São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2008

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Ciclo destaca erotismo de diretor japonês

Festival Indie 2008, que começa hoje, exibe seis longas de Koji Wakamatsu

Em cartaz no Cinesesc, mostra reúne 40 títulos ao total, focados nos independentes; filme sobre a banda Sonic Youth é um dos destaques


CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Em seu segundo ano em São Paulo, numa parceria com o Cinesesc, o Indie 2008 - Mostra de Cinema Mundial, consolida o perfil de um novo evento na cidade, depois de sete anos de existência em Belo Horizonte (MG). De hoje até dia 12, o festival exibe 40 títulos, focados na produção independente internacional (veja destaques nesta página).
Como no ano passado, quando trouxe um ciclo com filmes do coreano Hong Sang-soo, até então inédito na cidade, o Indie dedica em SP uma faixa de sua programação para um diretor de pouquíssima circulação, o japonês Koji Wakamatsu.
Com uma filmografia constituída por quase uma centena de títulos, Wakamatsu integra uma seção do cinema nipônico que apenas especialistas costumam conhecer. Ele é um dos nomes mais importantes de um gênero específico, os "pinku eiga", filmes cor-de-rosa ou, em outras palavras, eróticos, produção que vicejou no Japão a partir dos anos 60.
Em vez da mera exploração de cenas de nudez, o cinema de Wakamatsu recorre à sexualidade e, mais ainda, às perversões sexuais como alegorias políticas focadas em relações de dominação que refletem de modo enviesado a submissão da sociedade japonesa aos norte-americanos após a derrota no fim da Segunda Guerra.
Os seis títulos que integram o ciclo "O Cinema Radical: Koji Wakamatsu" cobrem o período de 1965 a 2007. Em "Segredos por Trás das Paredes" (1965), seu primeiro sucesso de escândalo, um jovem estudante se distrai espiando as atividades eróticas de vizinhos. Com a ausência dos pais, ele sai da passividade e inicia uma sucessão de atos ao mesmo tempo eróticos e violentos. Além da temática, o filme já traz o gosto de Wakamatsu por espaços claustrofóbicos, nos quais dá vazão a um maneirismo gráfico, sua principal marca no período.
Feito no ano seguinte, "O Embrião Caça em Segredo" aprofunda a obsessão pelos vínculos entre sexo e morte, despertando a admiração de Nagisa Oshima, que depois realizará a obra-prima do gênero, "Império dos Sentidos" (1976).
Na dobradinha "Go, Go Second Time Virgin" (1969) e "Êxtase dos Anjos" (1972), torna-se mais explícita a veia politizada da obra de Wakamatsu, com filmes em que o sexo é predominante, mas como veículo de um discurso anarquista, que proclama a aniquilação da inocência ou projeto de vida coletiva na qual o sexo é transformado em arma terrorista.
Realizado décadas depois, "United Red Army" (2007) reconstitui a ascensão e queda de um grupo de estudantes que defenderam a luta armada no Japão no fim dos anos 60 e funciona também como revelador dos ideais revolucionários que Wakamatsu manteve à tona sob outros disfarces.

Música, dor e riso
As outras seções que compõem o Indie trazem títulos que reiteram a crença na independência, seja em modo de produção, estética, formatos ou temas. A "Música do Underground" tem como destaque o documentário "Sonic Youth: Sonhando Noites Acordadas", que capta Kim Gordon, Thurston Moore e Lee Ranaldo na frente e por trás da cena.
No campo das ficções, os norte-americanos "Hannah Take the Stairs" e "Loren Cass", o francês "Tudo Perdoado" e o filipino "Quando Eu Era uma Criança Lá Fora" chegam como as apostas mais seguras.
Mas há sempre espaço de sobra para quem tem disposição de descobrir raridades em meio a obscuridades.


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