São Paulo, quinta-feira, 06 de dezembro de 2001

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CONFERÊNCIA

Paul Gilroy, autor do elogiado "Atlântico Negro", explica, a partir da música, a expansão das culturas negras

Inglês traz a SP a cultura "transatlântica"

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Muito antes do nascimento do termo globalização, muito antes da internet, antes mesmo da televisão, uma ampla rede conectava discretamente os principais pólos culturais do planeta: a música.
Um dos principais sociólogos da cultura em atividade, o inglês Paul Gilroy, 45, está no Brasil para narrar a formação desse entrelaçado de sons e para explicar como o desenvolvimento dessa trama pode elucidar o entendimento da dinâmica de outros processos culturais mais complexos.
Autor de um dos grandes livros já publicados na área de estudos culturais, "Atlântico Negro", recentemente lançado no país pela editora 34, o sociólogo é convidado da segunda edição do projeto "MPB-BPM (música popular brasileira + british popular music)".
Promovido pelo British Council, o evento que trouxe ao país em abril deste ano a banda anglo-paquistanesa Asian Dub Foundation convidou, além do sociólogo, uma dupla de pesos-pesados das pick-ups, o DJ inglês Norman Jay e o "internacional" brasileiro Marky (leia texto abaixo).
O próprio Gilroy, que também já atacou de guitarrista e de DJ no passado, trouxe seus vinis na bagagem. Para ilustrar sua conferência "O Atlântico Negro: Música, Cultura e Identidades", o sociólogo apresentará uma seleção da música produzida pelos negros ingleses entre o começo dos anos 70 e hoje.
"As transformações da música britânica ajudam a entender a idéia de que existe uma cultura que não é especificamente africana, americana, caribenha ou britânica, mas todas elas ao mesmo tempo. É a cultura do Atlântico Negro, que vai além de quesitos étnicos ou nacionais", diz Gilroy à Folha, por telefone.
Se o conceito de cultura costuma estar atrelado a palavras como terra (daí a palavra cultivo para as plantações), ao debate de culturas nacionais de determinados territórios, o sociólogo traz a discussão para o oceano.
"Atlântico Negro", o livro e a conferência, deixa de lado a busca pelas "raízes" dos negros, marca constante dos estudos culturais. Para Gilroy, mais importante é entender a "diáspora". "Quero explorar como as culturas podem viajar e se mesclar. Mistura não é perda de pureza, é um princípio de crescimento que ajudou a formar o mundo moderno", opina.
A música seria um dos melhores exemplos. "Ela nos ensina uma lição. Música não é propriedade de ninguém. Culturas interagem, se combinam, e ninguém pode se apropriar delas", diz Gilroy, que fez conferência ontem na Universidade Cândido Mendes, no Rio, e que fala amanhã no Centro de Estudos Afro-Orientais, em Salvador.


PALESTRA DE PAUL GILROY. Quando: hoje, às 18h. Onde: Centro Brasileiro Britânico (r. Ferreira de Araújo, 741, tel. 0/xx/11/3038-6944, São Paulo). Quanto: grátis. Patrocinador: British Council.



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