São Paulo, quarta-feira, 06 de dezembro de 2000

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CINEMA

Mostra no Centro Cultural São Paulo tem uma programação com produções do pós-guerra dos diretores japoneses

Ozu e Mizoguchi dão lição de cinema em SP

LÚCIA NAGIB
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Já se foram os tempos em que os jovens críticos e cineastas aspirantes dos Cahiers du Cinéma (entre eles, Godard, Rivette e Rohmer) brigavam para sobrepor o "realismo" de Mizoguchi ao "americanismo" de Kurosawa. Hoje ninguém discute a genialidade de ambos, e tornou-se supérfluo discutir se Mizoguchi era mais "realista" ou menos "americano" que Kurosawa.
Também já está esquecida a reivindicação, que outrora inflamou produtores e distribuidores japoneses, de que Ozu seria "o mais japonês dos cineastas" e, por isso, incompreensível para o resto do mundo.
Hoje ninguém discute a universalidade de Ozu, e sua presença é obrigatória no panteão dos maiores cineastas do mundo.
A mostra "O Japão de Mizoguchi e Ozu", realizada com o apoio do Consulado Geral do Japão e da Fundação Japão, no Centro Cultural São Paulo, é, portanto, uma oportunidade para o espectador contemporâneo conferir, com a isenção que a distância no tempo proporciona, as características de dois dos cineastas japoneses que revolucionaram a história do cinema.

Pós-guerra
Tanto Ozu como Mizoguchi têm enorme produção, estendendo-se dos anos 20 aos 60, mas quase todos os títulos incluídos na mostra são do pós-guerra, com exceção de "Filho Único", de Ozu, de 1936.
Trata-se da fase que alguns críticos, como Noël Burch, consideram "menor", por ter ocorrido um "aburguesamento" da temática e do estilo dos cineastas. Não sou dessa opinião. Após a guerra, Ozu e Mizoguchi fizeram algumas de suas grandes obras-primas, como "Pai e Filha" e "Era uma Vez em Tóquio" (Ozu) e "Contos da Luz Vaga Depois da Chuva" e "O-Haru - Vida de uma Cortesã" (Mizoguchi).
Mas não há dúvida de que tema e forma mudaram, em consonância com a evolução social e política do mundo. Ozu progressivamente deixou de lado a dura vida do operariado, como a mãe tecelã de "Filho Único", passando a retratar a classe média ("Pai e Filha", 1949) e chegando ao novo empresariado japonês ("A Rotina Tem Seu Encanto", 1962), seu último filme.
São, porém, mudanças de superfície. Embora o preto-e-branco dê lugar a um colorido vivo, o rigor do passado apenas se acentua: a câmera se imobiliza por completo, no famoso plano-tatami (a câmera colocada na altura dos personagens sentados no chão), e as histórias giram, como antes, em torno de filhos que não querem se casar para não deixar o pai ou a mãe sós.
Quanto a Mizoguchi, o luxo das grandes produções (como "A Nova Saga do Clã Taira", 1955) substitui os filmes de engajamento social ("puro-ide", ou de "ideologia proletária") do passado. Os "jidaigeki", ou dramas históricos, proliferam em obras deslumbrantes como o insuperável "Contos da Lua Vaga" (1953), em que um pobre ceramista vive o sonho do luxo aristocrático ao lado de uma princesa-fantasma. Mas, ainda, o tema da prostituta-santa, especialidade mizoguchiana desde o cinema silencioso, permanece em dramas como "O-Haru - Vida de uma Cortesã" (1952).
Apontar o melhor dentre esses títulos é tarefa impossível. Cada um deles é uma verdadeira lição de cinema.

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