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Ciclo destaca erotismo de diretor japonês
Festival Indie 2008, que começa hoje, exibe seis longas de Koji Wakamatsu
Em cartaz no Cinesesc, mostra reúne 40 títulos ao total, focados nos independentes; filme sobre a banda Sonic Youth é um dos destaques
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Em seu segundo ano em São
Paulo, numa parceria com o Cinesesc, o Indie 2008 - Mostra
de Cinema Mundial, consolida
o perfil de um novo evento na
cidade, depois de sete anos
de existência em Belo Horizonte (MG). De hoje até dia 12, o
festival exibe 40 títulos, focados na produção independente
internacional (veja destaques
nesta página).
Como no ano passado, quando trouxe um ciclo com filmes
do coreano Hong Sang-soo, até
então inédito na cidade, o Indie
dedica em SP uma faixa de sua
programação para um diretor
de pouquíssima circulação, o
japonês Koji Wakamatsu.
Com uma filmografia constituída por quase uma centena de
títulos, Wakamatsu integra
uma seção do cinema nipônico
que apenas especialistas costumam conhecer. Ele é um dos
nomes mais importantes de um
gênero específico, os "pinku eiga", filmes cor-de-rosa ou, em
outras palavras, eróticos, produção que vicejou no Japão a
partir dos anos 60.
Em vez da mera exploração
de cenas de nudez, o cinema de
Wakamatsu recorre à sexualidade e, mais ainda, às perversões sexuais como alegorias políticas focadas em relações de
dominação que refletem de
modo enviesado a submissão
da sociedade japonesa aos norte-americanos após a derrota
no fim da Segunda Guerra.
Os seis títulos que integram o
ciclo "O Cinema Radical: Koji
Wakamatsu" cobrem o período
de 1965 a 2007. Em "Segredos
por Trás das Paredes" (1965),
seu primeiro sucesso de escândalo, um jovem estudante se
distrai espiando as atividades
eróticas de vizinhos. Com a ausência dos pais, ele sai da passividade e inicia uma sucessão de
atos ao mesmo tempo eróticos
e violentos. Além da temática, o
filme já traz o gosto de Wakamatsu por espaços claustrofóbicos, nos quais dá vazão a um
maneirismo gráfico, sua principal marca no período.
Feito no ano seguinte, "O
Embrião Caça em Segredo"
aprofunda a obsessão pelos
vínculos entre sexo e morte,
despertando a admiração de
Nagisa Oshima, que depois realizará a obra-prima do gênero,
"Império dos Sentidos" (1976).
Na dobradinha "Go, Go Second Time Virgin" (1969) e
"Êxtase dos Anjos" (1972), torna-se mais explícita a veia politizada da obra de Wakamatsu,
com filmes em que o sexo é predominante, mas como veículo
de um discurso anarquista, que
proclama a aniquilação da inocência ou projeto de vida coletiva na qual o sexo é transformado em arma terrorista.
Realizado décadas depois,
"United Red Army" (2007) reconstitui a ascensão e queda de
um grupo de estudantes que
defenderam a luta armada no
Japão no fim dos anos 60 e funciona também como revelador
dos ideais revolucionários que
Wakamatsu manteve à tona
sob outros disfarces.
Música, dor e riso
As outras seções que compõem o Indie trazem títulos
que reiteram a crença na independência, seja em modo de
produção, estética, formatos ou
temas. A "Música do Underground" tem como destaque o
documentário "Sonic Youth:
Sonhando Noites Acordadas",
que capta Kim Gordon, Thurston Moore e Lee Ranaldo na
frente e por trás da cena.
No campo das ficções, os norte-americanos "Hannah Take
the Stairs" e "Loren Cass", o
francês "Tudo Perdoado" e o filipino "Quando Eu Era uma
Criança Lá Fora" chegam como
as apostas mais seguras.
Mas há sempre espaço de sobra para quem tem disposição
de descobrir raridades em meio
a obscuridades.
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