São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2006

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Cinema

Estréia documentário que inspirou novela das 8

Diretor lança "novo olhar" sobre síndrome de Down

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Após concluir "Do Luto à Luta", em 2005, Evaldo Mocarzel ouvia com freqüência uma pergunta: para que exibir em cinemas um filme sobre síndrome de Down, que poderia se bastar como vídeo institucional?
Pois o documentário chega hoje ao circuito comercial fortalecido por ter influenciado Manoel Carlos a pôr a síndrome como um dos temas principais de "Páginas da Vida". Quem interpreta a menina Clara na novela é Joana Mocarzel, 7, filha do cineasta.
"Eu queria semear um novo olhar sobre a síndrome de Down. Se você deixa num gueto institucional, não contamina a sociedade", explica ele.
"Do Luto à Luta" cruza várias histórias. Há o adulto que conseguiu se tornar independente, o surfista, o casal que quer fazer cinema, além de pais contando como receberam o diagnóstico e iniciaram a batalha para estimular os filhos.
"Meu primeiro público-alvo eram os pais no calor da notícia. Quando você vai para a maternidade ter um filho, todos os seus ideais de perfeição vão junto. Aí chega um médico e te diz que seu filho tem um problema de má formação genética. É um desamparo, que pode virar preconceito. Quis mostrar a luz no fim do túnel, dar uma informação humanizada e dessacralizar o monstro, que não existe", conta Mocarzel.
Nos festivais onde foi exibido, "Do Luto à Luta" ganhou muitos prêmios e aplausos. Mas Mocarzel, que dirigiu documentários de temática social como "À Margem da Imagem" e "À Margem do Concreto", também ouviu comentários de que o filme priorizava casos de classes média e alta.
"Não é bem verdade. Das locações, 70% são Apaes (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). E a classe média e os ricos põem seus filhos em clínicas particulares. Eu tinha downs negros, japoneses, mas não procurei fazer um documentário étnico nem social. Quis fazer um desfile de humanidades mapeando histórias de vidas", diz ele.
Joana faz apenas uma ponta, mas sem ela não existiria o desejo de Mocarzel de fazer um filme sobre o tema.
"O filme foi a cereja do bolo de um processo muito dolorido, mas que me fez melhorar como ser humano", conta ele.


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