São Paulo, sábado, 06 de novembro de 2010

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Clássico de Huizinga revela seu fascínio pela época medieval

"O Outono da Idade Média" ganha tradução direta do holandês

LUÍS EBLAK
DE SÃO PAULO

Um dos clássicos da historiografia mundial, "O Outono da Idade Média", lançado em 1919, chega finalmente ao Brasil com a tradução feita do idioma original, o holandês -incluindo o título.
Escrito pelo historiador Johan Huizinga (1872-1945), o livro é um dos primeiros a tentar tirar da Idade Média a fama de ser apenas a "época da barbárie" e "das trevas".
A nova edição, da Cosac Naify, vem com 320 imagens -reproduções de quadros, tapeçarias, ilustrações de cronistas da época e xilogravuras-, quase todas coloridas e muitas delas raras. Três textos compõem o pacote de "extras", sendo um deles um ensaio de Peter Burke.
Focado nos séculos 15 e 16, "O Outono da Idade Média" faz um estudo sobre as "formas de vida e de pensamento" na França e nos Países Baixos e a influência desse período no Renascimento.
Descrito como tímido e formal, Huizinga, ainda universitário, não queria saber de política nem lia jornais.
"Tinha aversão", escreve Burke, "por ciência moderna, arte abstrata, cinema, rádio, Marx, capitalismo, Freud e os EUA" -ou seja, quase tudo o que acontecia no século 20.
Apesar disso, acabou preso quando os nazistas invadiram a Holanda. Morreu pouco tempo depois de solto. Talvez por esse desalento à sua época, vê-se facilmente na obra de Huizinga um fascínio pela Idade Média.
Na abertura de "O Outono...", ele se revela impressionado com o cotidiano medieval, dotado de "contornos mais nítidos do que hoje". O holandês inaugurou um novo tipo de fazer história -abordagem que depois seria chamada de história das mentalidades.
Em vez de usar só documentos "objetivos" e frios -estatísticas, censos etc-, buscou fontes na literatura e nas artes.
Huizinga procura não a história dos fenômenos "objetivos", mas a da representação deles. Além de textos literários, os pintores Pieter Bruegel (1525-1569) e os irmãos Van Eyck são algumas dessas fontes.
Por isso, em vez apenas de só senhores feudais, escravos e o rigor da Igreja Católica, "O Outono..." fala também de sonhos e amor -algo incomum para 1919. Não à toa, a palavra vida está presente em seis dos 22 títulos de capítulos do livro.

O OUTONO DA IDADE MÉDIA

AUTORA Johan Huizinga
EDITORA Cosac Naify
TRADUÇÃO Francis Petra Janssen
QUANTO R$ 140 (656 págs.)


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