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Olho grande
Dinheiro de incentivos
e sucessos de bilheteria atraem produtores de Hollywood
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
O mais difícil, para eles, é falar "Se Eu Fosse Você". "Você,
você?", confunde-se o vice-presidente internacional da Paramount, Matt Brodlie. Sua concorrente, Anna Kokourina, diretora da Fox, nem arrisca a
versão brasileira. Mas insiste
que "If I Were You" soou feito
alarme em Los Angeles. "Acordamos para o potencial do mercado brasileiro", diz.
Mais fácil, para eles, é produzir filmes no Brasil sem ter de
mexer no caixa dos estúdios.
"Sem os subsídios, seria difícil
investirmos", admite a executiva da Fox, referindo-se à Lei do
Audiovisual, que permite às
empresas aplicar parte do imposto devido em produções nacionais. "Para colocarmos recursos próprios, tem de ser um
projeto que realmente garanta
o retorno do investimento."
O dinheiro público brasileiro
tem caído como uma luva nos
planos dos estúdios. É que, recentemente, Hollywood decidiu aproximar-se de um segmento historicamente desprezado: o dos filmes locais. "O
market-share dos filmes nacionais está crescendo em vários
países.Temos ficado com porcentagens menores das bilheterias", observa Brodlie. "O que
devemos fazer para manter
nossa participação? Nos envolver nessa porção que está crescendo." Simples assim.
Foi para isso que Brodlie, Kokourina e outra dezena de produtores internacionais vieram
ao Rio Market, encontro de negócios do Festival do Rio. "Estou tentando entender as reais
possibilidades de coprodução
com o Brasil", diz Sergio Aguero, produtor de "E Sua Mãe
Também" e "Sem Reservas".
"Ainda é confuso para mim,
mas percebo que algo está
acontecendo."
"O mundo soube que um filme local ["Se Eu Fosse Você 2']
fez U$ 30 milhões num só território. Isso faz os estúdios pensarem no Brasil como um bom
negócio", constata Walkiria
Barbosa, produtora do blockbuster e organizadora do Rio
Market. Sua empresa fez "High
School Musical", com a Disney,
e terá remakes da comédia de
Daniel Filho na Alemanha, na
Índia e na China.
Outro filme
citado pelos estrangeiros é
"Mulher Invisível", coproduzido pela Warner, que vendeu 2,2
milhões de ingressos. "A Paramount faz "Transformers", "Indiana Jones". Não temos interesse em filmes de autor, mas
em filmes locais que sejam comerciais", diz Brodlie. "Cineastas que fazem filmes porque
amam cinema é uma coisa, indústria é outra", diz.
A Paramount, como a Fox,
decidiu investir nos mercados
locais há pouco mais de um
ano. Sony e Warner fazem parcerias há mais tempo. Todas se
viram obrigadas a reagir a um
fenômeno que se espalhou pelas telas do mundo graças às
novas facilidades de produção
trazidas pela tecnologia e às
ações governamentais destinadas a proteger as indústrias culturais. Na China e na Índia, os
filmes nacionais respondem
por 95% da bilheteria; no Japão, o índice chega a 65%; na
Rússia, na Coreia e na França,
os filmes nacionais ocupam
mais de 40% do mercado.
"É
comum, hoje, que um lançamento como "A Era do Gelo" ou
"X-Men" perca o primeiro lugar
para uma produção local", diz
Kokourina. "Hollywood está
descobrindo que há cinema fora de Los Angeles."
União dos independentes
A força que, mundialmente,
vêm demonstrando os filmes
locais, é um lado da moeda. O
potencial específico do mercado brasileiro é outro. "Vocês
têm uma estrutura de financiamento atraente", diz, do campo
autoral do cinema, a portuguesa Pandora Telles, que tem
duas coproduções com o Brasil
em curso.
"A América Latina é
o lugar onde estão se produzindo as coisas mais interessantes
neste momento", avalia François Sauvagnargues, diretor do
canal franco-alemão Arte, coprodutor de "Mutum" e "Chega
de Saudade". "Há uma energia
nova nesses filmes."
Existem, neste momento, 32
coproduções internacionais
em andamento -incluídas
aquelas em fase de captação.
Em 2008, tinham sido oito. "O
interesse internacional é grande, mas ainda temos dificuldades para completar o orçamento aqui", diz Assunção Hernandez, que toca projetos com Espanha, Angola, Portugal e Polônia. "Se não for criada uma estrutura para atender esse novo
tipo de produção, os estrangeiros podem se decepcionar e,
depois, não voltar mais", alerta.
Cabe lembrar que, no caso das
majors, como o dinheiro é de
imposto, tal risco não existe.
A jornalista ANA PAULA SOUSA viajou a convite do Festival do Rio.
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