São Paulo, Quarta-feira, 06 de Outubro de 1999
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Criador do Spirit, quadrinhista norte-americano chega sexta para lançar livro e abrir mostra

Eisner volta ao Brasil e vira documentário

PEDRO CIRNE DE ALBUQUERQUE
do Guia da Folha

Um documentário, um livro e uma exposição trazem ao Brasil um dos maiores quadrinhistas da atualidade: o norte-americano Will Eisner, criador do Spirit.
A vida do quadrinhista foi documentada em vídeo pela primeira vez em "Will Eisner - Profissão Cartunista", da carioca Marisa Furtado. O filme, que estréia nesta sexta na TV Senac (leia texto nesta página), é o principal motivo de o artista vir pela sexta vez ao Brasil.
A obra é muito oportuna, pelo ineditismo e pela riqueza do personagem enfocado. De Frank Miller a Mauricio de Sousa, muitos quadrinhistas de renome se dizem influenciados pelas histórias de Eisner. Como desenhista, ele inovou com suas tomadas cinematográficas, com sua descrição de personagens e com a maneira como fundia a tipografia aos cenários das histórias.
Escrevendo, Eisner foi um dos precursores na humanização dos personagens. Seu super-herói Spirit, por exemplo, não tinha poderes, era tímido e muitas vezes era derrotado nas lutas corpo a corpo com seus inimigos.
Além do filme, a obra de Eisner também é tema de uma exposição: "No Espírito de Will Eisner", aberta a partir de sexta-feira no Senac. O próprio Eisner estará presente para a abertura.
Há ainda um terceiro motivo para a vinda do autor: o lançamento do livro "O Último Cavaleiro" (Cia. das Letras, 32 págs., R$ 16), adaptação de Eisner para "Dom Quixote", de Cervantes.
"Circulam rumores por aí que tenho 82 anos, mas eu não sei se é verdade -não me sinto assim!", brincou Eisner ao conversar com a Folha. A seguir, a entrevista.

Folha - Esse documentário é o primeiro feito sobre o sr. Como foi dar as entrevistas para "Will Eisner - Profissão Cartunista"?
Will Eisner -
É sempre difícil dar entrevistas. Você se sente um pouco nu. Mas a Marisa (Furtado, diretora do filme) é uma grande amiga, estou em boas mãos!

Folha - O sr. já veio diversas vezes ao Brasil. Na última, foi homenageado na Bienal de Quadrinhos de Belo Horizonte. Agora, será para a estréia de um documentário sobre o sr. Qual a sua relação com o Brasil?
Eisner -
É o meu segundo lar. Há algo entre eu e os brasileiros. Eu posso não falar a língua, mas de algum modo eu os entendo. Talvez em uma outra vida eu tenha sido brasileiro (risos).

Folha - Por que o sr. adaptou "Dom Quixote" para as HQs?
Eisner -
As histórias em quadrinhos são a principal mídia que atinge os jovens leitores. E eles não lêem os autores clássicos, como Cervantes. Eu acho que é hora de introduzir os clássicos nessa grande mídia, para que eles cheguem aos jovens leitores.

Folha - No que o sr. está trabalhando atualmente?
Eisner -
Completei agora "A Family Matter" (Uma Questão Familiar). Aborda as relações entre as jovens famílias de hoje e seus parentes mais velhos. Eu discuto o problema da falta de tempo que os jovens têm com seus avós. É um tipo de relação muito diferente, se comparada com a que a minha geração tinha, por exemplo. É um livro muito sério, diferente dos que fiz recentemente.

Folha - O sr. lê quadrinhos atualmente?
Eisner -
Há muitos gibis espalhados pelo meu escritório. Parece que eles não têm história, apenas efeitos especiais. É como se eles fossem feitos para serem vistos, não para serem lidos.

Folha - O sr. não vê nada de bom nas HQs contemporâneas?
Eisner -
Gosto do "Bone", de Jeff Smith, e de Frank Miller.

Folha - E o sr. não acompanha nada do Brasil?
Eisner -
Eu sei que o meu amigo Ziraldo lançou uma revista que está fazendo sucesso ("Bundas"). E sei que o nome da revista é aquele lugar sobre onde nós nos apoiamos para sentar (risos).


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