MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Entre os concretistas de primeira a última hora, só encontraremos um, Lothar Charoux." A frase do crítico de arte Frederico Morais, reproduzida em "A Poética da Linha", de Maria Alice Milliet, livro que ganha lançamento hoje na Dan Galeria, é bastante representativa.
Ao mesmo tempo em que frisa a importância de Charoux (1912-1987), austríaco radicado no Brasil, levanta uma questão: por que sua obra ainda não havia ganhado hoje um pleno reconhecimento?
Milliet mergulhou no variado acervo familiar e em material de época (catálogos, reportagens) para elaborar um livro que, finalmente, insere Charoux entre os grandes artistas brasileiros.
"Podemos dizer que muitas dessas obras estavam adormecidas, no acervo familiar ou em reservas técnicas. O mercado até agora não o valoriza suficientemente", conta a autora.
O próprio artista também tinha um caráter desprendido. Vendia pouco, trocava obras com amigos -alguns deles foram retratados, como Marcelo Grassmann e Maria Leontina- e enviava dezenas de cartões de Natal, criados cuidadosamente por ele, para amigos como Waldemar Cordeiro, Luiz Sacilotto, Hermelindo Fiaminghi, Aldo Bonadei, Arcangelo Ianelli e Amelia Toledo, entre outros.
"Lothar Charoux é, antes de tudo, um artista consciencioso e coerente. (...) Suas mostras valem pelo testemunho, que sempre nos dão, dessa coerência. Sua arte é feita de rigor."
O testemunho de Mário Pedrosa, em catálogo de exposição de 1962, reproduzido por Milliet reforça uma das possíveis explicações sobre o "esquecimento" em relação à obra do artista. "Sempre foi um artista fiel aos seus princípios artísticos, não cedendo a modismos", avalia a autora.
Milliet também conta aspectos não muito lembrados sobre o artista, como a influência do seu tio escultor, o austríaco Sigfried Charoux. Eles mantiveram contato mesmo após a vinda de Lothar ao Brasil e sempre discutiam por cartas idéias sobre arte.
Excelente complemento à leitura de "A Poética da Linha" é a mostra de 60 pinturas e desenhos de Charoux, aberta hoje para convidados na Dan Galeria. O MAM também abriga essencial antologia do artista, só até domingo.