|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ação pretende paralisar centro cultural na Luz
Arquitetos questionam falta de licitação do projeto
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de arquitetos ingressa na Justiça na próxima
semana com uma ação popular
que visa paralisar o maior projeto cultural do governo do Estado de São Paulo: a construção
de um centro cultural na Luz,
na região central, a partir de um
projeto dos suíços Herzog & De
Meuron. A dupla ganhou projeção com obras inusitadas como
o Ninho de Pássaro, o estádio
olímpico de Pequim.
Os autores da ação, os arquitetos Rogério Batagliesi e Cesar
Bergstron, alegam que a Secretaria de Cultura não discutiu o
projeto com o rigor e a profundidade que deveria fazê-lo e
que a contratação dos suíços,
sem concorrência ou concurso
público, é ilegal.
O secretário de Cultura, João
Sayad, afirma que a contratação foi dentro da lei (leia texto
ao lado).
O centro cultural, chamado
inicialmente de teatro de dança, está orçado em R$ 311,8 milhões, mas esse valor pode subir, segundo a Secretaria de
Cultura. Os suíços devem receber entre R$ 20 e 26,5 milhões
pelo projeto arquitetônico
-eles ganharam R$ 3 milhões
pelo pré-projeto, revelado pela
Folha em junho último.
Com uma área construída de
95 mil m2, o equivalente a quatro vezes o Pavilhão da Bienal
(25 mil m2), o complexo terá
um teatro de dança e ópera
com 1.750 lugares, outro para
peças e recitais com 600 lugares e uma sala experimental de
400 lugares. Abrigará ainda a
Escola de Música Tom Jobim.
Ficará em frente à Sala São
Paulo, no lugar em que funcionava a antiga rodoviária. O governo dispensou a licitação por
meio de uma figura jurídica
prevista na lei: alegou que os
arquitetos suíços possuem notório saber.
Batagliesi diz que o uso de
notório saber, neste caso, não
faz sentido. "Há dezenas de escritórios de arquitetura, inclusive no Brasil, que têm conhecimento para fazer o projeto. A
Secretaria de Cultura deveria
fazer um concurso internacional, como fez o Rio de Janeiro
para o projeto do MIS [Museu
da Imagem e do Som]."
Bergstron diz que a ação busca corrigir uma ilegalidade: não
houve igualdade de condições
entre os arquitetos que têm interesse pelo projeto.
Os dois dizem não ser contra
a contratação de estrangeiros.
Batagliesi é ligado à Asbea (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) e Bergstron, ao Sinaenco (Sindicato
Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva). A ação popular, porém, será impetrada em nome
deles, não no das entidades.
Decisão imperial
A suposta ilegalidade na contratação de Herzog & De Meuron não é o único problema no
centro cultural planejado para
a Luz, segundo Batagliesi.
Ele reclama que o secretário
de Cultura, João Sayad, tomou
uma "decisão imperial, sem
discutir com ninguém" ao estabelecer que o teatro será na
Luz. "Quem disse que a Luz é a
melhor área para um centro
cultural? Lá já tem a Sala São
Paulo, a Pinacoteca, a Estação
Pinacoteca e o Museu da Língua Portuguesa. Eu acho que
seria melhor fazer algo na Mooca ou na zona leste."
Texto Anterior: Rouanet está parada na Casa Civil Próximo Texto: Outro lado: Para secretário, contratação é legal Índice
|