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Arquitetos criticam novo neoclássico em SP
Shopping de Julio Neves, na Vila Olímpia, acentua onda de estilo dos "novos ricos"
Centro comercial que custou cerca de R$ 220 milhões será inaugurado em novembro: um caixote adornado com arcos e abóbada de vidro
Marcelo Justo/Folha Imagem
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Fachada ainda em obras do shopping Vila Olímpia,
em São Paulo, que será aberto em novembro
MARIANA BARROS
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Terá ares neoclássicos o mais
novo shopping de São Paulo.
Cercado de espigões espelhados na Olimpíadas, rua apertada da Vila Olímpia, o complexo
que leva o nome do bairro será
um caixote que mistura preceitos da arquitetura clássica a aspectos modernosos, como o
uso de vidro e metal. Serão 200
lojas, nove cinemas e um teatro
distribuídos em seis pisos.
Segue a cartilha dos centros
comerciais de luxo na cidade,
como a Villa Daslu e o shopping
Cidade Jardim, ambos concebidos pelo escritório do arquiteto Julio Neves, que também
fez o desenho do Vila Olímpia.
Procurado pela Folha, Neves
não comentou o projeto, dizendo que há um acordo de sigilo
com o Grupo Victor Malzoni e
com a Multiplan, que contrataram o arquiteto para desenhar
o complexo de R$ 220 milhões.
Chamando o projeto de "bolo de noiva" e "arquitetura de
novos ricos", arquitetos ouvidos pela reportagem criticam
os traços.
Fechado num único volume
bem demarcado, com formas
simétricas, arcos e materiais
nobres coroados por uma espécie de abóbada de vidro, é um
prédio que, na opinião de arquitetos, não se encaixa na paisagem urbana nem no tempo.
"É uma pena, por se prender
a algo que não é contemporâneo", afirma Felipe Aflalo, do
escritório Aflalo e Gasperini.
Paulo Mendes da Rocha,
vencedor do Pritzker, mais alto
prêmio da arquitetura mundial, vê nesse tipo de projeto o
"horrível para configurar o
horror". "Surge uma arquitetura de caráter não atual para
configurar o que já é horrível",
diz. "É um curral de lojas."
Na opinião do arquiteto Carlos Lemos, professor da USP,
há "uma espécie de ideologia
que faz com que o estilo neoclássico seja próprio dos shoppings finos que vendem grifes".
Em vez de seguir critérios arquitetônicos, são projetos que
respondem a supostas demandas de mercado identificadas
por departamentos de marketing. "O empresário tem sempre medo de errar, fica querendo saber o que o público quer",
conta o arquiteto Arthur Casas,
que foi chamado para suavizar
traços neoclássicos do interior
do shopping Cidade Jardim.
Enquanto o arquiteto Paulus
Magnus vê na tendência um reflexo da "arquitetura dos novos
ricos", o crítico Guilherme
Wisnik liga o neoclássico à herança colonial.
"É um estilo que serve muito
bem para a burguesia de lugares sem tradição."
Nesse ponto, a Casa Branca
em Washington, segundo Wisnik, não está tão distante dos
excessos neoclássicos paulistanos -construções em países
que buscaram um lastro estilístico na arquitetura europeia.
"Não sei de onde parte essa
ideia, mas há outras maneiras
de fazer algo interessante sem
apelar para um estilo que tem
tão pouca consistência, tão
pouca identidade", diz Felipe
Aflalo. Foi seu escritório que
fez o projeto original do shopping Iguatemi, inaugurado em
1966 e forte referência para esse tipo de centro comercial.
"Ele se acomoda no terreno
com aquelas rampas. Tem iluminação natural, coisas que foram mantidas ao longo do tempo, cada vez mais presente nos
shoppings modernos", afirma.
É um conceito que deve ser
repetido no centro comercial
que ocupará o terreno da antiga mansão Matarazzo, na esquina da avenida Paulista e da
rua Pamplona, no centro. Segundo Aflalo, o projeto buscará
ser acolhedor, "mais ambiente
de estar do que de corredor".
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