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Cie. Philippe Saire traduz variações do medo
RAQUEL COZER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A expressão francesa "se faire un sang d'encre" encerra
uma acepção que a tradução literal esconde: "fazer um sangue de tinta", por aquelas bandas, refere-se a viver uma inquietude extrema, a passar por
grande preocupação.
É este desassossego impregnado na rotina o que a Cie. Philippe Saire, uma das maiores
referências da dança experimental na Suíça, tenta desenredar no Sesc Pinheiros, de hoje a
domingo, no espetáculo que recebe o nome "Sang d'Encre".
A coreografia exprime o ambiente em que o medo germina
e a forma como esse sentimento pode evoluir até perder o
sentido. Não é de espantar a
quantidade de gritos, fugas e
discursos nonsense a que os intérpretes recorrem quando isso acontece. A certa altura, por
exemplo, os seis artistas passam a se colocar em falsas situações de perigo -somente
para se certificar de que os colegas sejam capazes de reagir em
caso de riscos reais.
Em sua investigação acerca
dos temores humanos, o coreógrafo Philippe Saire, 49, evitou
buscar razões para eles.
"Enquanto pensava em como
dar forma ao espetáculo, eu me
dei conta do quanto a sociedade
se organiza a partir do medo.
Hoje em dia, vive-se em constante receio. De sentir fome ou
frio, de sofrer alguma injustiça,
de ser vítima de violência. As
pessoas têm medo de sentir
medo", diz Saire, em sua terceira visita ao Brasil.
"Tome cuidado"
O clima predominante de
tensão é alimentado por letreiros eletrônicos dispostos no
palco, que avisam: "Tome cuidado" (seja lá com o que for) e
viram apetrechos essenciais
dentro da coreografia.
A sensação de imediatismo
também transparece no gestual
direto dos intérpretes. "Procurei trabalhar a eficácia do movimento mínimo, sem poluição
visual", diz o diretor.
O experimentalismo comum
às obras de Philippe Saire encontra ressonância na trilha sonora bolada por Christophe
Bollondi, entremeada por trechos de "Across the Dial", do
duo alemão de indie eletrônico
Tarwater -que no ano passado
esteve no festival multimídia
Resfest, em São Paulo.
"Christophe fez uma pesquisa para encontrar a atmosfera
de tensão que procurei passar.
O som meio hipnótico e de efeitos de computador é um elemento a mais nesse ambiente
atribulado", diz Saire.
SANG D'ENCRE
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme,
195, tel. 0/xx/11/3095-9400)
Quando: hoje e amanhã, às 21h; dom.,
às 18h
Quanto: R$ 10 a R$ 20
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