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Comida
Muito além da parrilla
Com variedade de restaurantes e bons preços, Buenos Aires
se firma como destino gastronômico para brasileiros
Com variedade de restaurantes e bons preços, se firma como destino gastronômico para brasileiros
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA, EM BUENOS AIRES
Estive algumas vezes em
Buenos Aires neste ano -e não
me arrependi. Com toda a loucura da crise de energia, do presidente oferecendo a mulher ao
eleitorado, das ruas um tanto
sujas e das incertezas climáticas, a cidade permanece bonita
e com um verniz civilizado que
continua dando inveja.
E, se em matéria de churrascos e de comida italiana (especialidades locais) São Paulo já
passou na frente, a gastronomia da cidade vem se enriquecendo. Restaurantes modernos, ingredientes de origem,
chefs imaginativos, tudo isso
parece uma dádiva na hora da
conta: com o câmbio atual, tudo
fica um terço mais barato do
que no Brasil. Uma conta de 50
pesos (por uma refeição que
aqui sairia por R$ 50) custa cerca de R$ 30. Com bons vinhos
nacionais. Vale a viagem.
Não mencionei, entre as características da cidade, a inevitável presença de portenhos,
em geral com o nariz empinado
e a voz alta despejando intermináveis certezas aos borbotões.
Mas não me incomoda -tenho
bons amigos portenhos, e eles
são os primeiros a admitir
este viés de arrogância e a se
divertir com eles.
Menos nos restaurantes: o
serviço é o maior problema
mesmo nas casas mais caras.
Um problema que começa no
descaso dos proprietários com
o assunto e contamina brigadas
que se portam como se fizessem um favor ao cliente.
Motivos para visitar
Desagradável, mas menos
ruim se a gente se concentra na
comida. Este não é um roteiro
preciso do melhor de Buenos
Aires (seria preciso muito tempo lá para chegar a tal), mas são
lugares que o viajante, com
mais ou menos dinheiro, teria
motivos para visitar.
Um turista gourmet, em busca de cozinhas com grande refinamento, pode encontrá-las
em vários estilos. À moda francesa, ela pode estar no La
Bourgogne, do chef Jean-Paul
Bondoux, instalado no Alvear
Palace Hotel, o mais elegante,
europeu e charmoso da cidade.
Os hotéis, aliás, sediam grandes restaurantes. Por exemplo,
uma cozinha refinada com um
toque argentino pode ser encontrada no Agraz, preparada
por Rodrigo Toso no simpático
Caesar Park -os dois hotéis ficam na Recoleta.
Preparada pelas irmãs Ada e
Ebe Concaro, uma das melhores mesas argentinas é a do Tomo 1, no hotel Panamericano,
no centro.
Se é para sair do hotel, a cozinha elaborada do Nectarine é
uma grande opção -produtos
de primeira, pratos delicados,
ambiente romântico e acolhedor. Ou então, um clássico de
Buenos Aires, o espanhol Oviedo, conhecido por seus frutos
do mar e vinhos.
Alguns lugares mostram a
badalação e a efervescência
portenhas. São bonitos e animados, mas de uma forma geral
a comida é sacrificada. O Sucre
é o melhor exemplo, com seu
lindo espaço, com seu chef criativo (Fernando Trocca), seu
cardápio apetitoso, mas pratos
de execução irregular e serviço
medonho. Melhor ficar num
drinque no belo balcão.
Quem quer opções mais triviais ou baratas não fica na
mão. O Pierino tem cozinha italiana farta, temperada com a
simpatia dos proprietários. No
La Prometida uma refeição
completa no almoço, com pratos típicos, custa o equivalente
a menos de R$ 10. Suas empanadas rivalizam com as do El
Sanjuanino.
Mais barato que isso só indo
passear a pé pela Costanera
Sur, às margens do rio da Prata,
experimentando as barracas de
choripán (o sanduíche típico
portenho, de pão com lingüiça).
E churrasco, nem pensar?
Pense sim, e prove. Entre as opções mais típicas e de preços
acessíveis está a La Brigada
(minha preferida é a do bairro
de San Telmo); e uma relativamente nova, La Cabrera, onde o
proprietário Gastón Rivera cuida pessoalmente dos pratos,
como a bela molleja (timo) servida inteira entre vários acompanhamentos.
O jornalista JOSIMAR MELO viajou a convite
dos hotéis Alvear Palace e Caesar Park
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