São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2008

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Gravadoras passam por época otimista

Lançamentos de discos de "blockbusters", como Beyoncé, devem alavancar as vendas no final do ano

BEN SISARIO
DO "NEW YORK TIMES"

Na semana passada, corria uma piada pela Columbia Records, à medida que a crise financeira se expandia. Ao assistir aos tropeços de gigantes das finanças como o Lehman Brothers e o Merrill Lynch, os executivos das gravadoras estavam enumerando suas vantagens.
"Pelo menos nós estamos na indústria da música", eles diziam, conta Mark Di Dia, o diretor geral da Columbia. Fazia muito tempo que o pessoal da indústria fonográfica não se via como felizardo.
E o humor negro na Columbia destaca o fato de que as vendas de CDs, o produto essencial do setor, atravessam declínio aparentemente inexorável há oito anos. Neste ano, as vendas de CDs já caíram 16% ante o período em 2007, o que vem se somar a uma queda de mais de 36% entre 2000 e 2007.
Mas com a aproximação do quarto trimestre -o período de maior venda para a música-, as gravadoras, o varejo e outros envolvidos no negócio dizem que estão relativamente otimistas ou pelo menos não tão pessimistas quanto costumam.
Há potenciais sucessos a lançar no período, vindos de Beyoncé, AC/DC, Nickelback, T.I, Fall Out Boy, Kenny Chesney. Em dezembro, Kanye West e 50 Cent devem lançar novos álbuns, em intervalo de apenas uma semana; caso isso aconteça, a publicidade gerada pelo duelo de vendas pode ajudar os dois a vender mais discos.
À medida que a economia enfrenta dificuldades, o setor de música espera que um velho truísmo se sustente: por ser uma mercadoria de custo relativamente baixo e dotada de certo valor sentimental, a música em geral resiste a recessões. "Em uma economia desfavorável, as pessoas retornam a formas mais baratas de entretenimento", disse Richard Greenfield, analista de mídia da Pali Research.
"Os CDs se sustentaram bem melhor do que eu esperava, neste ano." Na semana passada, nem todos os males de Wall Street bastaram para manter os consumidores afastados das lojas de discos. O novo álbum do Metallica, "Death Magnetic", da Warner Brothers, vendeu respeitáveis 337 mil cópias em sua segunda semana, e "Year of the Gentleman", do cantor de r&b Ne-Yo, vendeu 250 mil cópias.
As vendas totais para os 200 discos de maior sucesso atingiram os 2,53 milhões de unidades, o total mais alto desde julho, quando Miley Cyrus lançou CD. Mesmo com a ascensão nas vendas de música digital e com o desaparecimento de cadeias de varejo como a Tower Records, que fechou suas 89 lojas nos EUA no final de 2006, as vendas físicas do varejo no quarto trimestre continuam a ser essenciais para as gravadoras.
Mais de um terço das compras de música do ano acontecem no quarto trimestre, segundo a Nielsen SoundScan; a Gallery of Sound, uma cadeia de lojas de discos da Pensilvânia, registra quase metade de seus vendas anuais na temporada de festas, diz Joe Nardone Jr., um dos proprietários. A despeito de sua importância -ou talvez por causa dela- o final do ano se tornou mais caótico para o varejo de música, pois as gravadoras estão alterando os calendários de lançamento de CDs com cada vez menos aviso prévio.
No passado, as datas dos grandes lançamentos eram definidas "por volta de agosto", disse Andrew Gyger, gerente de música do Virgin Entertainment Group. "Agora, já chegamos a setembro, quase a outubro, e ainda existe muita indefinição", ele afirmou, mencionou o recentemente adiamento do álbum do U2, que deveria sair no final do ano. "No caso de uma banda grande como o U2, isso certamente faz diferença em termos de planejamento -a falta de um grande lançamento como esse muda as coisas."
Os varejistas continuam esperando informações sobre o lançamento ou não neste ano de novos álbuns de Dr. Dre, Eminem, Jay-Z e até do Guns 'N Roses, de acordo com boatos que circulam há meses.
Algumas lojas independentes de discos estão desfrutando de vendas relativamente saudáveis, com a morte das grandes cadeias, e diversificaram suas ofertas para vender itens mais lucrativos, como DVDs e roupas. A Newbury Comics, uma cadeia de lojas de música e produtos ligados à cultura pop na Nova Inglaterra, inaugurou duas novas lojas recentemente, e hoje opera 28 unidades. "Quatro anos atrás, em nosso mercado existia uma HMV Superstore, duas Tower Records e depois chegou a Virgin Megastore", disse Mike Dreese, presidente-executivo do grupo. "Agora, todas elas se foram."
Mas grandes cadeias de varejo geral, como o Wal-Mart, ainda respondem por dois terços de todas as vendas de música, e muitas delas continuam a reduzir seu espaço para música. Isso apresenta maior ameaça às vendas do que a economia em declínio, disse Greensfield.
"Quando vai surgir a próxima redução no espaço reservado a CDs nas prateleiras do Wal-Mart, Target, Best Buy e Circuit City?", ele questiona. "Este ano não tivemos cortes, mas isso vai acontecer em algum momento do ano que vem. A questão é determinar quando."
Tradução PAULO MIGLIACCI


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