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Clássico de Huizinga revela seu fascínio pela época medieval
"O Outono da Idade Média" ganha tradução direta do holandês
LUÍS EBLAK
DE SÃO PAULO
Um dos clássicos da historiografia mundial, "O Outono da Idade Média", lançado
em 1919, chega finalmente ao
Brasil com a tradução feita
do idioma original, o holandês -incluindo o título.
Escrito pelo historiador Johan Huizinga (1872-1945), o
livro é um dos primeiros a
tentar tirar da Idade Média a
fama de ser apenas a "época
da barbárie" e "das trevas".
A nova edição, da Cosac
Naify, vem com 320 imagens
-reproduções de quadros,
tapeçarias, ilustrações de
cronistas da época e xilogravuras-, quase todas coloridas e muitas delas raras. Três
textos compõem o pacote de
"extras", sendo um deles um
ensaio de Peter Burke.
Focado nos séculos 15 e 16,
"O Outono da Idade Média"
faz um estudo sobre as "formas de vida e de pensamento" na França e nos Países
Baixos e a influência desse
período no Renascimento.
Descrito como tímido e formal, Huizinga, ainda universitário, não queria saber de
política nem lia jornais.
"Tinha aversão", escreve
Burke, "por ciência moderna, arte abstrata, cinema, rádio, Marx, capitalismo,
Freud e os EUA" -ou seja,
quase tudo o que acontecia
no século 20.
Apesar disso, acabou preso quando os nazistas invadiram a Holanda. Morreu pouco tempo depois de solto.
Talvez por esse desalento à
sua época, vê-se facilmente
na obra de Huizinga um fascínio pela Idade Média.
Na abertura de "O Outono...", ele se revela impressionado com o cotidiano medieval, dotado de "contornos
mais nítidos do que hoje". O
holandês inaugurou um novo tipo de fazer história
-abordagem que depois seria chamada de história das
mentalidades.
Em vez de usar só documentos "objetivos" e frios
-estatísticas, censos etc-,
buscou fontes na literatura e
nas artes.
Huizinga procura não a
história dos fenômenos "objetivos", mas a da representação deles. Além de textos literários, os pintores Pieter
Bruegel (1525-1569) e os irmãos Van Eyck são algumas
dessas fontes.
Por isso, em vez apenas de
só senhores feudais, escravos e o rigor da Igreja Católica, "O Outono..." fala também de sonhos e amor -algo
incomum para 1919. Não à
toa, a palavra vida está presente em seis dos 22 títulos de
capítulos do livro.
O OUTONO DA IDADE MÉDIA
AUTORA Johan Huizinga
EDITORA Cosac Naify
TRADUÇÃO Francis Petra Janssen
QUANTO R$ 140 (656 págs.)
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