São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição procura jogar luz a estrangeiros que desenvolveram e trabalharam com formas geométricas

Mostra retira imagem verde-amarela do construtivismo

ALEXANDRA MORAES
DA REPORTAGEM LOCAL

O uso consciente das formas geométricas mudou o modo de ver e de produzir arte em todo o mundo no início do século 20, mas particularmente a partir dos anos 50 modificou radicalmente a arte brasileira, que flertou com o construtivismo e adotou como filhos pródigos o concretismo e, mais tarde, o neoconcretismo.
Indissociável da arte produzida no Brasil até hoje, o construtivismo foi reverenciado no Brasil de tal maneira que chega-se a "esquecer dos estrangeiros", tão numerosos e importantes são os artistas nacionais que se dedicaram ao seu desenvolvimento -Lygias Clark e Pape, Antônio Maluf, Hélio Oiticica, Abraham Palatnik, Luiz Sacilotto, Ivan Serpa e Geraldo de Barros, por exemplo.
Com a intenção de jogar luz também sobre a produção internacional, o crítico de arte e curador Celso Fioravante juntou no pequeno espaço da galeria Berenice Arvani, para a mostra "Construtivos e Cinéticos", grandes nomes que ajudaram a solidificar a arte construtiva e cinética mundo afora -e, fatalmente, no Brasil, onde a arquitetura moderna de Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Vilanova Artigas tornou especialmente confortável sua presença.
Dentre esses grandes nomes, estão o suíço Max Bill, que deu fôlego à sanha construtiva no Brasil em 1951, com uma exposição individual no Masp e ao vencer a 1ª Bienal de Arte de São Paulo, com a escultura "Unidade Tripartida", hoje no acervo do MAC-USP; Jesús Soto, venezuelano que se radicou em Paris e desenvolveu uma sólida e pioneira pesquisa de arte cinética; Carlos Cruz Diez, compatriota de Soto, também investigador da arte cinética (em que o movimento é parte da estrutura da obra de arte, em vez de ser apenas representado por ela).
Fioravante reuniu serigrafias de 22 europeus e latino-americanos, produzidas nos anos 60 e 70 para a galerista francesa Denise René, incentivadora da arte construtiva. "Normalmente, as mostras sobre construtivismo no Brasil têm só artistas brasileiros, já que ele foi adotado com entusiasmo muito grande no país, onde dialogava com a arquitetura", diz o curador.
"Aproveitamos esse acervo para mostrar que o construtivismo não é privilégio do Brasil e teve força em outros lugares. A França foi um país em que o construtivismo se desenvolveu muito, com artistas vindos de várias partes do mundo", completa, referindo-se aos húngaros Victor Vasarely e Lajos Kassak, ao israelense Yaacov Agam, ao argentino Hugo Demarco, ao croata Ivan Picelj, ao suíço Willi Müller-Brittnau e ao brasileiro Almir Mavignier, alguns dos artistas que receberam o apoio de Denise René.
Além de parte do acervo que pertenceu a René, que hoje é de um colecionador europeu, obras únicas da galeria completam a exposição, indo do início dos anos 50, com Antônio Maluf, a 2003, em obras dos jovens Maurício Ianês, Egidio Rocci e Nobuhiko Suzuki. A mostra também contempla personagens importantes do movimento construtivo no Brasil que não ganharam tanta visibilidade como alguns de seus colegas, caso de Arnaldo Ferrari, Ubi Bava e Mary Vieira.
Na montagem da exposição, Fioravante homenageia a arquiteta Lina Bo Bardi, ao evocar os cavaletes de vidro projetados para a exposição de obras no Masp, abandonados pela atual gestão do museu.


CONSTRUTIVOS E CINÉTICOS. Onde: galeria Berenice Arvani (r. Oscar Freire, 540, SP, tel. 0/xx/11/3088-2843). Quando: abertura hoje, às 20h; de seg. a sex.: das 10h às 19h30; até 8/11. Quanto: grátis. Obras: de R$ 3 mil a R$ 150 mil.


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