
Luiz Pizarro, que participa da mostra "Moto Migratório", no MAC


FERNANDO OLIVA
da Redação

Um artista pode ser chamado de antropofágico quando incorpora um elemento alheio a sua cultura e o devolve na forma de um trabalho com identidade própria, nova.
Os quatro artistas que compõem a mostra "Moto Migratório", a partir de hoje no MAC do parque Ibirapuera, poderiam também participar da próxima Bienal, cujo tema se fundamenta no "Manifesto Antropófago", escrito em 1928 por Oswald de Andrade.
Cristina Barroso, Alex Flemming, Cristina Canale e Luiz Pizarro são os "Quatro Artistas Brasileiros na Alemanha", subtítulo da exposição, que reúne obras criadas sob o signo do deslocamento (espacial) e da ruptura (cultural, social). A curadoria é da historiadora da arte Eliana de Simone.
Pizarro, que vive em Colônia há seis anos, exibe o trabalho mais instigante da mostra. Sobre suporte de telas de parafina (1,60 m x 0,75 m), ele imprime gravuras desenhadas originalmente no século 16 pela trupe do explorador alemão Hans Staden, que esteve no país entre 1550 e 1554. O tema é sempre o mesmo: o canibalismo dos índios brasileiros.
As frases que acompanham as gravuras foram extraídas de revistas nova-iorquinas que promovem encontros sexuais, tipo de classificados eróticos em que cada anúncio especifica as características do possível parceiro e o tipo de relação que será compartilhada.
Por exemplo, junto à cruel cena em que uma mulher (na visão dos alemães, uma mulher índia, apesar das formas e volumes clássicos) segura uma perna e se prepara para devorá-la, brinca o texto: "Satisfaça meu fetiche por pés".
"Eu trabalho com esses dois tabus, o canibalismo na sociedade brasileira e o sexo. A partir daí, sintetizo uma nova metáfora, que é a própria obra", afirma Pizarro.
Há dez anos na Alemanha, vivendo hoje em Munique, Cristina Barroso fala de identidade e deslocamento, indivíduo e sociedade. Ela intervém em mapas ampliados, ora sobrepondo uma grande impressão digital que delimita um novo plano e dialoga com a cartografia, ora associando as cidades e bairros às constelações.
Na obra de Alex Flemming, que atua em Berlim desde 1990, vemos uma referência aos ready-mades do dadaísta francês Marcel Duchamp (1904-1989). Flemming coloriu sofás e poltronas com tons de amarelo, verde e azul, e sobre eles aplicou textos de sua autoria, criando um pequeno ambiente que exala ausência e solidão.
As cinco telas de Cristina Canale trabalham no limite entre figuração e abstração. Seus quadros, em que às vezes surgem desenhos translúcidos que interagem com o primeiro plano, remetem a formas vegetais e orgânicas.

Internet: http://www.usp.br/mac/migratorio
Mostra: Moto Migratório
Onde: MAC (parque Ibirapuera, portão 3), tel. 011/818-3392 Vernissage: hoje, às 18h Quando: ter a dom, das 12h às 18h Quanto: entrada franca O quê: Moto Migratório - Arte Brasileira na Era da Mobilidade (mesa-redonda) Onde: auditório do MAC Quando: hoje, às 16h30



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