São Paulo, sábado, 06 de novembro de 2004

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"Catatau" é relançado com nova roupagem

MARCELLA FRANCO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Aos órfãos de Paulo Leminski, as boas novas: o "Catatau" está de volta às prateleiras. O regresso do filho pródigo do poeta curitibano acaba com mais de uma década sem este "romance-idéia", lançado originalmente em 1975.
A terceira edição da obra, desta vez impressa pela paranaense Travessa dos Editores, chegou há pouco ao mercado e agora traz, além das mais de 200 páginas, cults desde seu lançamento, um apêndice com tira-gostos como biografia e fotos do escritor, fortuna crítica e um divertido glossário com explicações sobre os neologismos que encharcam o livro.
Não são muitos os volumes na literatura brasileira que carregam na lombada números tão expressivos. Para a sua obra mais importante, Leminski passou, ao todo, oito anos trabalhando em manuscritos que resultaram, na edição original, em 2.000 exemplares. Só a parte final de composição do "Catatau" levou mais de um ano.
"Eu mesma revisava erros de datilografia e fazia o "paste-up". Recortava com estilete e colava pedacinho por pedacinho das correções. Foi um trabalho intenso", lembra Alice Ruiz, viúva do poeta.
Ela conta que "Catatau" começou como um conto, idéia que surgiu durante uma das aulas de história que ele dava em cursinhos de Curitiba. O enredo era muito pouco cartesiano: "abandonar" o filósofo René Descartes (1596-1650) em uma praia do Nordeste brasileiro, ao sabor do sol e do calor dos trópicos, e observá-lo enquanto espera ser resgatado pelo comandante da expedição que o esqueceu, o fictício Krzystof Arciszewski. O nome original do texto, "Descartes com Lentes", fazia referência à luneta que o racionalista empunha durante boa parte da história, em busca, no horizonte do mar deserto, da figura de seu salvador.
Como circulava por quase todas as rodas sociais com os rascunhos debaixo do braço, para exibi-lo aos amigos, Leminski passou a ouvir com freqüência a frase "Lá vem ele com aquele catatau!", e assim foi.
O texto do livro, condensado num parágrafo único, abusa de exercícios literários como trocadilhos, onomatopéias, gírias, falsos ditados e palavras-valise, popularizadas por Lewis Carrol, e que geram, invariavelmente, dois ou mais significados. Com isso, a crítica da época logo comparou o "Catatau" ao "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa, e a "Galáxias", de Haroldo de Campos.
Alice lembra que, quando fazia a obra, ele "se desconectava do mundo". Ela relembra o "acordo" deles. "Paulo sempre voltava às páginas e reescrevia, de novo e de novo. Aí passei a esconder as páginas dele".
Alice é a dona de uma das dedicatórias, assim como os escritores Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, que assina a orelha e a nota de abertura, que sentencia ao leitor uma viagem sem mapas nem guias através do universo delirante deste "romance-idéia" de Paulo Leminski: "Virem-se".


CATATAU. Autor: Paulo Leminski. Edit.: Travessa dos Editores (0/xx/41/ 338-9994). Quanto: R$ 40 (425 págs.)


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