São Paulo, quinta, 6 de agosto de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
"Vermelho", exposição que ele classifica de "quase-instalação", reúne obras feitas em "dias bonitos"
Barsotti exibe a emoção da geometria

CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local

Aos 84 anos, Hercules Barsotti não deixou de se surpreender com a arte que produz.
"Veja como ela vibra", diz com voz embargada, se aproximando com cautela de uma das telas que expõe a partir de hoje no Gabinete de Arte Raquel Arnaud.
A vibração de suas obras, Barsotti diz que colhe da luminosidade de dias ensolarados. "Hoje só pinto em dias bonitos e felizes", explica o artista.
Como nas pinturas que vem produzindo há 40 anos, as oito obras que compõem a "quase-instalação" chamada "Vermelho" têm mais do que dias bonitos como matéria-prima.
"Elas são feitas de cor e emoção", sintetiza o artista.
Nesta mostra, Barsotti segue a sua fórmula tradicional. As pinturas de poucos traços parecem ter como razão de existir a tarefa de mostrar a emoção que pode estar contida dentro da rigidez e frieza de formatos geométricos. "Para mim, a geometria é uma coisa que me serve para criar emoção."
Já era esse o seu objetivo quando aderiu ao movimento neoconcreto, em 1958. Naquele tempo, as pinturas de Hercules Barsotti ainda nem conheciam muito bem a voluptuosidade das cores que hoje tomam conta de suas pinturas.
Barsotti só começou a pintar "em cores", como ele diz, em 1963, quando descobriu a tinta acrílica em um anúncio de uma revista alemã. Até então, ele dispensava as cores porque "não tinha paciência para esperar a tinta óleo secar".
Atualmente, o artista faz da paciência um dos ingredientes de sua pintura. As telas que ele apresenta no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, quatro delas quadradas e quatro circulares, foram produzidas em uma mesa oval na sala de jantar de sua casa com persistentes "demãos" de tinta vermelha.
Com a sobreposição de camadas, o artista torna a superfície de suas pinturas homogênea, despistando assim o olhar do espectador que procura rastros dos caminhos do pincel.
Ele também não gosta de dar muitas pistas sobre seu trabalho. Na comparação de suas obras atuais com as pinturas anteriores, por exemplo, diz apenas: "Os novos são muito menos rígidos".
Ele garante que suas próximas pinturas seguirão o mesmo caminho: "Não vou parar nunca", diz com voz firme Barsotti.

Exposição: Vermelho, de Hercules Barsotti
Vernissage: hoje, às 20h Quando: segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 11h às 14h. Até 12 de setembro Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud (r. Artur de Azevedo, 401, Pinheiros, tel. 011/883-6322). Internet: www.raquelarnaud.com
Quanto: de R$ 12 mil a R$ 18 mil (pinturas em acrílica sobre tela)
Patrocinador: Almap/BBDO



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