|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Criador do Spirit, quadrinhista norte-americano chega sexta para lançar livro e abrir mostra
Eisner volta ao Brasil e vira documentário
PEDRO CIRNE DE ALBUQUERQUE
do Guia da Folha
Um documentário, um livro e
uma exposição trazem ao Brasil
um dos maiores quadrinhistas da
atualidade: o norte-americano
Will Eisner, criador do Spirit.
A vida do quadrinhista foi documentada em vídeo pela primeira vez em "Will Eisner - Profissão
Cartunista", da carioca Marisa
Furtado. O filme, que estréia nesta
sexta na TV Senac (leia texto nesta
página), é o principal motivo de o
artista vir pela sexta vez ao Brasil.
A obra é muito oportuna, pelo
ineditismo e pela riqueza do personagem enfocado. De Frank Miller a Mauricio de Sousa, muitos
quadrinhistas de renome se dizem influenciados pelas histórias
de Eisner. Como desenhista, ele
inovou com suas tomadas cinematográficas, com sua descrição
de personagens e com a maneira
como fundia a tipografia aos cenários das histórias.
Escrevendo, Eisner foi um dos
precursores na humanização dos
personagens. Seu super-herói
Spirit, por exemplo, não tinha poderes, era tímido e muitas vezes
era derrotado nas lutas corpo a
corpo com seus inimigos.
Além do filme, a obra de Eisner
também é tema de uma exposição: "No Espírito de Will Eisner",
aberta a partir de sexta-feira no
Senac. O próprio Eisner estará
presente para a abertura.
Há ainda um terceiro motivo
para a vinda do autor: o lançamento do livro "O Último
Cavaleiro" (Cia. das Letras,
32 págs., R$ 16), adaptação
de Eisner para "Dom Quixote", de Cervantes.
"Circulam rumores por aí
que tenho 82 anos, mas eu não
sei se é verdade -não me sinto
assim!", brincou Eisner ao conversar com a Folha. A seguir, a
entrevista.
Folha - Esse documentário é o
primeiro feito sobre o sr. Como
foi dar as entrevistas para "Will
Eisner - Profissão Cartunista"?
Will Eisner - É sempre difícil dar
entrevistas. Você se sente um
pouco nu. Mas a Marisa (Furtado,
diretora do filme) é uma grande
amiga, estou em boas mãos!
Folha - O sr. já veio diversas
vezes ao Brasil. Na última,
foi homenageado na
Bienal de Quadrinhos
de Belo Horizonte.
Agora, será para a
estréia de um documentário sobre o sr.
Qual a sua relação com
o Brasil?
Eisner - É o meu segundo lar.
Há algo entre eu e os brasileiros.
Eu posso não falar a língua, mas
de algum modo eu os entendo.
Talvez em uma outra vida eu tenha sido brasileiro (risos).
Folha - Por que o sr. adaptou
"Dom Quixote" para as HQs?
Eisner - As histórias em quadrinhos são a principal mídia que
atinge os jovens leitores. E eles
não lêem os autores clássicos, como Cervantes. Eu acho que é hora
de introduzir os clássicos nessa
grande mídia, para que eles cheguem aos jovens leitores.
Folha - No que o sr. está trabalhando atualmente?
Eisner - Completei agora "A Family Matter" (Uma Questão Familiar). Aborda as relações entre
as jovens famílias de hoje e seus
parentes mais velhos. Eu discuto
o problema da falta de tempo que
os jovens têm com seus avós. É
um tipo de relação muito diferente, se comparada com a que a minha geração tinha, por exemplo. É
um livro muito sério, diferente
dos que fiz recentemente.
Folha - O sr. lê quadrinhos
atualmente?
Eisner - Há muitos gibis espalhados pelo meu escritório. Parece que eles não têm história, apenas efeitos especiais. É como se
eles fossem feitos para serem vistos, não para serem lidos.
Folha - O sr. não vê nada de
bom nas HQs contemporâneas?
Eisner - Gosto do "Bone", de
Jeff Smith, e de Frank Miller.
Folha - E o sr. não acompanha
nada do Brasil?
Eisner - Eu sei que o meu amigo
Ziraldo lançou uma revista que
está fazendo sucesso ("Bundas").
E sei que o nome da revista é
aquele lugar sobre onde nós nos
apoiamos para sentar (risos).
Texto Anterior: Marcelo Coelho: Nós, os paulistas, somos muito chatos Próximo Texto: Profissão cartunista: Série na TV é curiosa Índice
|