São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2010

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OPINIÃO

Brasil ainda deve documentário épico como "A Batalha do Chile"

PEDRO BUTCHER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Não tivesse feito mais nada, Patricio Guzmán já teria um posto reservado na história do cinema pela empreitada que é "A Batalha do Chile", um dos grandes documentários políticos já feitos, disponível em DVD no Brasil.
Dividido em três partes (lançadas em 1975, 1977 e 1979), o filme é ao mesmo tempo um testemunho e uma dissecação do momento mais turbulento da história chilena, culminando no golpe que derrubou Salvador Allende, em 1973.
As imagens e entrevistas foram feitas no calor da hora, com a câmera na rua. Apesar da parcialidade assumida, o ocasional tom panfletário é superado pela urgência e obstinação em testemunhar a convulsão em Santiago.
Na primeira parte, "A Insurreição da Burguesia", Guzmán vai às ruas e revela um país dividido entre defensores das reformas de Allende e partidários da oposição, cuja vitória era dada como certa. O resultado da votação, no entanto, confirma o apoio da maioria a Allende, o que dá início a uma saída desesperada: uma forte campanha para inviabilizar o governo, com boicotes e greves.
Em "O Golpe de Estado", o Chile está em convulsão, paralisado pelo racionamento de alimentos e energia e por uma greve de transportes.
A extrema direita ganha força. O governo convoca um plebiscito, mas o Palácio de La Moneda é bombardeado e Allende morre.
Na terceira parte, "O Poder Popular", Guzmán volta um pouco no tempo e se detém nos movimentos de resistência ao boicote econômico e às greves que procuraram minar o governo Allende.
Guzmán realizou outros filmes, quase todos eles em torno da ditadura, mas "A Batalha do Chile" continua sendo seu maior trabalho.
É um documentário trágico e épico como poucos -o filme que o Brasil ainda está devendo sobre sua própria história.


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