São Paulo, sexta-feira, 06 de novembro de 2009

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Ação pretende paralisar centro cultural na Luz

Arquitetos questionam falta de licitação do projeto

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de arquitetos ingressa na Justiça na próxima semana com uma ação popular que visa paralisar o maior projeto cultural do governo do Estado de São Paulo: a construção de um centro cultural na Luz, na região central, a partir de um projeto dos suíços Herzog & De Meuron. A dupla ganhou projeção com obras inusitadas como o Ninho de Pássaro, o estádio olímpico de Pequim.
Os autores da ação, os arquitetos Rogério Batagliesi e Cesar Bergstron, alegam que a Secretaria de Cultura não discutiu o projeto com o rigor e a profundidade que deveria fazê-lo e que a contratação dos suíços, sem concorrência ou concurso público, é ilegal.
O secretário de Cultura, João Sayad, afirma que a contratação foi dentro da lei (leia texto ao lado).
O centro cultural, chamado inicialmente de teatro de dança, está orçado em R$ 311,8 milhões, mas esse valor pode subir, segundo a Secretaria de Cultura. Os suíços devem receber entre R$ 20 e 26,5 milhões pelo projeto arquitetônico -eles ganharam R$ 3 milhões pelo pré-projeto, revelado pela Folha em junho último.
Com uma área construída de 95 mil m2, o equivalente a quatro vezes o Pavilhão da Bienal (25 mil m2), o complexo terá um teatro de dança e ópera com 1.750 lugares, outro para peças e recitais com 600 lugares e uma sala experimental de 400 lugares. Abrigará ainda a Escola de Música Tom Jobim. Ficará em frente à Sala São Paulo, no lugar em que funcionava a antiga rodoviária. O governo dispensou a licitação por meio de uma figura jurídica prevista na lei: alegou que os arquitetos suíços possuem notório saber.
Batagliesi diz que o uso de notório saber, neste caso, não faz sentido. "Há dezenas de escritórios de arquitetura, inclusive no Brasil, que têm conhecimento para fazer o projeto. A Secretaria de Cultura deveria fazer um concurso internacional, como fez o Rio de Janeiro para o projeto do MIS [Museu da Imagem e do Som]."
Bergstron diz que a ação busca corrigir uma ilegalidade: não houve igualdade de condições entre os arquitetos que têm interesse pelo projeto.
Os dois dizem não ser contra a contratação de estrangeiros. Batagliesi é ligado à Asbea (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) e Bergstron, ao Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva). A ação popular, porém, será impetrada em nome deles, não no das entidades.

Decisão imperial
A suposta ilegalidade na contratação de Herzog & De Meuron não é o único problema no centro cultural planejado para a Luz, segundo Batagliesi.
Ele reclama que o secretário de Cultura, João Sayad, tomou uma "decisão imperial, sem discutir com ninguém" ao estabelecer que o teatro será na Luz. "Quem disse que a Luz é a melhor área para um centro cultural? Lá já tem a Sala São Paulo, a Pinacoteca, a Estação Pinacoteca e o Museu da Língua Portuguesa. Eu acho que seria melhor fazer algo na Mooca ou na zona leste."


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