São Paulo, terça-feira, 06 de outubro de 2009

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Olho grande

Dinheiro de incentivos e sucessos de bilheteria atraem produtores de Hollywood

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

O mais difícil, para eles, é falar "Se Eu Fosse Você". "Você, você?", confunde-se o vice-presidente internacional da Paramount, Matt Brodlie. Sua concorrente, Anna Kokourina, diretora da Fox, nem arrisca a versão brasileira. Mas insiste que "If I Were You" soou feito alarme em Los Angeles. "Acordamos para o potencial do mercado brasileiro", diz. Mais fácil, para eles, é produzir filmes no Brasil sem ter de mexer no caixa dos estúdios.
"Sem os subsídios, seria difícil investirmos", admite a executiva da Fox, referindo-se à Lei do Audiovisual, que permite às empresas aplicar parte do imposto devido em produções nacionais. "Para colocarmos recursos próprios, tem de ser um projeto que realmente garanta o retorno do investimento."
O dinheiro público brasileiro tem caído como uma luva nos planos dos estúdios. É que, recentemente, Hollywood decidiu aproximar-se de um segmento historicamente desprezado: o dos filmes locais. "O market-share dos filmes nacionais está crescendo em vários países.Temos ficado com porcentagens menores das bilheterias", observa Brodlie. "O que devemos fazer para manter nossa participação? Nos envolver nessa porção que está crescendo." Simples assim.
Foi para isso que Brodlie, Kokourina e outra dezena de produtores internacionais vieram ao Rio Market, encontro de negócios do Festival do Rio. "Estou tentando entender as reais possibilidades de coprodução com o Brasil", diz Sergio Aguero, produtor de "E Sua Mãe Também" e "Sem Reservas".
"Ainda é confuso para mim, mas percebo que algo está acontecendo." "O mundo soube que um filme local ["Se Eu Fosse Você 2'] fez U$ 30 milhões num só território. Isso faz os estúdios pensarem no Brasil como um bom negócio", constata Walkiria Barbosa, produtora do blockbuster e organizadora do Rio Market. Sua empresa fez "High School Musical", com a Disney, e terá remakes da comédia de Daniel Filho na Alemanha, na Índia e na China.
Outro filme citado pelos estrangeiros é "Mulher Invisível", coproduzido pela Warner, que vendeu 2,2 milhões de ingressos. "A Paramount faz "Transformers", "Indiana Jones". Não temos interesse em filmes de autor, mas em filmes locais que sejam comerciais", diz Brodlie. "Cineastas que fazem filmes porque amam cinema é uma coisa, indústria é outra", diz.
A Paramount, como a Fox, decidiu investir nos mercados locais há pouco mais de um ano. Sony e Warner fazem parcerias há mais tempo. Todas se viram obrigadas a reagir a um fenômeno que se espalhou pelas telas do mundo graças às novas facilidades de produção trazidas pela tecnologia e às ações governamentais destinadas a proteger as indústrias culturais. Na China e na Índia, os filmes nacionais respondem por 95% da bilheteria; no Japão, o índice chega a 65%; na Rússia, na Coreia e na França, os filmes nacionais ocupam mais de 40% do mercado.
"É comum, hoje, que um lançamento como "A Era do Gelo" ou "X-Men" perca o primeiro lugar para uma produção local", diz Kokourina. "Hollywood está descobrindo que há cinema fora de Los Angeles."

União dos independentes
A força que, mundialmente, vêm demonstrando os filmes locais, é um lado da moeda. O potencial específico do mercado brasileiro é outro. "Vocês têm uma estrutura de financiamento atraente", diz, do campo autoral do cinema, a portuguesa Pandora Telles, que tem duas coproduções com o Brasil em curso.
"A América Latina é o lugar onde estão se produzindo as coisas mais interessantes neste momento", avalia François Sauvagnargues, diretor do canal franco-alemão Arte, coprodutor de "Mutum" e "Chega de Saudade". "Há uma energia nova nesses filmes."
Existem, neste momento, 32 coproduções internacionais em andamento -incluídas aquelas em fase de captação. Em 2008, tinham sido oito. "O interesse internacional é grande, mas ainda temos dificuldades para completar o orçamento aqui", diz Assunção Hernandez, que toca projetos com Espanha, Angola, Portugal e Polônia. "Se não for criada uma estrutura para atender esse novo tipo de produção, os estrangeiros podem se decepcionar e, depois, não voltar mais", alerta.
Cabe lembrar que, no caso das majors, como o dinheiro é de imposto, tal risco não existe. A jornalista ANA PAULA SOUSA viajou a convite do Festival do Rio.



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