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CONFERÊNCIA
Paul Gilroy, autor do elogiado "Atlântico Negro", explica, a partir da música, a expansão das culturas negras
Inglês traz a SP a cultura "transatlântica"
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Muito antes do nascimento do
termo globalização, muito antes
da internet, antes mesmo da televisão, uma ampla rede conectava
discretamente os principais pólos
culturais do planeta: a música.
Um dos principais sociólogos
da cultura em atividade, o inglês
Paul Gilroy, 45, está no Brasil para
narrar a formação desse entrelaçado de sons e para explicar como
o desenvolvimento dessa trama
pode elucidar o entendimento da
dinâmica de outros processos culturais mais complexos.
Autor de um dos grandes livros
já publicados na área de estudos
culturais, "Atlântico Negro", recentemente lançado no país pela
editora 34, o sociólogo é convidado da segunda edição do projeto
"MPB-BPM (música popular brasileira + british popular music)".
Promovido pelo British Council, o evento que trouxe ao país em
abril deste ano a banda anglo-paquistanesa Asian Dub Foundation convidou, além do sociólogo,
uma dupla de pesos-pesados das
pick-ups, o DJ inglês Norman Jay
e o "internacional" brasileiro
Marky (leia texto abaixo).
O próprio Gilroy, que também
já atacou de guitarrista e de DJ no
passado, trouxe seus vinis na bagagem. Para ilustrar sua conferência "O Atlântico Negro: Música, Cultura e Identidades", o sociólogo apresentará uma seleção
da música produzida pelos negros ingleses entre o começo dos
anos 70 e hoje.
"As transformações da música
britânica ajudam a entender a
idéia de que existe uma cultura
que não é especificamente africana, americana, caribenha ou britânica, mas todas elas ao mesmo
tempo. É a cultura do Atlântico
Negro, que vai além de quesitos
étnicos ou nacionais", diz Gilroy à
Folha, por telefone.
Se o conceito de cultura costuma estar atrelado a palavras como
terra (daí a palavra cultivo para as
plantações), ao debate de culturas
nacionais de determinados territórios, o sociólogo traz a discussão para o oceano.
"Atlântico Negro", o livro e a
conferência, deixa de lado a busca
pelas "raízes" dos negros, marca
constante dos estudos culturais.
Para Gilroy, mais importante é
entender a "diáspora". "Quero
explorar como as culturas podem
viajar e se mesclar. Mistura não é
perda de pureza, é um princípio
de crescimento que ajudou a formar o mundo moderno", opina.
A música seria um dos melhores exemplos. "Ela nos ensina
uma lição. Música não é propriedade de ninguém. Culturas interagem, se combinam, e ninguém
pode se apropriar delas", diz Gilroy, que fez conferência ontem na
Universidade Cândido Mendes,
no Rio, e que fala amanhã no Centro de Estudos Afro-Orientais, em
Salvador.
PALESTRA DE PAUL GILROY. Quando:
hoje, às 18h. Onde: Centro Brasileiro
Britânico (r. Ferreira de Araújo, 741, tel.
0/xx/11/3038-6944, São Paulo). Quanto:
grátis. Patrocinador: British Council.
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