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OPINIÃO
Brasil ainda deve documentário épico como "A Batalha do Chile"
PEDRO BUTCHER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Não tivesse feito mais nada, Patricio Guzmán já teria
um posto reservado na história do cinema pela empreitada que é "A Batalha do Chile", um dos grandes documentários políticos já feitos,
disponível em DVD no Brasil.
Dividido em três partes
(lançadas em 1975, 1977 e
1979), o filme é ao mesmo
tempo um testemunho e uma
dissecação do momento
mais turbulento da história
chilena, culminando no golpe que derrubou Salvador
Allende, em 1973.
As imagens e entrevistas
foram feitas no calor da hora,
com a câmera na rua. Apesar
da parcialidade assumida, o
ocasional tom panfletário é
superado pela urgência e
obstinação em testemunhar
a convulsão em Santiago.
Na primeira parte, "A Insurreição da Burguesia",
Guzmán vai às ruas e revela
um país dividido entre defensores das reformas de Allende e partidários da oposição,
cuja vitória era dada como
certa. O resultado da votação, no entanto, confirma o
apoio da maioria a Allende, o
que dá início a uma saída desesperada: uma forte campanha para inviabilizar o governo, com boicotes e greves.
Em "O Golpe de Estado", o
Chile está em convulsão, paralisado pelo racionamento
de alimentos e energia e por
uma greve de transportes.
A extrema direita ganha
força. O governo convoca um
plebiscito, mas o Palácio de
La Moneda é bombardeado e
Allende morre.
Na terceira parte, "O Poder
Popular", Guzmán volta um
pouco no tempo e se detém
nos movimentos de resistência ao boicote econômico e às
greves que procuraram minar o governo Allende.
Guzmán realizou outros
filmes, quase todos eles em
torno da ditadura, mas "A
Batalha do Chile" continua
sendo seu maior trabalho.
É um documentário trágico e épico como poucos -o
filme que o Brasil ainda está
devendo sobre sua própria
história.
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