São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cie. Philippe Saire traduz variações do medo

RAQUEL COZER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A expressão francesa "se faire un sang d'encre" encerra uma acepção que a tradução literal esconde: "fazer um sangue de tinta", por aquelas bandas, refere-se a viver uma inquietude extrema, a passar por grande preocupação.
É este desassossego impregnado na rotina o que a Cie. Philippe Saire, uma das maiores referências da dança experimental na Suíça, tenta desenredar no Sesc Pinheiros, de hoje a domingo, no espetáculo que recebe o nome "Sang d'Encre".
A coreografia exprime o ambiente em que o medo germina e a forma como esse sentimento pode evoluir até perder o sentido. Não é de espantar a quantidade de gritos, fugas e discursos nonsense a que os intérpretes recorrem quando isso acontece. A certa altura, por exemplo, os seis artistas passam a se colocar em falsas situações de perigo -somente para se certificar de que os colegas sejam capazes de reagir em caso de riscos reais.
Em sua investigação acerca dos temores humanos, o coreógrafo Philippe Saire, 49, evitou buscar razões para eles.
"Enquanto pensava em como dar forma ao espetáculo, eu me dei conta do quanto a sociedade se organiza a partir do medo. Hoje em dia, vive-se em constante receio. De sentir fome ou frio, de sofrer alguma injustiça, de ser vítima de violência. As pessoas têm medo de sentir medo", diz Saire, em sua terceira visita ao Brasil.

"Tome cuidado"
O clima predominante de tensão é alimentado por letreiros eletrônicos dispostos no palco, que avisam: "Tome cuidado" (seja lá com o que for) e viram apetrechos essenciais dentro da coreografia.
A sensação de imediatismo também transparece no gestual direto dos intérpretes. "Procurei trabalhar a eficácia do movimento mínimo, sem poluição visual", diz o diretor.
O experimentalismo comum às obras de Philippe Saire encontra ressonância na trilha sonora bolada por Christophe Bollondi, entremeada por trechos de "Across the Dial", do duo alemão de indie eletrônico Tarwater -que no ano passado esteve no festival multimídia Resfest, em São Paulo.
"Christophe fez uma pesquisa para encontrar a atmosfera de tensão que procurei passar. O som meio hipnótico e de efeitos de computador é um elemento a mais nesse ambiente atribulado", diz Saire.


SANG D'ENCRE
Onde:
Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel. 0/xx/11/3095-9400)
Quando: hoje e amanhã, às 21h; dom., às 18h
Quanto: R$ 10 a R$ 20


Texto Anterior: "Paralela" reúne 146 artistas no Ibirapuera
Próximo Texto: Justiça garante show do RDB no Rio
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.