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ARTES PLÁSTICAS
Mostra no Rio traz produção dos anos 60, com 21 inventores da arte contemporânea
Os primeiros pós-modernos
RODRIGO MOURA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
De um lado da galeria, o terno
cinzento, de feltro, áspero e soturno, pendurado na parede a uma
altura quase inacessível; do outro,
capas coloridas, de tecidos leves e
translúcidos, repousadas sobre
um cabide do qual devem ser retiradas e vestidas pelo espectador.
O diálogo entre o "Terno de Feltro" (1970), do alemão Joseph
Beuys (1921-1986), e os "Parangolés" (1964), do carioca Hélio Oiticica (1937-1980), dá a eloquente
medida do que a curadora tcheca
Milena Kalinovska pretendeu
com suas escolhas para a exposição "Além dos Preconceitos - A
Experiência dos Anos 60", que faz
sua primeira escala em território
nacional hoje, no Paço Imperial,
no Rio de Janeiro, depois de ter sido vista em Praga, Varsóvia e
Buenos Aires (a mostra virá ao
MAM-SP em janeiro próximo).
A curadoria enfoca a produção
dos anos 60 em quatro pólos geográficos -Leste Europeu e Europa Ocidental, América do Norte e
do Sul- para mostrar como novas poéticas visuais surgiram nesses locais, de maneira mais ou
menos assimétrica, mas tocando
objetivos parecidos.
É o momento em que, como
anuncia o crítico brasileiro Mário
Pedrosa, em 1966: "Não há mais
lugar (...) para a arte moderna,
com suas exigências de qualidade
e não-ambiguidade. Uma arte
pós-moderna inicia-se".
Obras essenciais entre os "primeiros pós-modernos", como as
de Oiticica e Lygia Clark (1921-1988), estão em sintonia, esvaziando o caráter "sacro" do objeto
de arte ao considerar que experiências no campo da ação (como
os "Parangolés", que, infelizmente, não poderão ser manipulados)
alcançam status de arte.
Outros ramos da genealogia da
arte contemporânea presentes na
mostra: Sol Lewitt, Piero Manzoni, Bruce Nauman, Eva Hesse, Ilya Kabakov, Marcel Broodthaers
-os mais divulgados de uma lista de 21 nomes e 125 obras que inclui artistas menos conhecidos,
como o croata Dimitrije Mangelos e a canadense Betty Goodwin,
e uma exceção aos critérios geográficos, o japonês On Kawara.
"São trabalhos que guardam
grandes afinidades entre si, mas
foram feitos, muitas vezes, sem
conhecimento uns dos outros",
diz Kalinovska. "O Brasil foi um
dos centros dessa revolução."
Entre os brasileiros, há ainda
Cildo Meireles e Ana Maria Maiolino; o argentino Victor Grippo
completa a representação sul-americana. "Naquele momento,
fim dos anos 60 e começo dos 70,
o artista brasileiro tinha uma situação privilegiada: Hélio e Lygia
como solo histórico e uma série
de novas coisas internacionais.
Para mim, era importante dar um
passo à frente", diz Meireles.
Milena Kalinovska, ela própria
uma exilada de seu país por 20
anos, enfatiza a importância do
contexto político para o florescimento dessas linguagens. "Os
anos 60 não foram utopia, mas o
resultado de várias situações políticas diferentes e determinantes."
Que agora, na elegante curadoria
de Kalinovska, se encontram.
ALÉM DOS PRECONCEITOS - A
EXPERIÊNCIA DOS ANOS 60 -
exposição com obras de 21 artistas
plásticos. Curadoria: Milena Kalinovska.
Produção: Independent Curators
International. Onde: Paço Imperial (pça.
15 de Novembro, 48, Rio, 0/xx/21/2533-4407). Quando: vernissage hoje, às
18h30; até 28/10; de ter. a dom., das 12h
às 17h30. Quanto: entrada franca.
O jornalista Rodrigo Moura viajou a
convite do Paço Imperial
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