São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2007

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Comida

Muito além da parrilla

Com variedade de restaurantes e bons preços, Buenos Aires se firma como destino gastronômico para brasileiros
Com variedade de restaurantes e bons preços, se firma como destino gastronômico para brasileiros

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA, EM BUENOS AIRES

Estive algumas vezes em Buenos Aires neste ano -e não me arrependi. Com toda a loucura da crise de energia, do presidente oferecendo a mulher ao eleitorado, das ruas um tanto sujas e das incertezas climáticas, a cidade permanece bonita e com um verniz civilizado que continua dando inveja.
E, se em matéria de churrascos e de comida italiana (especialidades locais) São Paulo já passou na frente, a gastronomia da cidade vem se enriquecendo. Restaurantes modernos, ingredientes de origem, chefs imaginativos, tudo isso parece uma dádiva na hora da conta: com o câmbio atual, tudo fica um terço mais barato do que no Brasil. Uma conta de 50 pesos (por uma refeição que aqui sairia por R$ 50) custa cerca de R$ 30. Com bons vinhos nacionais. Vale a viagem.
Não mencionei, entre as características da cidade, a inevitável presença de portenhos, em geral com o nariz empinado e a voz alta despejando intermináveis certezas aos borbotões. Mas não me incomoda -tenho bons amigos portenhos, e eles são os primeiros a admitir este viés de arrogância e a se divertir com eles.
Menos nos restaurantes: o serviço é o maior problema mesmo nas casas mais caras. Um problema que começa no descaso dos proprietários com o assunto e contamina brigadas que se portam como se fizessem um favor ao cliente.

Motivos para visitar
Desagradável, mas menos ruim se a gente se concentra na comida. Este não é um roteiro preciso do melhor de Buenos Aires (seria preciso muito tempo lá para chegar a tal), mas são lugares que o viajante, com mais ou menos dinheiro, teria motivos para visitar.
Um turista gourmet, em busca de cozinhas com grande refinamento, pode encontrá-las em vários estilos. À moda francesa, ela pode estar no La Bourgogne, do chef Jean-Paul Bondoux, instalado no Alvear Palace Hotel, o mais elegante, europeu e charmoso da cidade.
Os hotéis, aliás, sediam grandes restaurantes. Por exemplo, uma cozinha refinada com um toque argentino pode ser encontrada no Agraz, preparada por Rodrigo Toso no simpático Caesar Park -os dois hotéis ficam na Recoleta.
Preparada pelas irmãs Ada e Ebe Concaro, uma das melhores mesas argentinas é a do Tomo 1, no hotel Panamericano, no centro.
Se é para sair do hotel, a cozinha elaborada do Nectarine é uma grande opção -produtos de primeira, pratos delicados, ambiente romântico e acolhedor. Ou então, um clássico de Buenos Aires, o espanhol Oviedo, conhecido por seus frutos do mar e vinhos.
Alguns lugares mostram a badalação e a efervescência portenhas. São bonitos e animados, mas de uma forma geral a comida é sacrificada. O Sucre é o melhor exemplo, com seu lindo espaço, com seu chef criativo (Fernando Trocca), seu cardápio apetitoso, mas pratos de execução irregular e serviço medonho. Melhor ficar num drinque no belo balcão.
Quem quer opções mais triviais ou baratas não fica na mão. O Pierino tem cozinha italiana farta, temperada com a simpatia dos proprietários. No La Prometida uma refeição completa no almoço, com pratos típicos, custa o equivalente a menos de R$ 10. Suas empanadas rivalizam com as do El Sanjuanino.
Mais barato que isso só indo passear a pé pela Costanera Sur, às margens do rio da Prata, experimentando as barracas de choripán (o sanduíche típico portenho, de pão com lingüiça).
E churrasco, nem pensar?
Pense sim, e prove. Entre as opções mais típicas e de preços acessíveis está a La Brigada (minha preferida é a do bairro de San Telmo); e uma relativamente nova, La Cabrera, onde o proprietário Gastón Rivera cuida pessoalmente dos pratos, como a bela molleja (timo) servida inteira entre vários acompanhamentos.


O jornalista JOSIMAR MELO viajou a convite dos hotéis Alvear Palace e Caesar Park


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