São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2000

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Paulo Coelho autografa hoje, na ABL, no Rio, "O Demônio e a Srta. Prym", seu nono romance; trama se passa num vilarejo francês e mostra a disputa entre o bem e o mal nos habitantes
Acima do bem e do mal

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
O escritor Paulo Coelho, que lança novo romance, durante entrevista em seu apartamento em Copacabana, em frente a quadro feito por Cristina Oiticica, sua mulher


CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

O "mago" Paulo Coelho, 53, gosta de desmentir profecias. "Havia duas a meu respeito: uma, que eu não ultrapassaria o segundo livro. Outra, que se ultrapassasse, não ultrapassaria o terceiro", disse à Folha em seu apartamento, em Copacabana.
Hoje, após vender 29 milhões de livros em 120 países -segundo a revista francesa "Lire"-, Paulo Coelho lança seu nono romance: "O Demônio e a Srta. Prym", que trata de um embate entre o bem e o mal no qual nem o bem é tão bom nem o mal é tão mau.
E, para contrariar de vez as profecias que não lhe acenavam com um futuro promissor, escolheu o "templo-mor" da literatura brasileira para mostrar a obra: a partir das 17h, ele estará na Academia Brasileira de Letras (centro do Rio) autografando o romance, lançado simultaneamente no Brasil, Portugal e Itália -no Brasil com tiragem inicial de 210 mil exemplares, recorde no mercado editorial do país.
"Não é um livro maniqueísta. Seria desonesto da minha parte colocar soluções para conflitos que não têm solução, como o bem e o mal na alma do homem. Tanto o bem quanto o mal são muito relativos", diz sobre a obra.
O romance se passa em Viscos, cidade com pouco mais de 200 habitantes nos Pirineus franceses, que Coelho conheceu em uma de suas andanças pelo mundo.
A chegada de um estrangeiro dá a partida para acontecimentos que, para o autor, mostram que o mal e o bem andam próximos.
"Ali, todos os personagens têm um anjo e um demônio se equilibrando. O problema reside na capacidade de saber quando escutar o anjo e não o demônio", conta.
E os moradores locais passam a ouvir mais os seus demônios quando vêem a possibilidade de ficarem ricos. A partir daí, Coelho descreve uma série de pequenos atos de crueldade e mesquinharia.
"Há momentos bastante cruéis, mas escrevo o que sinto, e sei que alguns temas podem dar problema. Quando escrevi uma cena de masturbação em "Veronika Decide Morrer", tive problemas. Recebi cartas de três professores da Inglaterra, onde meus livros são adotados em escolas, dizendo que os alunos o liam como se fosse algo pornográfico, e que eu estava traindo meu público. Se escolhi agora escrever sobre o bem e o mal, tenho de falar sobre essa forma do mal que é a crueldade."
A Viscos real é idêntica à descrita no livro. Três ruas, muitas ladeiras, poucos habitantes, um hotel, uma lojinha e uma fonte com uma imagem do Sol, de onde jorra água sobre a de um sapo.
Se a Viscos do romance é igual à real, o que irão pensar do livro seus moradores -que, na Viscos fictícia, mostram um lado cruel e profundamente egoísta?
"Durante os oito meses em que escrevi o livro, cogitei apertar o botão "substitua" do computador e trocar Viscos por qualquer outra coisa -"Compaq", quem sabe?-, mas não consegui. E sei que vai dar confusão", diz Paulo Coelho.
Mas o escritor que gosta de desmentir profecias tem uma sugestão para os moradores da Viscos real: explorar turisticamente o fato de a cidade ser o cenário de "O Demônio e a Srta. Prym".
"Viscos pode se tornar um lugar como Saint Savin (também na França), cenário de "Às Margens do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei", e virar "point" de turismo. O prefeito de lá deveria ser inteligente e colocar uma plaquinha dizendo: "Aqui se passa a história de "O Demônio e a Srta. Prym"."

Livro: O Demônio e a Srta. Prym
Autor: Paulo Coelho
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 19,90 (126 pág.)



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